Sinopse: O filme conta o encontro da sensitiva Silvia, uma jovem pesquisadora de mercado que enfrenta as agruras do subemprego enquanto aguarda o resultado de um concurso público, e da graciosa Jerusa, uma senhora de 77 anos, testemunha ocular do cotidiano vivido no bairro do Bixiga, recheado de memórias ancestrais. No dia do aniversário de Jerusa, enquanto espera sua família para comemorar, o encontro entre suas memórias e a mediunidade de Silvia lhes proporciona transitar por tempos e realidades comuns às suas ancestralidades.
Direção: Viviane Ferreira
Título Original: Um Dia com Jerusa (2020)
Gênero: Drama
Duração: 1h 14min
País: Brasil
Entre Nós
Com roteiro e direção de Viviane Ferreira, que já deu imprimiu algumas importantes marcas no cinema nacional, “Um dia de Jerusa”, chegou esta semana ao catálogo da Netflix no início dessa semana depois de ser exibido na 44ª Mostra de Cinema de São Paulo. Em 2020 ainda foi indicado ao AMAA – Africa Movie Academy Awards como melhor filme realizado em diáspora.
Com a espiritualidade a ser desenvolvida, Silvia (Débora Marçal) luta para sobreviver ao cotidiano enquanto trabalha aplicando questionários para uma marca de sabão em pó no bairro do Bixiga em São Paulo e enfrenta o vestibular e outros tantos embates sobre seu futuro. Soma-se a isso a tensão de contar para a avó sobre o namoro com Letícia.
É na rotina de trabalho que Silvia encontra Jerusa, interpretada por Léa Garcia. E é em seus braços que viaja na ancestralidade. Nas águas aparentemente calmas do Rio Saracura, rio com nome de ave, que ainda vive por entre o asfalto de São Paulo. Com suas centenas de nascentes, o rio que anuncia sua presença de tempos em tempos durante o filme, embala as histórias da senhora e o transe da jovem deslocando-a nos sentimentos e na nostalgia de Jerusa, mas também traçando paralelos dolorosos entre as histórias das duas mulheres negras – Silvia toma as rédeas da história que não irá se repetir com ela.
Todo simbolismo das imagens fotográficas (imaginárias/imaginativas ou não) também nos remetem a própria ideia de uma mulher negra que documenta os seus. Seus familiares, mas também seu tempo, à sua maneira. Assim, o encanto de Jerusa pela imagem nos presenteia com a continuidade da contação de história a partir de um outro lugar.
Foi nas margens do Saracura que um dos maiores quilombos urbanos existiu, o Quilombo de Saracura. Nesse mesmo território que posteriormente ganhou status de bairro italiano e recentemente até de bairro “cool”, Silvia sente as impressões ancestrais em seu corpo. Através de histórias com as quais jamais pensou em se conectar começa a entender que, na verdade, estamos todas conectadas. Mas agora não somente nas margens dos rios como poderiam (ou talvez ainda possam) querer, mas atrás das câmeras, na frente delas e nas cadeiras das melhores faculdades do país.
Por muitos motivos “Um dia com Jerusa” é um filme histórico. Consegue o feito de maneira leve, sem cenas apelativas e com debates centrais sobre o papel da mulher negra e as relações geracionais entre nós.
Assista também ao Curta-Metragem “O Dia de Jerusa”: