Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Região Norte

Festival Taguatinga 2020 - Mostra Seleção Popular

Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Região Norte

Como dito na Apostila 15º Festival Taguatinga de Cinema, a Mostra Seleção Popular trouxe a oportunidade de assistirmos a 445 curtas-metragens, de todos os Estados do Brasil, exceto o Acre. A ideia da Apostila de Cinema é prestigiar todos e trazer algumas palavras de cada um deles, entendendo que talvez não seja possível. Começamos com a Mostra Seleção Popular | Região Norte. Optamos por realizar o recorte territorial, com textos que contemplem entre quinze e quarenta obras, fazendo remissão a todos em nosso Índice Geral de Filmes (onde vocês podem encontrar todas as produções com textos em nossa página de A a Z).

Para iniciar essa viagem apresentamos os dezenove curtas-metragens da região Norte, que traz três obras do Amapá, sete do Amazonas, três do Pará, quatro de Roraima, uma de Rondônia e uma de Tocantins. Segue um índice por ordem alfabética dos Estados e acesso aos nossos textos, lembrando que o Acre não teve representantes candidatos, infelizmente. A votação para o melhor curta fica aberta na página oficial do Festival Taguatinga até o final do mês de agosto.


Índice de Filmes
(clique nos nomes para ser direcionado à sua parte do texto)

Amapá
(3 produções)

Açaí
Breve Vida de um Gênio, A
De Domingo a Domingo

Amazonas
(7 produções)

Açaí: Minha Terra, Meu Sustento
Caboclos Ribeirinhos
Caminho da Escola, O
Caso Tucumã, O
História Simples
Projeto Arte e Comunicação 3a Idade – Relatos e Experiências
Zico, o Jabuti

Pará
(3 produções)

Filho do Homem, O
Minguante
Rock in Roça – O Filme

Rondônia
(4 produções)

Arte para Quê?
Falar Nós, É Mole – Ser Nós é Diferente!
Medo das Árvores, O
[Praia do Futuro]

Roraima
(1 produção)

Amazônia (s)

Tocantins
(1 produção)

Rexistir

Ficha Técnica dos Filmes da Mostra Seleção Popular – Região Norte


Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Região Norte

Açaí
(André Cantuária, 2020)

Mostra Seleção Popular Região Norte Açaí

Açaí“, de André Cantuária nos leva à casa de Dionlenon, no bairro de Novo Horizonte, o segundo mais populoso de Macapá. A narrativa usa uma premissa comum, mas cada vez menos vista nas seleções dos festivais de curta: a construção de um pequeno épico a partir de um fragmento do cotidiano. No caso, o protagonista acordar em uma sexta-feira quente em sua casa e desperta de sua madorna ao ler um recado de sua mãe na porta da geladeira: hoje é dia de açaí! Só que ele precisa se apressar e comprar o produto, já que ela está ocupada. Trata-se de uma corrida contra o tempo em que o deus ex machina talvez não seja o suficiente.

A partir daí Cantuária, com muito bom humor, conta uma história de idas e vindas pelas ruas de Novo Horizonte. O sol quente pode confundir a cabeça do nosso herói, que encontrará alguns obstáculos no caminho para conseguir realizar o intento dele e sua mãe: tomar um gostoso açaí para começar o final de semana. Ritmo equilibrado, bom timing de comédia e uma presença carismática de Joca Monteiro no papel principal. Uma forma leve e muito divertida de começar nossa viagem online pelos quatro cantos do Brasil.

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Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Região Norte

A Breve Vida de um Gênio
(Dominique Allan, 2020)

Breve Vida de Um Gênio

Já “A Breve Vida de um Gênio” de Dominique Allan segue um caminho mais introspectivo e, confesso, me tocou bastante. Inspirado na vida do matemático William James Sidis, gênio precoce que morreu tentando se isolar da sociedade, o curta-metragem toca na ferida de uma geração que foi criada no sonho meritocrático, onde o sucesso era uma certeza – questão apenas de onde e quando.

Com menos de seis minutos, o filme faz um caminho pela infância do protagonista. De início, fotografias mostram como, ainda bem pequeno, a criança era tratada como um ser especial. Brinquedos matemáticos, tabuleiro de xadrez, o diploma orgulhosamente pregado na parede. A precocidade de um gênio por vezes é falsamente atestada, sim. Em outros casos elevamos pessoas incrivelmente comuns – a parcela maior e mais interessante da nossa sociedade – a um mundo de expectativas, que na grande parte das vezes será frustrada.

