Sinopse: Uma mulher e um cão enfrentam o abandono enquanto lidam com a inefabilidade do tempo.
Direção: Pedro Almodóvar
Título Original: The Human Voice | La Voz Humana (2020)
Gênero: Drama
Duração: 30 min
País: Espanha
Recortes em laranja e violeta
Baseado no monólogo de mesmo nome, “The Human Voice“, mais recente obra de Pedro Almodóvar, começa a circular pelo Brasil após estreia ano passado no Festival de Veneza. Dessa vez, tendo como inspiração o polivalente artista Jean Cocteau, o cineasta espanhol traz para as telas a peça de 1930 bastante embebida de suas origens.
Tendo como atriz principal Tilda Swinton, que já nos brindou com excelentes atuações em “Adaptação” (2002), “Precisamos falar sobre Kevin” (2011), “O Grande Hotel Budapeste” (2014) e “Okja” (2017) dentre outros – apenas para ressaltar a pluralidade da atriz – o diretor concentra em apenas um holofote toda a dramaticidade que imaginamos encontrar em seus filmes.
Assim como o texto que lhe deu origem, trata-se da história do fim de um romance e do luto pelo qual passa a personagem principal após a separação. Ainda que nem todos tenhamos passado por um rompimento amoroso, é bem possível que a sensação da separação – de alguém, algo ou algum lugar- nos seja familiar. Tanto o texto de Cocteau quanto o média-metragem de Almodóvar (que decide condensar a história em trinta minutos), então, conseguem tocar em alguma esfera de nossa alma fragmentada. A dor que a personagem de Tilda sente e a deixa deslocada e capaz de caminhar em direção a atitudes desesperadas podem ser revividas em maior ou menos intensidade.
Mesmo que opte por manter a estrutura narrativa e permanecer como um monólogo – e a intensidade da obra está em não se saber exatamente o que é dito do outro lado, mas apenas imaginar – o diretor e a atriz conseguem manter a atenção e a tensão no ar (como de costume), além de apresentar outras referências literárias e cinematográficas que aparecem concretamente (entre livros e DVDs) ou na forma da obra. As cores almodoravianas tão fortes quanto as palavras emitidas por nossa protagonista transitam entre vermelhos, azuis e amarelos e nos conduzem no flamenco sempre bem compassado do diretor.
Alternando espaços realistas (para uma obra do diretor, um dos grandes nomes do cinema europeu), com um cenário muito bem montado, e coxias de teatro vemos a raiva da solitária mulher ser despejada em objetos que a fazem recordar seu interesse romântico. Talvez, a bizarra cena de abertura envolvendo a compra de um machado nos leve a crer que a trama será muito mais estranha do que ela efetivamente se apresenta à posteriori. No entanto, a estranheza típica dos filmes do espanhol se faz presente nos diálogos e nos rompantes da encenação.
Todos os simbolismos e metáforas para o término (o corte, o fogo, a saída) em “The Human Voice” são recorrentes e utilizados em outras obras, mas Almodóvar consegue extrair da configuração vigor suficiente para manter a “mistura de loucura e melancolia” – parte do texto da protagonista- que pode sintetizar seu próprio trabalho como um todo.
Veja o Trailer: