Uma Canção Para Latasha

Uma Canção para Latasha Crítica Documentário Netflix Oscar 2021 Pôster

Sinopse: “Uma Canção para Latasha” é um documentário em curta-metragem que, com base nas memórias do prima e melhor amiga, reinventa a vida de Latasha Harlins, uma garota negra de Los Angeles baleada e morta pelo dono de uma loja de conveniência em 1991.
Direção: Sophia Nahli Allison
Título Original: A Love Song for Latasha (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 19min
País: EUA

Uma Canção para Latasha Crítica Documentário Netflix Oscar 2021 Imagem

Canções de amor e de protesto

Enquanto permanecemos abismados pelas revelações (que se mostram ainda mais cruéis) do julgamento de George Floyd, o curta documental “Uma Canção para Latasha”, disponível na Netflix, é indicado ao Oscar na categoria melhor documentário em curta-metragem. A tragédia de Latasha se deu em 1991, ou seja, há 30 anos. Embora o assassinato de Floyd tenha ocorrido em 2019, realizar que trinta anos depois – e trinta anos de intensas lutas e reflexões sobre preconceito racial e negritude no mundo – estamos aqui discutindo um crime tão brutal nos dá a sensação de repetição.

Latasha Harlins foi uma jovem morta à sangue frio em decorrência de uma confusão ao redor de um suco de laranja. Um suco de laranja. Apontada como uma das causas da série de manifestações que desencadearam os tumultos de 1992 junto ao caso de Rodney King, espancado por policiais, a morte de Harlins toma outras dimensões quando nos aproximamos da história através dos olhos de sua prima Christina e sua melhor amiga.

As duas mulheres nos conectam ao caso de Latasha para além da tragédia e brutalidade. Nos apresentam à vida que poderia ter sido. O filme é um apanhado de memórias que contam a história de uma menina que já havia perdido a mãe para a violência e queria, de alguma forma, transformar as possibilidades que lhe foram dadas com estudo e empatia. A palavra empatia se encaixa ao projeto de vida que Harlins tinha para si. Era assim que imaginava poder transcender às desigualdades impostas pela sociedade.

Utilizando-se de sequências encenadas o documentário de Sophia Nahli Allison, jovem negra também de Los Angeles e dez anos mais nova que Harlins, é um daqueles documentos que nos despedaçam por inteiro. Não há como sair de “Uma Canção para Latasha” sem o gosto amargo da arbitrariedade que toma alguns corpos que se sentem no direto de arrancar os sonhos duramente construídos de outros. Foi assim com Latasha, foi assim com Rodney, foi assim com George. E, infelizmente, é assim com muitos outros. Diariamente.

Ver as fotos de Harlins, escutar as palavras doloridas de quem a amava e ter a oportunidade de acompanhar suas próprias expectativas machuca. E, depois eles perguntam porque nós enlouquecemos.

Ouça “Don`t Forget About Me”, da trilha-sonora do filme:

 

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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