Quando somos colocados no mundo real do personagem, preso em suas próprias escolhas e se comparando ao topo da pirâmide bem-sucedida de seus pares, percebemos como “A Breve Vida de um Gênio” pode, por vezes, não ser tão breve – e também não ser de um gênio propriamente dito. Estamos em um momento crucial de nossa existência, onde uma comunidade extremamente frustrada com a pós-modernidade que não chegou, se volta a novos placebos de sucesso. Todos nós produzimos conteúdo, somos professores, tutores, influenciadores. William dentro do seu quarto apenas troca as telas de plasma pelo saudoso papel. Mas o caminho da tragédia é exatamente o mesmo.

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Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Região Norte

De Domingo a Domingo
(Marcus Vinícius de Oliveira, 2018)

de domingo a domingo

O filme faz parte da Sessão 06 da Mostra Competitiva. O texto será adicionado quando ela for ao ar.

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Açaí: Minha Terra, Meu Sustento
(Orange Cavalcante da Silva e Romeu Pereira, 2018)

Mostra Seleção Popular Região Norte Açaí Minha Terra

Açaí: Minha Terra, Meu Sustento” de Orange Cavalcante da Silva e Romeu Pereira, abre as produções selecionadas pelo Estado do Amazonas. Com apenas sete minutos, trata-se de um curta-metragem de observação, que documenta o processo de preparação do vinho de açaí. Das dificuldades de se colher o açaí do mato do alto das árvores até a degustação que gratifica a conclusão de um extenso dia de trabalho, a direção se pauta na captação dos sons da natureza e do ofício ali desprendido – mesmo que prejudique o entendimento do que foi dito. Duas gerações de uma família ribeirinha da terra indígena Barreira da Missão, situada no município de Tefé – dentro da Amazônia Legal. É o primeiro das quatro obras co-dirigidas por Orange na Mostra Seleção Popular do Festival Taguatinga de Cinema.

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Caboclos Ribeirinhos
(Orange Cavalcante da Silva e Romeu Pereira, 2018)

Caboclos Ribeirinhos

A mesma família do curta-metragem anterior reaparece em “Caboclos Ribeirinhos“, também dirigido pela dupla Orange Cavalcante da Silva e Romeu Pereira. Apesar da sinopse dar a entender uma predileção pelo protagonismo de Kelvin, tanto seu irmão Riquelme quanto o pai Francisco dividem as ações. É mais uma obra documental de observação, agora com a chegada da família de uma pesca pelo rio Solimões e a preparação da refeição, desde a limpeza dos peixes até a chegada à mesa. Os diretores transitam entre os planos-detalhes dos animais em cozimento, com alguns que fatalmente se tornarão comida no futuro (galinhas) e outros culturalmente vistos como domésticos (cachorro e gato). Há, portanto, mais uma camada – a de comunhão com outros seres, cada qual teoricamente cumprindo suas funções.

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O Caminho da Escola
(Orange Cavalcante da Silva e Paula Cristina Pinheiro, 2018)

Curta O Caminho da Escola

O Caminho da Escola” é o terceiro curta-metragem de Orange Cavalcante da Silva, desta vez dirigido ao lado de Paula Cristina Pinheiro. Quase como uma ampliação do microcosmo familiar das duas outras obras já citadas, o filme traz o trânsito diário de alunos e professores para uma escola dentro da comunidade ribeirinha de Bacuri. Assim como as outras produções, foi feita em parceria com o município de Tefé. Em conjunto, trazem um fragmento de Brasil nas entranhas da Amazônia. Aqui as captações são mais abertas e a quantidade de imagens bem maior, o que permite uma caracterização mais eficiente do que se quer retratar. Há uma narração dos professores um pouco engessada, que deixa um ar mais próximo de um vídeo institucional. Mesmo assim, cumpre seu intento de retratar todos os obstáculos necessários para conseguir conquistar (e fornecer) educação.

