Sinopse: Fernando, 33, um cineasta brasileiro falido, mergulha em uma jornada entre Brasil, Portugal e Moçambique, em busca de pistas sobre o passado violento de seu avô. Uma tragicômica fábula tropical.
Direção: Felipe Bragança
Título Original: Um Animal Amarelo (2020)
Gênero: Drama | Fantasia
Duração: 1h 55min
País: Brasil | Portugal
O Duplo
Onde termina Felipe e onde começa Fernando? É possível nos livrarmos dos fantasmas coloniais que nos perseguem? Dariam eles trégua a um bem intencionado cineasta que busca somente cumprir com uma promessa feita ao avô? Em “Um Animal Amarelo” as nossas cicatrizes são revisitadas sem que tenhamos controle de quando e onde irão nos confrontar. Após transitar por alguns festivais, faz parte do Festival de Gramado desse ano.
Em um filme que utiliza a metalinguagem, o cineasta construído por Felipe Bragança toma emprestado um pouco do diretor, mas também um tanto de todos nós que fingimos esquecer as barbaridades que construíram essas terras. Às vezes, elas irrompem em uma escavação, mas geralmente as carregamos como um fardo sem saber muito bem o que fazer com uma herança maldita.
Fernando cresce conforme a angústia toma conta de seu corpo. Sobre o animal amarelo que o acompanha desde a infância, uma mistura de Obalauê e índio ancestral canibal, não há motivos para se desesperar. Faz parte desse passado que o acompanha e com o qual já se acostumou a viver.
O pior dos medos é encarar sua herança e descobrir que, talvez, possa ser mais parecido com seu avô do que inicialmente imaginava. Nosso duplo tão temido.
Fugindo desse destino, vai à Moçambique atrás de respostas e de algo que o distancie desse monstro. Os pormenores mais fantásticos dessa fábula, deixo para que descubram em uma próxima exibição.
A fábula construída por Felipe Bragança conecta Brasil, África e Lisboa, nossa tríade fundadora. Felipe vem há alguns anos investigando de maneira bem particular nossas origens contraditórias e nossas feridas purulentas. Seu Fernando, nos faz lembrar um pouco de um de nossos mitos de origem: um Macunaíma, que busca o prazer e joga com seu carisma.
Nesse “Um Animal Amarelo” ele consegue, de maneira desconcertante, trabalhar com seu elenco grandioso de maneira a desenvolver todas essas conexões que ora fábulas, ora possíveis trabalham em outro plano. As frases mais desconexas fazem total sentido nessa realidade transversal que sempre nos atravessou. Isabél Zuaa mais uma vez se destaca, assim como foi em “As Boas Maneiras“, “Kbela” e o “Nó do Diabo“.
Bragança faz seu próprio mundo no qual o centro do Rio, o centro de Lisboa e uma parte de Moçambique convivem na mais perfeita harmonia. O brasileiro torna-se esse mesclado de coisas nas mãos de quem um dia foi sequestrado por Portugal “com suas eternas merdas” e apagou suas raízes negras.
Mas o animal volta. Em figuras irreconhecíveis.
Veja o Trailer:
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