15º Festival Taguatinga: Mostra Convida

Festival Taguatinga de Cinema: Mostra Convida

15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

O 15º Festival Taguatinga de Cinema, realizado totalmente online, teve inicio no dia 5 de junho com a disponibilização dos curtas-metragens da Mostra Convida. Trata-se de uma curadoria que reuniu obras que se destacaram nos anos anteriores. Com temáticas bem diversas, o festival, no entanto, não deixa de marcar seu posicionamento político com filmes que tratam diretamente do tema ou que tragam questões sociais para o debate.

Neste texto, a Apostila de Cinema, em criação coletiva de Roberta Mathias (na primeira parte) e Jorge Cruz (na segunda parte), procura trabalhar com o conjunto escolhido para representar a Mostra Convida, abrindo assim a cobertura completa das produções selecionadas e seguindo a linha curatorial do evento. Tentando falar um pouco sobre cada uma das dezesseis produções que voltam à programação do Taguatinga, elaboramos uma análise que passa pela construção da Mostra como uma representante da pluralidade que encontramos em nosso país. São obras que desafiam nosso olhar e nos convocam a olhar o “outro”, ao menos por 20 minutos.


Índice de Filmes
(clique nos nomes para ser direcionado à sua parte do texto)

Ainda não lhe fiz uma canção de amor
Almerinda, a luta continua!
Carroça21 
Crônicas do meu silêncio
Diamante, O Bailarina
Do Corpo da Terra
Elinor 
Megg – A Margem que Migra para o Centro
Mercadoria
Mucamas
No Jirau da Hydro
Real Conquista
Sair do Armário
Sustento
Translúcidos
Utopias (Desde Junho)

Anexos

Ficha Técnica da Sessão
Podcast Apostila Festivais #001 sobre a Mostra Convida
Vídeo Apostila Festivais #001 sobre a Mostra Convida



15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Parte 1: Textos por Roberta Mathias

Do Corpo da Terra (Julia Mariano, 2016)

Em “Do Corpo da Terra” (2016), que também fez parte de uma sessão da Mostra Lona 2020: Atravessamentos, a diretora Julia Mariano  começa com os sons e imagens das matas. Tendo quatro mulheres como protagonistas percebemos que, por si só, a mata oferece uma relação mais próxima com o passado. Ervas e folhas que ainda hoje são utilizadas por benzedeiras urbanas e pelos banhos de limpeza nos terreiros. Para quem é do Rio do Janeiro, é só pensar no Mercadão de Madureira e para quem é de Belo Horizonte, no Mercado Central. Mas o próprio colher das ervas faz parte do ritual. Colher, saber escolher, identificar. Tudo isso é um diálogo direto com os negros escravizados que viviam naquelas terras.

Esse saber milenar, que também foi passado à essas lideranças do MST (Movimento dos Sem-Terra), é utilizado para também plantar a comida que lhes nutrirá o corpo. No entanto, ao saber para qual finalidade cada erva serve, elas são capazes de curar as dores de uma vida difícil. Refiro-me mesmo às dores físicas, de desgaste e correria para enfrentar os embates pela legalização do assentamento.

Ao voltar para o mato, essas mulheres entendem que terão que recuperar uma ancestralidade já esquecida por conta da vida urbana. Ter a consciência do próprio corpo e seus limites, não é tarefa habitual para quem vive nas cidades. Ao defender a utilização das ervas como remédios naturais, essas mulheres voltam sua atenção aos conhecimentos milenares de um povo. De seu povo, ainda que a questão central em “Do Corpo da Terra” não seja exatamente essa.

Julia Mariano é uma cineasta que prioriza falar de um conhecimento readquirido, sem tocar diretamente na questão dos quilombolas. Ao focar no acampamento do MST como troca de aprendizados e saberes da terra. Porém, todas as lideranças femininas do filme são pretas ou descendentes de indígenas e os nomes dos acampamentos falam por si: Zumbi dos Palmares, Dandara dos Palamares e Roseli Nunes, esta brutalmente assassinada em um protesto no ano de 1987. Roseli carregava em seu corpo misturas que sabemos existir no Brasil e que, para deixar menos complexo, definimos como pardos. No entanto, sabemos que ali há sangue preto e indígena. Pardos… Quem são os pardos senão aqueles aos quais foi retirada a possibilidade de compreender suas ancestralidade? Há que se pensar, então, em um retorno de saberes.

As folhas detém o poder da terra e dos Orixás. Que os assentamentos regressem às suas origens!

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Diamante, O Bailarina (Pedro Jorge, 2016)

O segundo filme que compõe a Mostra Convida, “Diamante, O Bailarina”(2016) traz atuação fantástica de Sidney Santiago no papel principal. O codinome Diamante, utilizado tanto nos ringues de boxe, quanto nas pistas de performance drags, combinam duas realidades completamente opostas, mas que ganham proximidades a partir da interpretação do ator.

A direção de Pedro Jorge também consegue traçar um paralelo entre os dois cenários aparentemente apartados a partir da dança e da leveza. Afinal, além de toda sua luta racial, Muhammad Ali nos ensinou que o boxe é uma espécie de dança, muito bem planejada, coreografada ,mas que só funciona quando o outro par entra no ringue.

É de Ali, aliás, a frase que abre o curta: “Voe como uma borboleta, ferroe como uma abelha“. A frase cabe para Diamante tanto no papel de boxeador quanto no de drag. Por isso, soa estranho quando escuta do treinador que precisa começar a pensar em equipe. Logo ele: negro, gay e drag e que, possivelmente, sempre se virou sozinho. No entanto, encontra em seu treinador uma espécie de “tio” com o qual pode contar.

Borboleta ou Abelha, Diamante brilha – e não é surpresa que esteja nessa seleção.

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Almerinda, A Luta Continua! (Cibele Tenório, 2015)

Almerinda, a Luta Continua!”(2015), um filme de Cibele Tenório, tinha tudo para ser um documentário careta e ultrapassado com utilização de imagens de arquivo e narrativa em off. Porém, apesar de se utilizar desses dois recursos, a obra não tem nada de engessada ou travada. Ao contar um pouco sobre a história de Almerinda Farias Gama, como parte da Oficina de Produção Audiovisual do CPPDOC/FGV, Cibele consegue criar um filme espontâneo e forte, como era Almerinda. Feminista, advogada, jornalista e negra, a intelectual teve que escavar entre racismo e machismo , espaços possíveis para se candidatar a deputada federal em 1934.

Apesar dessa trajetória de luta, o que a cineasta encontra na primeira Marcha das Mulheres Negras, organizada em Brasília, são mulheres que, apesar de ativistas, desconhecem o papel importante que teve Almerinda nessa trajetória iniciada há muito, talvez com as mulheres escravizadas que se recusaram a entrar em um navio e cruzar o mar rumo ao desconhecido – essas, provavelmente, foram mortas.

Almerinda não morreu por sua luta, mas foi apagada da memória, como sabemos que a história faz com os nomes que incomodam e que mostram uma narrativa nem tão linear e límpida.

Cibele, ainda assim, consegue resgatar Almerinda entre jornais com seus antigos artigos, fotos e imagens fotográficas de arquivo, nos fazendo lembrar a importância dos registros e que filmes de arquivo não precisam seguir um formato preestabelecido. A cineasta alterna a própria narrativa com a de Almerinda, na composição com esses vídeos antigos. Para, ao adentrar à Marcha, fazem um documentário histórico que dialoga com o presente.

Sobre Almerinda, em uma de suas últimas falas no curta-metragem, ela indaga sobre não ter deixado herdeiras biológicas para que seu legado perpetue. Demonstra o desejo de que as mulheres das futuras gerações continuem sua luta.

Fique tranquila, Almerinda. Estamos aqui. Mulheres,pretas e intelectuais.

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Crônicas do Meu Silêncio (Beatriz Costa, 2016)

“Era como se eu não pudesse fazer nada.”  Em “Crônicas do meu silêncio”(2016), Beatriz Costa conecta as histórias de várias mulheres que sofreram abusos por parte de homens. A face mais interessante do curta é a afirmação de que a violência vêm de diversas formas e em diversos níveis. Um olhar, uma fala, um empurrão, até efetivamente uma agressão física e/sexual mais intensa.

A agressão naturalizada precisa ser combatida. Essa vulnerabilidade pela qual passa qualquer mulher em todas as faixas etárias é algo a ser combatido. O filme narra a partir das personagens muitas situações pelas quais já passamos. O nosso silêncio vem do fato da sociedade,em geral, culpabilizar a vítima.

A mulher passa a ser culpada pela própria violência sofrida. “Ela deveria ter se protegido mais. Usado uma roupa mais longa. Não andar sozinha na rua.” Talvez, ela devesse existir apenas como complemento do homem, para satisfazer aos seus desejos.

Muitas de nós guardamos a violência sofrida como uma memória bem escondida porque sentimos vergonha e medo. Desde pequenas, esses são os sentimentos que nos são passados, como se a culpa fosse inerente à figura feminina. Uma Eva da pós-modernidade.

O curta, apesar de ficcional , parece narrar histórias já vividas por muitas de nós. Qualquer uma é alvo. Beatriz consegue em apenas 8 minutos passar essa sensação de angústia e impotência.

O curta, quase educacional, poderia ser passado em diversos grupos desde escolas até pontos culturais, pois consegue concentrar um tema complexo com qualidade.

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Translúcidos (Asaph Luccas e Guilherme Candido, 2015)

Em 2015, quando o curta “Translúcidos.” foi rodado a OMS(Organização Mundial de Saúde) , ainda considerada que transexuais eram portadores de uma doença mental e, por isso, algumas instituições se organização para tratar tal doença. O que faz uma mulher , mulher? É seu órgão sexual? A mesma pergunta vale para o homem. O que é um homem? A masculinidade se resume a um pênis? A questão que poderia ser simples e ter libertado há tempos pessoas que viviam em sofrimento, só foi resolvida em 2018.

Somente em junho de 2018, a OMS retirou dos transtornos psiquiátricos a transexualidade. Quanto tempo para resolver uma questão que deveria se resumir ao corpo de uma única pessoa- aquela que se sente presa ao padrão imposto a um gênero ao qual não se identifica.

O filme de Asaph Luccas e Guilherme Candido mostra justamente corpos de diversas idades confinados em um centro de tratamento para uma possível conversão. Como ser pudéssemos deixar de ser o que semos. É verdade, que a sociedade tem medo da multiplicidade e procura configurar os corpos e as normas dentro de caixinhas bem definidas, mas a questão da sexualidade; da orientação sexual e da identidade de gênero parecem os grandes fantasmas dos quais precisamos sempre fugir.

É um fantasma que de alimenta do medo. Quanto mais medo temos de discutir essas questões, mais tabus elas se tornam, sem que possamos efetivamente integrar à sociedade pessoas que simplesmente querem viver a liberdade, garantida como direito.

Nesse sentido, “Translúcidos.”  traz à tona as vontades de pessoas que só querem que os outros enxerguem as possibilidades dos corpos para além do binarismo. Que tenhamos dado um passo com a retirada da transexualidade dos transtornos psiquiátricos, é bom. Mas esse é apenas o primeiro passo.

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Ainda Não Lhe Fiz uma Canção de Amor (Henrique Arruda, 2015)

Já “Ainda não lhe fiz uma canção de amor” (2015), de Henrique Arruda, aposta na relação desgastada entre Greg e Alessandro, que, deitados no quarto, rememoram os prazeres de épocas mais felizes. Desde que se conheceram em uma paixão relâmpago marcada pela gaita de Greg.

As trocas de olhares, os gestos contidos, mas decisivos. Todos já passamos por esses momentos. A aproximação, que parece em câmera lenta… A paixão incendiária, que, um dia, acaba.

Aí vem o momento decisivo de qualquer relacionamento: ir ou ficar? Somos capazes de viver, hoje, sem a paixão arrebatadora? O amor calmo e constante nos basta?

Essas não são questões apenas para Greg ou Alessandro, mas para todos nós. Será que a Modernidade Líquida mudou nossa forma de amar?

Em uma narrativa que lembra “500 Dias Com Ela” (2009), Arruda nos faz viajar pela relação. No entanto, a dificuldade do casal se dá por conta de uma questão profissional. De qualquer maneira, o egoísmo está posto, tal qual no filme de Mark Webb.

O que nos faz pensar: será que foram as relações que ficaram líquidas ou as possibilidades que aumentaram e não sabemos lidar com o sucesso de nosso par?

São mesmo perguntas difíceis que não tenho qualquer pretensão de responder aqui, mas gostamos de provocações, como vocês já devem ter percebido.

É difícil ver alguém partir ou deveríamos ficar contentes pela realização do ser amado?

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Mucamas (Coletivo Nós, Madalenas; 2015)

“Mucamas”(2015) ,do Coletivo Nós, Madalenas, já começa a mostra sua identidade antes do início do curta. Que seja feito por um coletivo de mulheres é essencial para que o que vem a seguir seja entendido como uma espécie de desabafo ou grito daquelas que não querem mais exercer papéis subalternos em uma sociedade mudada. Parece que o coletivo atualmente já não produz novos filmes (o que é uma pena). No entanto, inúmeros coletivos vêm surgindo desde meados da década passada pensando o papel das mulheres nessa nova sociedade.

Em “Mucamas”, o que vemos é o retrato do trabalho doméstico e o perfil de suas trabalhadoras. Geralmente, vindo de cidades pequenas e sozinhas, tem como única opção trabalhar em funções da casa, sem possibilidades de ascensão. Felizmente, essa realidade vem (vinha) mudando com as filhas dessas mulheres, já ingressando nas Universidades e ocupando cargos de importância social significativa. Médicas, Professoras, Jornalistas, Artistas, Advogadas.

Não que o trabalho doméstico seja um problema em si, se bem pago e não existindo em coexistência com o racismo e o elitismo. A atual pandemia nos mostrou o óbvio. As tarefas do lar precisam ser feitas. Como uma das entrevistadas diz, “é um emprego como outro qualquer“. E é assim que precisa ser tratado. Sem humilhação, sem exploração e sem diminuir o trabalho daquelxs (geralmente mulheres) que nos ajudam a manter a rotina diária.

O trabalho doméstico é um trabalho pesado, desgastante e psicologicamente perturbador (ainda mais quando vem acompanhado de ironias e humilhações).

Talvez, nossa principal luta nesse sentido seja ainda (e, ao falar isso, me sinto no início da Idade Moderna ao distinguir o artista do artesão) entender que todos os trabalhos precisam ser valorizados.

No entanto, cada vez mais parece que caminhamos ao contrário e nos aproximamos  da Idade Média.

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Sustento (Sylara Silverio, 2016)

O que falar de “Sustento”(2016) que, em um minuto, consegue nos contar a história de uma mulher? A sutileza é tanta que até o nome do rio com o qual nos deparamos, é Sustento. Sylara Silvério consegue quase o impossível em um haikai visual ( tal qual Andrei Tarkosvki gostaria de chamar) de extrema sensibilidade e força.

Não é preciso mais nada em “Sustento”, apenas o olhar de Roseane Barbosa, a pescadora que vive do Rio, e as águas calmas desse rio que dá nome ao curta-metragem.

Um dos documentários mais curtos (senão o mais) da programação da Mostra Convida. E um dos mais bonitos.

Um dos documentários mais bonitos que já vi.

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Elinor (Renato Sarieddine e Juliana Mafra, 2017)

“Elionor”(2017), com direção de Renato Sarieddine e Juliana Mafra, parte de uma brincadeira com a boneca Elionor para discutir questões de identidade de gênero em um grupo formato por LGBTQIA+ e seus posicionamentos políticos. A brincadeira com Elionor parece tacanha, no entanto, ao mexer com o corpo da boneca e o adjetivá-la, a ocupação de estudantes secundaristas também passa a ser abordada pelo filme.

Elionor é, então, apenas um pretexto para falar sobre o movimento jovem que veio se constituindo até a grande ocupação – que teve seu ápice na mobilização estudantil de 2015, mas que ainda reverbera entre os estudantes mais jovens. Então, quando esperávamos ver um curta-metragem sobre brincadeiras adolescentes e rodas de violão, encontramos um movimento político, social e cultural potente que não se conforma com a atuação política oficial.

Elionor pode representar qualquer um desses corpos jovens. Todos acompanhamos algumas manifestações que acabaram em agressão física e com muitos desses estudantes saindo machucados. Ainda que não fosse uma guerrilha efetiva, foi uma guerrilha política. Talvez, se tivéssemos dado mais voz a esses adolescentes no momento no qual o golpe que tirou Dilma do Governo aconteceu, as coisas hoje pudessem ser diferentes.

Talvez, ainda possam ser. As ocupações não foram meras ocasiões de convívio juvenil, elas foram a concretude de jovens que querem mudança. Será que nós, mais velhos, ainda a queremos?

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Carroça21 (Gustavo Pera, 2018)

O cotidiano da catadora de lixo Maura é o tema do curta-metragem “Carroça21” (2018). Além do perigo de trabalhar nas ruas, ela, mãe de sete filhos, vive um conflito dicotômico que passa pelo assédio ou a invisibilidade. São Paulo não é uma cidade fácil. São Paulo não é uma cidade fácil para Maura.

A vigilância contínua da metrópole latino-americana não parece abarcar o corpo da trabalhadora que perambula atrás dos itens mais valiosos. É com o lixo que Maura sustenta a numerosa família. Numerosa. Adjetivo que combina também com a cidade.

Assim, a mulher se acostuma ao trabalho que conseguiu construir e que lhe dá alguma maneira de sobreviver em meio aos prédios e asfaltos. Maura ainda tenta sorrir. O sorriso, às vezes forçado, às vezes aberto, revela uma mulher resignada, porém não acomodada. Maura sabe a coragem que tem.

Sabe também que, de uma maneira ou de outra, ela conseguiu avançar na vida complicada e dura que leva.

Ela diz: “não é a cidade que é difícil, o ser humano é que é difícil“. Nisso, talvez, eu discorde dela, pois a cidade é feita de e por seres humanos. Mas sim, Maura, nós somos difíceis. E, provavelmente, não tenhamos a força que você tem para abrir mão de nossos confortos para que você possa ter alguns.

Mesmo com a vida difícil, Maura sorri.

A maternidade, a rua, o trabalho que encontrou.

Tudo na vida de Maura é duro.

Ainda assim, ela sorri.

Maura ainda aprende e nos dá a oportunidade de aprender algo com Maura. O diretor, Gustavo Pera, consegue ressaltar a complexidade de Maura. Quem ganha somos nós.

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Real Conquista (Fabiana Assis, 2017)

Real Conquista“(2017) apresenta outra mulher guerreira (elas parecem realmente dominar a seleção da Mostra Convida). A diretora Fabiana Assis mostra a personagem em todas as suas atividades laborais, mas guarda também espaço para uma das partes mais valorizadas pela moradora do interior de Goiás: a religião.

Frequentadora assídua da Igreja Batista Filadélfia, é nesse espaço que encontra tempo para descansar e sonhar. Na tônica típica do Brasil: a Igreja chega onde o Estado falta. Sem qualquer juízo de valor aqui, já que eu própria professo minha religião, no entanto, é necessário separar os espaços.

A costureira tem a ajuda dos mais velhos na educação dos mais novos e no fazer laboral. Prática também adotada por muitas famílias brasileiras.

“Real Conquista” mostra um Brasil que conhecemos, mas preferimos ignorar.

Não precisamos nem ir muito longe para saber o que acontece quando ignoramos a maior parte da população. Há uma organização local que organiza as demandas e os espaços que, inicialmente, estavam abandonados (e, agora, digo literalmente – e não somente por nossos olhos).

Ainda que possamos ter fé de que um dia será diferente, o Brasil continua a insistir nos mesmos erros. A remoção, novamente a remoção como solução para a cidade. Ironicamente, Real Conquista é o nome do projeto, tocado pelos próprios moradores, que urbaniza a região. Ela algum dia chegará?

As agressões mostradas no documentário se repetem constantemente em outros espaços, com outras famílias. Nós sabemos, mas preferimos esquecer de vez em quando. Para eles, essa não é uma opção.

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Parte 2: Textos por Jorge Cruz

Mercadoria (Carla Villa-Lobos, 2017)

A estreia de Carla Villa-Lobos, realizadora do subúrbio carioca formada em audiovisual pela UFRJ, teve vida longa nos festivais brasileiros no ano de 2018. “Mercadoria” consegue trazer um dos pontos positivos da união entre o documental e a ficcionalidade, onde a cineasta aplica depoimentos que – uma vez encenados – ganham uma carga de mensagem impressionante. Villa-Lobos não se limite a fazer transições ficcionais, embora seja assim que ela inicie o curta-metragem.

Com uma narrativa da chegada de uma nova mulher à Vila Mimosa, região da Zona Norte do Rio de Janeiro conhecida por ser uma área de prostituição, a diretora começa a abordar as entrevistadas pelo caminho natural de questionar os motivos que as levaram a se prostituirem. Em uma variação de linguagens que perdurará pelos quase vinte minutos da obra, a diretora deixa para os relatos não apenas tal questão, mas aquelas que envolvem as motivações que as levariam a abandonar essa rotina.

A carga dramática a partir da ficcionalidade se vale para além da encenação. “Mercadoria” potencializa sua mensagem em dois momentos fortes, o segundo ainda mais. O primeiro é quando nos vemos em um diálogo sobre o risco iminente da violência, que faz reverberar ainda mais a vulnerabilidade da mulher, principalmente quando os homens entendem que aquele corpo é, de fato, uma mercadoria. A perda do controle que pode vir a qualquer momento, ressaltam a fragilidade imposta pela ausência de liberdade sobre si.

Porém, onde o curta-metragem é mais forte é na cena em que um taxista humaniza a protagonista, dizendo que ela parece sua filha e perguntando o que há de mais básica em uma conversa entre estranhos: o nome da mulher. Dá para sentir o peso que um questionamento tão corriqueiro provoca, até porque ele faz questão de a chamá-la como “puta” na abordagem inicial. A cineasta, então, revela a sensibilidade de usar a mistura entre o documental e o ficcional de maneira exemplar.

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Utopias (Desde Junho) (Julia Mariano, 2016)

Em “Utopias (Desde Junho)” a cineasta Julia Mariano se utiliza de uma abordagem mais acadêmica e contextualiza o espectador no paralelo entre a Marcha pela Família de 1964 e 2014. Inicia o curta-metragem focado em trazer as consequências da perda da credibilidade da mídia hegemônica a partir das manifestações de 2013. Traz alguns expoentes das chamadas novas mídias, tanto de ideologia de esquerda como o Mídia Ninja, quanto um representante do Revoltados Online (que garante que a população não “está fascista”, ela está “exigente”). A partir de buscas no Google e vídeos no YouTube a montagem do curta-metragem tenta perpassar por esse enviesamento dos debates e qual o papel do foco dos veículos tradicionais em se discutir mais a ascensão dos black blocks do que levar à sociedade informações sobre a máfia do transporte público.

Os resultados da dita polarização são conhecidos agora, algo que Julia Mariano claramente tenta entender. Talvez se tivesse uma bola de cristal reservaria mais tempo como a importante de voz de Raull Santiago, que com seu Coletivo Papo Reto formou uma credibilidade no escopo representativo, a partir do viés territorial das comunidades do Rio de Janeiro. Há no filme uma gênese de questionamentos sobre a propagação de notícias falsas, das duas ideologias contrapostas. Inclusive, a particularização das redes sociais, com a possibilidade de relações mais próximas e mais secretas via Whatsapp acelerou o processo. Com isso, emprestamos nossa credibilidade para materiais que não conseguimos checar a veracidade.

Na segunda parte, “Utopias (Desde Junho)” passa a tratar das ocupações das escolas secundaristas em 2015, iniciado por São Paulo. Chama a atenção a certeza de alguns daqueles estudantes sobre estar vivendo uma segunda fase da revolução, em que a primeira foi o levante de 2013. O olhar da câmera se limita a observar e hoje somente os muito otimistas seguem esse raciocínio. Em um paralelo com o basebol, entendemos que ali se viveu a segunda perda de uma chance, um segundo strike. Com os olhos de 2020, soa um pouco inocente a obra. Para os mais atentos, fica a sugestão de pensar bem antes de arremessarmos a próxima bola.

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Megg – A Margem que Migra para o Centro (Larissa Nepomuceno e Eduardo Sanches, 2018)

Megg – A Margem que Migra para o Centro” é a prova de que abordagem mais tradicionais no gênero documentário ainda rende boas obras e podem ser uma ferramente de linguagem importante. Se utilizando de uma entrevista e captação de imagens de simulação de rotina, os cineastas Larissa Nepomuceno e Eduardo Sanches contam, de maneira simples, uma história que deveria ser corriqueira. Pois não é. Ser mulher trans, negra e Doutora pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) é, ao mesmo tempo, algo a se celebrar e a se protestar – na visão da protagonista.

Na famosa exceção que confirma a regra, Megg revisita sua formação e trata da importância do romance “O Bom Crioulo“, lançado por Adolfo Caminha em 1895 – uma obra importante até hoje para o reconhecimento, até mesmo pelo viés da estereotipização, de pessoas que ainda precisam ocupar espaços, ainda precisam quebrar paradigmas. Transita entre o ar de festa e o ar de denúncia e possui uma conclusão muito tocante e sensível. Por proximidade da experiência de ter assistido ao longa-metragem austríaco “O Chão Sob Meus Pés” (que não guarda nenhuma semelhança com esse curta) chama ainda muita atenção o sapato de saltos como ferramenta política – que no filme europeu tratamos no texto como ele surge de maneira opressora – e em “Megg – A Margem que Migra para o Centro” ele aparece como objeto de afirmação e libertação.

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

No Jirau da Hydro (Márcio Cruz, 2018)

Um dos três vencedores do prêmio do Júri da edição passada do Festival de Taguatinga, o rápido curta-metragem de Márcio Cruz, “No Jirau da Hydro” cumpre seu papel de filme-denúncia a partir da confirmação pelo Instituto Evandro Chagas de que na água de Barcarena, município paraense, há soda cáustica, bauxita e chumbo. Seu retorno para a Mostra Convida vem carregado de pertinência, em um momento em que – apesar de vivermos o auge de uma pandemia sem precedentes no planeta, a classe política do país tenta aprofundar os debates sobre a privatização do bem maior para nossa sobrevivência. Tanto que, há menos de um mês, um novo marco regulatório de saneamento foi aprovado pelo Congresso Nacional.

O destaque da obra é a participação do que sobrou de Fernando Gabeira, um ex-político que nos últimos anos fez parte da bancada da normalização da ascensão fascista na grande imprensa. Ele surge com a retórica de preservação de mercado que o Grupo Globo adora aplicar e diz que está ali para conversar com os representantes da “empresa norueguesa” em busca de uma solução. Mesmo diante de um registro documental de uma obra de denúncia, Gabeira não é capaz de dizer o nome de Albras e da Hydro Alunorte, que há quase quinze anos foi obrigada pela Justiça a fornecer dois litros de água potável para cada morador da região, visto que destruiu um fragmento da Amazônia e pouco se importou com o genocídio que aconteceria por tabela.

A surpresa do jornalista (diz-se chocado por uma “empresa norueguesa”, tão preocupada com a sustentabilidade, transformar o Terceiro Mundo em um lixão industrial) é conveniente, visto que não é de hoje que o capital estrangeiro faz o que quer, recorre o máximo que pode quando é processado pelos danos ambientais e – quando não tem mais gente – dá calote. “No Jirau da Hydro”, fatalmente, não envelhecerá nada e seguirá sendo exibido em mostras retrospectivas enquanto o audiovisual brasileiro crítico, de viés político, encontrar espaço para existir.

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15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida

Sair do Armário (Marina Pontes, 2018)

O ano de 2019 fez a jovem e talentosa realizadora Marina Pontes ocupar com vigor múltiplos e importantes espaços nos festivais de cinema do Brasil. Seu curta-metragem “Sair do Armário” foi muito bem recebido na Mostra de Tiradentes e, na edição passada do Festival de Taguatinga, também saiu vencedor do do prêmio do júri. Pouco depois, sua obra seguinte, “E o que a Gente Faz Agora?” foi selecionado e apresentado no Festival de Gramado.

Não é à toa essa interseção de mostras tão diferentes. A cineasta consegue, em pouco mais de três minutos, nos entregar um documentário potente, sufocador, usando apenas um fundo preto e palavras. “Apenas” um diálogo onde a filha conta para a mãe que é lésbica. O espectador só vê as palavras, sim. Duras palavras. Elas que costumam ferir muito mais a fundo do que tentativas de agressão física. “Não quero ver você sofrer preconceito, já basta o meu e o do seu pai”, são as palavras finais. Marina Pontes encerra o longo ciclo de dezesseis curtas da Mostra Convida despejando palavras e nos deixando sem. Ato contínuo, nos faz buscar seu nome e anotar na agenda o dia 15 de agosto. É quando “E o que a Gente Faz Agora?” entra no ar na Sessão 07 da Mostra Competitiva. Com a certeza de um novo abalo, porém recheados de expectativas.

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Festival Taguatinga de Cinema: Mostra Convida

Ficha Técnica da Sessão 15º Festival Taguatinga – Edição 2020: Mostra Convida 

Do Corpo da Terra (Julia Mariano, 23″ – 2017, Rio de Janeiro)
Categoria: Documentário
Sinopse: “Do corpo da terra” retrata como quatro mulheres do coletivo de saúde do MST mudaram suas vidas na relação com a terra e com seus corpos.
Diamante, O Bailarina (Pedro Jorge, 20″ – 2016, São Paulo)
Categoria: Ficção
Sinopse: Voe como uma borboleta, ferroe como uma abelha.
Almerinda, a luta continua! (Cibele Tenório, 9″ – 2015, Distrito Federal)
Categoria: Documentário
Sinopse: “Almerinda, a luta continua!” faz um resgate histórico da vida de Almerinda Farias da Gama uma das primeiras militantes feministas brasileiras.
Crônicas do meu silêncio (Beatriz Pessoa, 8″ – 2016, São Paulo)
Categoria: Ficção
Sinopse: Histórias que se cruzam. Silêncios que se reconhecem. Um manifesto sobre a violência contra a mulher retratado em três depoimentos baseados em situações cotidianas.
Translúcidos (Asaph Luccas e Guilherme Candido, 14″ – 2015, São Paulo)
Categoria: Ficção
Sinopse: “Translúcidos” narra a vida de pacientes presos em uma clínica de tratamento de disforia de gênero. Ali transgêneros vivem a base de medicamentos e técnicas de aversão, fazendo um claro comentário sobre a presença de transgeneridade na Classificação Internacional de Doenças (CID).
Ainda não lhe fiz uma canção de amor (Henrique Arruda, 15″ – 2015, Rio Grande do Norte)
Categoria: Ficção
Sinopse: Greg e Alessandro estão no quarto, se olhando. O sentimento de culpa e nostalgia daquele momento até pode marcar para sempre a vida dos dois, mas é apenas uma passagem para permitir que o amor caminhe livremente entre eles.
Mucamas (Coletivo Nós, Madalenas; 15″ – 2015, São Paulo)
Categoria: Documentário
Sinopse: O documentário conta a história da vida de mulheres que são ou já foram empregadas domésticas, escancarando suas lutas e desigualdades. Ao centro, o enraizado pensamento da casa-grande sob a Senzala e o discurso do ‘trabalho e desenvolvimento’ que garante a manutenção da lógica serviçal, de herança claramente escravocrata: preconceitos, classismos, distâncias, muros, pontes, remuneração, relações de poder, patroas, empregadas. Narrada pelas trabalhadoras, a direção do filme é das próprias filhas, e por isso propõe também uma importante reflexão sobre representatividade e a construção de narrativas populares. Pela soberania audiovisual em todas as periferias! Pela democratização dos meios de comunicação.
Sustento (Sylara Silvério, 1″ – 2016, Pernambuco)
Categoria: Documentário
Sinopse: Sustento é um rio de água rasa. Nele, se pesca da rua a casa, do que se é ao que se vê. É a correnteza que se vence a força, é a sutileza que se renova a cada maré.
Elinor (Renato Sarieddine e Juliana Mafra, 12″ – 2017 – Minas Gerais)
Categoria: Experimental
Sinopse: Elinor é uma boneca adolescente que foi ao colégio Estadual Central conhecer o mundo. Ela foi ao colégio Estadual Central onde conheceu os alunos que ocupavam a escola em protesto contra o golpe na educação. Ela aprendeu muitas coisas, fez muitos amigos e se divertiu demais, mas nem tudo era bom.
Carroça21 (Gustavo Pera, 12″ – 2018, São Paulo)
Categoria: Documentário
Sinopse: Maura é mulher, mãe de 7 filhos e catadora de materiais recicláveis na maior cidade da América Latina. Enquanto ela trabalha duro para se manter, tem que lidar com preconceito, invisibilidade e a ignorância de quem não reconhece o valor e a importante função do catador.
Real Conquista (Fabiana Assis, 15″ – 2017, Goiás)
Categoria: Documentário
Sinopse: Em Goiânia, no bairro Real Conquista, uma mulher, marcada por um forte passado de violência, luta por melhores condições de vida.
Mercadoria (Carla Villa-Lobos, 15″ – 2017 – Rio de Janeiro)
Categoria: Ficção
Sinopse: Com uma linguagem que transita entre a ficção e o documentário, o filme foi construído a partir de conversas com seis prostitutas da Vila Mimosa, famosa zona de prostituição da cidade do Rio de Janeiro, e busca mostrar o ponto de vista dessas mulheres com relação ao seu trabalho a partir de encenações baseadas em suas histórias.
Utopias (Desde Junho) (Julia Mariano, 26″ – 2016, Rio de Janeiro)
Categoria: Documentário
Sinopse: Os caminhos da mídia independente e dos movimentos sociais dentro do novo contexto político pós-2013. Análise dos diferentes tratamentos dados pela polícia e pela mídia corporativa às manifestações pró e contra o impeachment. O contraponto da mídia independente a essas abordagens. Liberdade de imprensa, manipulação das redes sociais, consciência midiática para o cidadão comum e os limites da produção e de consumo de informação na internet.
Megg – A Margem que Migra para o Centro (Larissa Nepomuceno e Eduardo Sanches, 15″ – 2018, Paraná)
Categoria: Documentário
Sinopse: Megg Rayara derrubou barreiras para chegar onde chegou.Para ela, seu diploma é um marco importante de uma luta não só pessoal mas, sim, coletiva. Pela primeira vez no Brasil, uma travesti negra conquista o título de Doutora. É a margem que migra para o centro, levando toda sua história consigo.
No Jirau da Hydro (Márcio Cruz, 5″ – 2018, Pará)
Categoria: Documentário
Sinopse: No dia 17 de fevereiro fotos registraram vazamento de rejeitos da bacia de depósitos da mineradora Hydro Alunorte, a empresa e o Governo do estado negaram qualquer incidente. O Instituto Evandro Chagas divulgou um laudo confirmando a contaminação em diversas áreas de Barcarena. O cotidiano da população local foi diretamente afetado por mais um desastre ambiental.
Sair do Armário (Marina Pontes, 4″ – 2018, Bahia)
Categoria: Documentário
Sinopse: “Eu penso todo o tempo que se tivesse nascido muda, ou se tivesse mantido um juramento de silêncio toda minha vida, teria sofrido igual, e igualmente morreria.” Audre Lorde.

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A Apostila de Cinema é uma iniciativa de promover o debate sobre o cinema e questões pertinentes ao mesmo levantando análises culturais, sociais e estéticas que consideramos centrais para o pensamento crítico da Sétima Arte Contemporânea.

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