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O Caso Tucumã
(Bruno Pereira, 2019)

Curta O Caso Tucumã

O Caso Tucumã” é um projeto coletivo, feito pelos alunos da Oficina de Produção Audiovisual do Museu Amazônico, administrado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Um projeto ativo desde 2018 e liderado, no caso deste obra, pelo cineasta Bruno Pereira – que o roteirizou e dirigiu. Usando o noir como linguagem (ainda que não totalmente como estética), traz uma narrativa conduzida pelo tucumã, fruta muito comum na região norte do Brasil. Amador na origem, o curta-metragem se vale do museu citado como locação e de figurino de produção profissional para enriquecer seu ambiente. No fim, possui uma trama curiosa – de abordagens – e que termina por ser bem divertida. Sua participação na Mostra Popular é uma relevante chancela para esse importante projeto de formação básica audiovisual.

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História Simples
(Geliel Soares Carvalho e Jhon Erick de Andrade, 2019)

História Simples

Também oriundo de um projeto, o Cinema e Identidade através do programa Viva Tefé, “História Simples” ganha ainda mais destaque no Festival Taguatinga de Cinema por ser uma das duas obras a fazer parte da Mostra Infantil. Totalmente realizado pelo jovens alunos, se inicia com a intenção de ser uma obra de observação e segue para uma narrativa de contação de história que se transforma em um filme de perseguição. Simples o próprio título já revela ser, mas os novíssimos realizadores não se furtaram de testar todos os posicionamentos de câmera, enquadramentos, modalidades de montagem, maquiagens e uso de som e trilha. Se encerra ao som da banda Raízes Caboclas, com quase trinta anos de estrada divulgando a música do Amazonas.

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Projeto Arte e Comunicação 3ra Idade – Relatos e Experiências
(Orange Cavalcante da Silva e Geliel Carvalho, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte 3a Idade

Encerrando o ciclo de curtas-metragens dirigidos por Orange Cavalcante da Silva (aqui em parceria com Geliel Carvalho), “Projeto Arte e Comunicação 3ra Idade – Relatos e Experiências” é o mais próximo de um vídeo institucional dentre todas as parcerias de Orange submetidas ao Festival Taguatinga. Em formato de documentário tradicional, colhe depoimentos e mostra a rotina de um grupo de idosos no Projeto Arte e Comunicação, da Prefeitura de Tefé. Fala do uso do cinema e do ensino da linguagem audiovisual como ferramenta de sociabilidade e interação na terceira idade – e de ajuda no combate à depressão. Estica um pouco a corda na linha divisória entre obra de propaganda, mas ainda assim fundamental para nos trazer um importante projeto do Estado do Amazonas.

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Zico, o Jabuti
(Jimmy Christian, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Zico

Zico, O Jabuti” de Jimmy Christian termina o ciclo de obras do Amazonas trazendo uma narrativa simples, de Zeca, um homem que herda um jabuti da tia. Alcoólatra e vivendo com pouca perspectiva, o protagonista vai revelando uma predileção por poemas de Charles Baudelaire e vê na oportunidade de ter outro ser sob sua responsabilidade uma dádiva. Mas as dificuldades de sua vida, como a falta de trabalho e a fome, acabam por motivá-lo a vender Zico, momento em que chega a comparar o animal a uma cruz deixada pela tia. A câmera de Christian flana bastante, um trabalho interessante de inquietude, mas que nem sempre tem uma execução que se coaduna com o que é mostrado. Faz mais sentido quando Zeca ganha outros espaços por Manaus. A primeira metade do curta-metragem se passa toda dentro da casa, onde Janer José interpreta em monólogo. A falta de convicção, a imprecisão de comportamento do protagonista tornam um pouco confusa a ideia que se quer passar na obra, algo que fica entre o torpor e o deboche.

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Filho do Homem, O
(Fillipe Rodrigues, 2020)

O Filho do Homem

Tristeza, desespero, euforia. A multiplicidade de sentimentos demonstrados pelo ator Leoci Medeiros torna “O Filho do Homem” um curta-metragem muito instigante. Feito como trabalho de conclusão do curso de graduação em Cinema da Universidade Federal do Pará (UFPA) do jovem realizador Filipe Rodrigues, a obra traz – em montagem de cronologia não linear, a relação entre o homem e um velho, interpretado por Paulo Rocha. Moradores da mesma casa, este morre e aquele – por um período de tempo que não sabemos – vela seu corpo. Momentos relembrados e idealizados, o medo da solidão, o alívio da morte. Muita coisa se passa na cabeça do protagonista e em menos de dez minutos, Rodrigues consegue transitar por vários mundos em que aquele homem habita sem sair fisicamente do lugar.

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Minguante
(Maurício Moraes, 2020)

Mostra Seleção Popular Região Norte Minguante

Outro representante do Estado do Pará resultado de um trabalho de conclusão de curso da mesma instituição é “Minguante“, que nos leva ao bar Zodíacos. O local explorado pelo cineasta Maurício Moraes representa onde uma juventude “despadronizada”, libertária e plural se entretém à noite. Um ambiente de descobertas que tende a não sumir tão cedo – e que nosso momento de isolamento social nos deixa tão carentes. O diretor passa quase a primeira metade do curta-metragem explorando um plano-sequência que não se mantém. Ao mesmo tempo que cria um ambiente de incerteza do personagem ali retratado, engessa um pouco a obra – que tem na sua introdução muito da efervescência de bares tão parecidos com o Zodíacos. Sua conclusão retoma essa abordagem de idas e vindas, de espaço de transição funcionando como um espelho para a sequência inicial. Um filme que nos traz assuntos pela metade e dilemas quase nunca solucionados, como uma boa noitada geralmente o faz.

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Rock in Roça – O Filme
(Ivan Oliveira, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Rock in Roça

Último representante do Pará, “Rock In Roça – O Filme“, de Ivan Oliveira, é um documentário-registro que faz falta em um país que adora apagar sua memória e diminuir seus próprios feitos. O cineasta acompanha a quinta edição de um festival independente realizado em uma propriedade rural de criação de búfalos perto de Parauapebas. O que se iniciou com uma produção entre amigos, fãs de rock, foi trançando suas parcerias para se aproximar de outras questões ligadas àquele território, como a cultural local, o artesanato e o meio ambiente. Utiliza depoimentos, cenas do evento e captação de imagens por drones, com uma linguagem muito próxima da jornalística. Uma tentativa de dar publicidade ao Rock In Roça e atrair novos e mais potentes investidores, ampliando sua relevância na agenda regional. Curioso à primeira vista, de fluidez agradável, nos transporta para uma data criada em um calendário regional que cumpre vários objetivos e funções sociais dentro de uma comunidade.

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Arte para quê?
(Joesér Alvarez e Ariana Boaventura, 2019)

Curta Arte para que

Com os inconfundíveis acordes da introdução de “Comida” dos Titãs, “Arte para Quê” o primeiro representante de Rondônia (três dos quatro dirigidos por de Joesér Alvarez e Ariana Boaventura do Coletivo Madeirista, na ativa desde 2001) se propõe reunir, em menos de dez minutos, a maior quantidade possível de artistas, realizadores, produtores, agitadores profissionais e amadores que têm em comum uma missão: ampliar o alcance da arte na sociedade. É quase como um grito, como se uma comunidade forte respondesse aqueles que reagem desautorizando as manifestações artísticas, materializadas pela construção coletiva “Colapsar” – selecionada para a Mostra Competitiva do Festival de Taguatinga. A montagem não se preocupa com repetições, muitos respondem que “arte é vida” e que a arte existe “para viver”. Não faria sentido eleger, escolher alguns depoentes para simbolizar ou representar qualquer coisa. Porque a arte é democrática, ilimitada, dá voz a todos. Em um momento tão delicado, de tanto ataque à cultura, dá vontade de abraçar cada um daqueles que aparecem na tela ao longo do curta-metragem.

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Falar Nós, é Mole – Ser Nós é Diferente!
(Joeser Alvarez e Ariana Boaventura, 2020)

Mostra Seleção Popular Região Norte Falar Nós

O segundo filme de Joesér Alvarez e Ariana Boaventura é “Falar Nós, é Mole – Ser Nós é Diferente!“. Uma experiência por eles vivida em uma rua do Centro do Rio de Janeiro. Usando um celular, aplicando filtros e elementos estéticos tal qual uma HQ (chamado animadoc), o curta-metragem é uma conversa com um senhor de 58 anos em situação de rua desde os doze. Dividindo suas vivências, desde risco reais de morte ao encontro com um lobisomem, o homem tenta ajudar um pombo, extremamente debilitado. Vai diretamente de encontro a invisibilidade dessas pessoas.

Relembrando uma conversa na gravação do Apostila Festivais sobre a Mostra Convida do Festival de Taguatinga, ao conversamos sobre “Carroça21” lembramos como os catadores de lixo conquistam um conhecimento e uma relação com a rua que nós, na segurança dos nossos lares, nunca entenderemos. A falta de receptividade – principalmente do olhar – é ainda maior para aqueles que apenas pedem. O homem narra as dificuldades de se manter fora da rotina de pequenos furtos e nos traz sua filosofia de vida e, principalmente, suas interações.

Conta com a fé em Ogum, é filho de Oxossi e guarda rezas de Santo Expedito na bolsa, um sincretismo religioso que a América Latina construiu ao longo dos séculos. Divide seus bens, seus espaços, entre sagrado e profano. Seguindo um caminho bem diferente da produção anterior, “Falar Nós, é Mole – Ser Nós é Diferente!” é uma das melhores obras do recorte da região Norte dentro da Mostra Seleção Popular.

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O Medo das Árvores
(Édier William Medeiros da Silva, 2020)

O Medo das Árvores

Selecionado para o projeto Rumos do Itaú Cultural, “O Medo das Árvores” de Édier William Medeiros da Silva transporta para um documentário tradicional a poesia e o pragmatismo alinhados na produção de um novo espetáculo teatral. Os ensaios, as composições cênicas e sonoras, partindo da preocupação em trazer os elementos regionais e uma construção que perpassa pela questão do feminino. O cineasta aborda, entre transições poéticas, as dificuldades de ser financiado e produzir na região amazônica, tão estereotipada e pouco cuidada. É visível a emoção de quem quer levar a arte àquela sociedade.

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[Praia do Futuro]
(Joesér Alvarez e Ariana Boaventura, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Praia do Futuro

As produções de Rondônia se encerram com “[Praia do Futuro]“, a terceira de Joesér Alvarez e Ariana Boaventura. Esta talvez seja a obra que resuma de maneira mais clara e direta o Brasil em processo de destruição inaugurado com o golpe antidemocrático de 2016 e que encontra seu auge (com a fé de que nada seja pior do que isso) com a eleição de Jair Bolsonaro de 2018. Usando a técnica de filmar com o celular, com pouco mais de três minutos, o curta-metragem experimental escreve nas areias da praia do futuro – com filtros de imagem e trilhas fantasmagóricas – as conquistas sociais que estamos perdendo (aqueles listados pelo Coletivo Madeirista no dia da gravação, em março de 2019). Não há como se dar um recado mais direto do que esse. Três obras da dupla de cineastas bem diferentes entre si, mas que denotam um desejo de experimentar e de realizar notável. Esperamos ver outras produções do Coletivo, Joéser e Ariane no futuro próximo. Suas inquietações vêm rendendo obras bem curiosas.

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Amazônia(s)
(Éder Rodrigues dos Santos, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Amazonias

O único curta-metragem do Estado de Roraima é bem representativo. Feito em parceria com uma televisão local e setores da Universidade Federal de Roraima, “Amazônia(s)” de Éder Rodrigues dos Santos, com uma montagem rápida e dinâmica, nos mostra o quão pouco sabemos sobre a região. Se inicia na USP (Universidade de São Paulo) para abordar a importância dos estudos acadêmicos relacionados à territorialidade para dar conta da multiplicidade de culturas da área. A multiplicidade também é identificada pelo lado da destruição, do gado, da soja e da madeira.

Conforme a obra vai avançando, ficamos mais próximos de uma cobertura de evento, da colheita de entrevistas – editadas com captações de imagens da Amazônia. Os professores são bem informativos nas suas colocações, mas se valem de uma linguagem acadêmica que talvez não supra a carência de reverberação de suas mensagens. A participação de Secretários de Estado podem acabar adicionando um prazo de validade ao filme, em virtude de possíveis disputas políticas futuras.

Mesmo assim, não deixa de ser feito sob medida para fomentar debates e a linguagem de filmes de curta duração permite que uma obra como “Amazônia(s)” se valha para diversos públicos e ambientes. Fica a torcida para que a produção ocupe espaços importantes na sociedade e cumpra sua missão tão nobre.

