Sinopse: Clara e Fernanda são irmãs gêmeas, idênticas e muito unidas, porém em decorrência de um acidente, Clara entra em estado catatônico. Fernanda está determinada a encontrar a cura para irmã, mas os métodos tradicionais parecem não funcionar. Ao entrar em contato com um método alternativo de terapia, Clara acessa um universo sobrenatural, trazendo para o presente uma sombria e trágica história com segredos do passado. Para salvar a irmã de uma forte presença maligna, Fernanda vai precisar ultrapassar a dimensão do medo e o limite entre a vida e a morte.
Direção: Roberto Moreira
Título Original: Terapia do Medo (2021)
Gênero: Thriller | Mistério | Terror
Duração: 1h 22min
País: Brasil
Medo de Ir Além
Apesar da parceira da produtora Coração da Selva com a Globo Filmes, o longa-metragem brasileiro “Terapia do Medo” estreia de forma direta nas plataformas de streaming com distribuição da Netflix, player mais popular do mercado. O filme dirigido por Roberto Moreira chega ao público com mais de um tipo de apelo. Revisitando uma narrativa de estranhamento e impondo representações antinaturalistas, o texto se encontra com a linguagem de gênero – e fica cada vez mais a sensação de que o audiovisual comercial mergulhou de vez nessa abordagem para justificar a ausência de originalidade em outras.
Cleo interpreta Clara e Fernanda, gêmeas que possuem uma característica curiosa. Apenas uma delas observa um fenômeno comum entre irmãos univitelinos, o da sincronicidade – quando um sente (ou pressente) algo que afeta o outro. Bruno (Sergio Guizé) é um psicoterapeuta que usa a hipnose e a regressão como ferramentas de potenciais curas e Fernanda buscará junto a ele ajuda para a recuperação de Fernanda, que sofreu um acidente grave e não consegue mais se comunicar.
Em “Terapia do Medo” o cineasta aproveita a dupla de protagonistas, um elenco com recursos, mas não os dá profundidade para atuar. Não desenvolve tanto os arcos dramáticos, porque a forma como o faz com o roteiro (de autoria de Moreira ao lado de Luciano Patrick), opta por criar uma sucessão de acontecimentos intrigantes – mas pouco instigantes. Um expediente parecido com o britânico “A Maldição dos Esquecidos” (2018), que chegou na semana passada ao concorrente Telecine. Estrelado por Florence Pugh e também baseado em um encontro da personagem que promove a cura com seus próprios traumas.
Ao lado da mãe, Bruno vê na relação com as gêmeas o estudo de caso da sua vida. Com potencial de lhe trazer mais conhecimento e uma bem-sucedida comprovação de seus métodos. Moreira, então, cria uma teia de regressão, uma narrativa espiralada reversiva, que vai nos fornecendo informações espaçadas. Enquanto idealização de um terror a partir do estranhamento, o longa-metragem soa quase como exercícios iniciados e não finalizados. Ao trazer uma nova perna, adicionando aspectos envolvendo o sobrenatural, atrai para si um outro fator para equilibrar em uma trama que parecia primar pela forma sintética – tanto que é difícil identificar na dupla atuação de Cleo nuances de suas personagens.
O que funciona bem são as duas pontas da trajetória do filme. Do prólogo, que apresenta uma jovem tentando superar a morte de Ivo – menino o qual não recebemos muita informações – à sua conexão com o presente no ato final, denotando o quanto de nossas vivências no passado afetam as escolhas e os caminhos que seguimos no presente. Baseando sua solução em um argumento que usa a identidade de gênero, “Terapia do Medo” é mais uma daquelas produções que insistem em passar mais tempo criando um clima, ignorando as potencialidades da história que deseja contar. Algo que o cinema de gênero sempre dominou quando manteve seu foco na temática, mas parece um pouco perdido em seus algoritmos estéticos nos últimos anos.
Veja o Trailer: