Sinopse: “Todos Estão Falando Sobre Jamie” conta a história de um adolescente de 16 anos que vive na cidade de Sheffield, Inglaterra, com a mãe amorosa. Apesar de estar aterrorizado pensando em seu futuro, seu grande sonho é ser uma famosa drag queen.
Direção: Jonathan Butterell
Título Original: Everybody’s Talking About Jamie (2021)
Gênero: Musical | Drama | Comédia
Duração: 1h 55min
País: Reino Unido | EUA
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Parece que o Amazon Prime Video, talvez sem nem planejar ou ter essa pretensão, vai se tornando a casa dos bons musicais em streaming. Depois de “Cinderela” (2021) semana passada, chegou ao seu catálogo a produção original “Todos Estão Falando Sobre Jamie“, adaptando da peça teatral baseada na vida de Jamie Campbell ou Fifi La True. Enquanto que a Netflix aposta em nomes como Ryan Murphy e o Disney+ entrega uma obra que muita gente se nega a considerar “cinema”, o longa-metragem britânico emociona ao contar a trajetória de um jovem que, ao completar dezesseis anos, deseja realizar seu sonho de se tornar uma famosa drag queen.
Enquanto a sociedade resiste, representada pelo microcosmo escolar que vai desde colegas de turma homofóbicos a professores que se negam a atualizar normas de comportamento, dentro de casa Jamie (Max Harwood) cultiva uma relação de muito amor e cumplicidade com sua mãe, Margaret (Sarah Lancashire). É a partir dessa lição de respeito que o espectador começa a se envolver com o protagonista, no dia do seu aniversário. A senhora alimenta as esperanças do reencontro do filho com o pai, inventando mensagens de apoio que ela mesmo coloca no caminho.
Margaret não compreende como a comunidade na qual está inserida consegue ser tão ultrapassada, a ponto de ainda fazer mal a Jamie. Assim como parte do público, que vai além da diversão pela ousadia do adolescente, que não arreda pé das provocações contra ele. Harwood é puro carisma no papel de alguém que, por conta da idade, ainda precisa se entender. As canções que alavancam a narrativa de “Todos Estão Falando Sobre Jamie” têm sua cota de musical no estilo Broadway, mas se sai melhor quando usa as referências do britpop.
Referências, por sinal, é um dos destaques da trama. Decidido a se tornar a drag queen que quer ser seis semanas antes do baile de formatura, Jamie conhecerá Hugo (Richard E. Grant), diva veterana em apresentações no bar mais conhecido da cidade. É quando aquele terá contato com manifestações culturais que o antecederam. Talvez o grande momento do filme seja a sequência em que seu novo amigo coloca uma fita VHS e traça uma linha do tempo que traz o clubber do final dos anos 1980 e a popularização de apresentações carregadas de representatividade – interrompida pela disseminação do preconceito na primeira onda de contaminação pelo vírus HIV.
Um legado de dor, que tem como marco a morte de Freddie Mercury em 1991 e teve como peça importante de quebra de padrões o alinhamento de Lady Di à causa (o que levaria a outro trauma com o seu falecimento precoce). Depois desse número com toque de aula, Jamie vai construir a sua personalidade drag, em outra música impecável que reúne visualidade que vão da pop art a “Vogue”, videoclipe inesquecível de Madonna. Mesmo com a leveza de um teen movie, de um coming of age (apesar de mais combativo), o longa-metragem não deixa de ser exemplar na forma como aborda essas questões. Soma-se a tudo isso uma estética apurada, que não apela para o exagero e prima pelo realismo em todos os territórios no qual Jamie transitará.
O oposto de “Queens” (2021), produção sueca que faz parte do catálogo da Netflix e que, assim como escrevemos em nossa crítica, chegou na beira do ofensivo. Não há tramas paralelas, apesar da amizade do adolescente com a jovem muçulmana Pritti (Lauren Patel) permitir atravessamentos pelo bullying que ambos sofrem – e acaba os unindo. O diretor Jonathan Butterell (estreando no audiovisual após comandar a versão teatral) consegue equilibrar o ambiente de descobertas na exploração de novos territórios, deixando a escola como “mais um” aspecto da vida do protagonista. Aliás, essa é uma das mensagens mais importantes da obra: a de que o ciclo que se encerra com a formatura é bem mais libertador do que digno de saudade.
Isso tira o peso dos finais clássicos, que colocam o baile como clímax. A segunda metade de “Todos Estão Falando Sobre Jamie” é até mais carregada de melancolia, fazendo com que chegue perto do ritmo e da dinâmica de um drama inglês. Usa o musical como gênero sem deixar de aplicar o olhar crítico sobre o ambiente onde está inserido e sem tornar a leveza natural do estilo uma diminuição das dores sofridas. Uma preocupação que torna o final (que está longe de ser final) da trajetória de Jamie ainda mais feliz.
Veja o Trailer:
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