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Rexistir
(Tim Evangelista, 2018)

Mostra Seleção Popular Região Norte Rexistir

Encerrando nossa viagem pela Mostra Seleção Popular – Região Norte, o representante do Tocantins é “Rexistir“, de Tim Evangelista. O cineasta se infiltra em um evento esportivo que reúne etnias indígenas de vários países para, de acordo com suas palavras na sinopse, buscar “o verdadeiro índio da modernidade”. Há uma sensação de que a obra angariaria mais adeptos para compreender, mediante depoimentos, o que se propôs.

Há observações pela câmera desconexas, uma mistura de inquietação e deslumbre. Tudo isso faz sentido no meio do curta-metragem, em uma fala de uma mulher que denuncia a desorganização e uma tentativa de “exotizar” um evento pensado para reforças laços e debater as representações e reivindicações necessárias. O que parecia ser uma tentativa frustrada de documentação, ganha uma fala potente para entregar uma obra que nos mostra que – apesar das políticas públicas de desmonte e destruição dos espaços indígenas – seguem a utilização de causas e bandeiras para proveito próprio, politização e provável corrupção. Uma depoimento forte, que vai se esvaindo com a diminuição da luz natural. E termina, sem créditos, sem despedida. Como um baque. Uma maneira potente de encerrar os dezenove selecionados da região norte do país.

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Ficha Técnica dos Filmes da Mostra Seleção Popular – Região Norte

Açaí (André Cantuária, 18′ – 2020, Amapá)
Sinopse: O curta “Açaí” conta a saga de Dionlenon, um homem de 30 anos que está acostumado com a vida que leva ao lado da mãe, com quem mora numa periferia de Macapá. Ele sai em busca de dois litros de açaí para almoçar, mas não conta com uma viagem tão distante assim. A predileção pelo açaí, é o prato principal da mesa do amapaense, retratada de maneira cômica, destacando a enorme importância que o produto tem dentro da cultura local.
Breve Vida de um Gênio, A (Dominique Allan, 6′ – 2020, Amapá)
Sinopse: Desde criança, Willian demostrou uma inteligência muito acima da média. Todos, ele próprio, acreditaram que seu futuro seria brilhante, até o futuro, finalmente, chegar.
De Domingo a Domingo (Marcus Vinícius de Oliveira, 14′ – 2018, Amapá)
Sinopse: A poesia no dia a dia de Domingos Gomes, um horticultor agroecológico que conduz o mundo das plantas com muita sabedoria, dedicação e cuidado, no interior da amazônia.
Açaí: Minha Terra, Meu Sustento (Orange Cavalcante da Silva e Romeu Pereira; 7′ – 2018, Amazonas)
Sinopse: O açaí é uma fruta típica da região Norte do Brasil, no qual serve para a alimentação da população ribeirinha. Este documentário narra de forma contemplativa a preparação do vinho do açaí de maneira artesanal, através de uma família ribeirinha da comunidade da barreira das missões, no interior do Amazonas.
Caboclos Ribeirinhos (Orange Cavalcante da Silva e Romeu Pereira, 7′ – 2018, Amazonas)
Sinopse: Caboclos Ribeirinhos é um documentário que narra a vida de Kelvin, um adolescente pescador de 14 anos, que mora nas beiradas do rio Solimões juntamente com seu irmão e seu pai, Francisco. Mostra sua forma de vida no qual usa da pesca para o seu sustento.
Caminho da Escola, O (Orange Cavalcante da Silva e Paula Cristina Pinheiro, 10′ – 2018, Amazonas)
Sinopse: o caminho da escola” registra a trajetória de estudantes e professores da zona rural no interior do estado do amazonas.
Caso Tucumã, O (Bruno Pereira, 10′ – 2019, Amazonas)
Sinopse: O Tucumã que todos amam esconde um segredo que só o detetive Cabocão pode resolver. Um caso que vai surpreender você!!!
História Simples (Geliel Soares Carvalho e Jhon Erick de Andrade, 6′ – 2019, Amazonas)
Sinopse: História Simples é um curta-metragem realizado por jovens e adolescentes do projeto cinema e identidade através do programa Viva Tefé, no qual narra as aventuras de dois irmãos Rikelme e Ricleide no meio da floresta amazônica repleta de contos e encantos.
Projeto Arte e Comunicação 3ra Idade – Relatos e Experiências (Orange Cavalcante da Silva e Geliel Carvalho, 13′ – 2019, Amazonas)
Sinopse: Um grupo da terceira idade da cidade de Tefé, no Estado do Amazonas relatam suas experiências com o cinema através do projeto arte e comunicação.
Zico, o Jabuti (Jimmy Christian, 22′ – 2019, Amazonas)
Sinopse: Após herdar um jabuti, Zeca descobre o verdadeiro valor da amizade
Filho do Homem, O (Fillipe Rodrigues, 10′ – 2020, Pará)
Sinopse: Um homem e um velho vivem juntos em uma antiga casa. ambos são partes opostas de um todo que se sucedem enquanto o fogo renova continuamente a natureza.
Minguante (Maurício Moraes, 20′ – 2020, Pará)
Sinopse: O filme Minguante nos conta às histórias que se passam no espaço do bar Zodíacos, entre elas está a do personagem Jean, em dias diferentes acompanhamos a sua conexão com o bar através das suas relações pessoais. o filme reflete a ligação dos relacionamentos com os lugares em que eles perpassam e transitam.
Rock in Roça – O Filme (Ivan Oliveira, 23′ – 2019, Pará)
Sinopse: O documentário mostra a realização de um evento anual que acontece em dezembro em Parauapebas, sudeste do Pará, chamado Rock in Roça, realizado numa propriedade rural que cria búfalos e fica dentro do Parque Nacional dos Ferruginosos na região do Grande Vale de Carajás, um festival que agrega meio ambiente, sustentabilidade, turismo, cultura e rock n roll.
Arte para quê? (Joesér Alvarez e Ariana Boaventura, 9′ – 2019, Rondônia)
Sinopse: Um registro documental e artístico no qual, quase uma centena de produtores culturais e artistas, manifestam de modo diverso e, por vezes confluente, suas visões sobre a finalidade da arte, conferindo a esse repertório uma semântica rica e diversa. As imagens foram captadas por câmeras e celulares ao longo de 15 anos.
Falar Nós, é Mole – Ser Nós é Diferente! (Joeser Alvarez e Ariana Boaventura, 14′ – 2020, Rondônia)
Sinopse: Animadoc sobre um encontro insólito no centro do Rio de Janeiro: filosofia de vida e histórias fantásticas nas palavras de uma pessoa adulta que vive a situação de rua desde criança. Filmado com um celular.
Medo das Árvores, O (Édier William Medeiros da Silva, 15′ – 2020, Rondônia)
Sinopse: Uma reflexão poética sobre a natureza, a arte e o feminino por meio do registro do processo de pesquisa, desenvolvimento e produção do novo espetáculo de um grupo de teatro que resiste e insiste em fazer arte na geografia verde e incendiada pela estupidez, a Amazônia.
[Praia do Futuro] (Joesér Alvarez e Ariana Boaventura, 3′ – 2019, Rondônia)
Sinopse: Sonhos escritos na areia e apagados pelo vaivém das ondas na praia.o tempo arma a tempestade que anuncia um futuro distópico: metáfora para os novos tempos, ou de um passado que se anuncia no presente? Filmado com celular, na Praia do Futuro/CE.
Amazônia(s) (Éder Rodrigues dos Santos, 16′ – 2019, Roraima)
Sinopse: Amazônia (s) é um documentário realizado a partir das narrativas de renomados geógrafos e pesquisadores brasileiros durante o maior evento de pesquisa em pós-graduação em Geografia realizado na Universidade de São Paulo (USP), no ano de 2019. Tem como foco as análises da complexidade socioeconômica, ambiental e cultural da Amazônia (ou das Amazônias), com belas imagens aéreas da região do Baixo Rio Branco, no Estado de Roraima.
Rexistir (Tim Evangelista, 17′ – 2018, Tocantins)
Sinopse: O termo rexistir é um conceito criado pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, em suas palavras “rexistir” – este é o modo de existência dos índios no Brasil hoje: a “rexistência”. O documentarista foi em busca do verdadeiro índio brasileiro na modernidade, quais os seus fundamentos, riscos, e abnegações. Neste evento de desporto indígena internacional o documentarista se infiltrou como voluntário, e pode vivenciar uma extrema desorganização.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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