Sinopse: Depois de 30 anos de exílio em Paris, Jana viaja de volta a Vilnius, capital da Lituânia. Ela quer ver novamente o lago que Paulius, seu primeiro amor, chamava de Walden. O filme é um conto da juventude lituana antes da queda do comunismo. Entre as primeiras descobertas e o mercado negro estão os sonhos de liberdade e de partida para o Ocidente.
Direção: Bojena Horackova
Título Original: Walden (2020)
Gênero: Romance | Drama
Duração: 1h 25min
País: Lituânia | França
Dissonâncias
“Walden” começa com uma homenagem a Léo Banderet, jovem técnico de som francês que faleceu durante as filmagens do longa-metragem em um acidente de carro na Lituânia. A produção, escrita e dirigida por Bojena Horackova (parte da seção Perspectiva Internacional da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo) revisita a história de dois adolescentes que saíram daquele país e se exilaram na França no período de reabertura política com o fim do regime soviético. Uma maneira da cineasta, búlgara que também se estabeleceu em Paris na década de 1990, retornar a este assunto como mote.
Já em 1996, Bojena realizou um longa-metragem chamado “Mirek n’est pas Parti” (“Mirek Não Se Foi”, em tradução livre) que tratava de um grupo de tchecos que viviam na capital francesa. Desta vez, há uma transposição de espaço e de linha temporal. Boa parte dos acontecimentos do filme ocorrem no passado. O que desperta esse flashback comum é a lembrança saudosista de um lago, apelidado de Walden, na capital lituana Vilnius. Uma narrativa onde os personagens desenvolvem formas de resgatar o passado, criando paralelos com o presente.
Há algo em “Walden” que tira a carga dramática de sua trajetória. Por vezes parece que estamos testemunhando um conjunto de acontecimentos matematicamente pensados para que aquelas vidas se cruzem. Ao contrário de “Aranha“, que Roberta Mathias pontua muito bem em sua crítica sob a possibilidade de se manter uma tensão no ar, aqui há uma estilização de trama juvenil, com o ideal de redenção após perseguição política que não se sustenta. Não nos são providas tantas ferramentas de conexão, de empatia com aqueles personagens. A construção imagética, ainda mais vista em perspectiva de uma maratona de filmes de uma mostra tão abrangente quanto a de São Paulo, também não contribui.
Não que o longa-metragem deva ser condenado ao esquecimento, até porque uma sentença desta natureza merece macular obras de outra natureza e com pretensões bem mais fulgurantes. Todavia, Horackova prima por um excesso de verbalizações, que são pouco cativantes sem ser contextualizantes. O passado se sobrepõe de tal maneira que os resultados de tudo o que move aqueles personagens acabam se tornando algo indiferente. Dentro dele, parece que tudo ali se apresenta de forma virtuosa, mas de impacto comedido. Saber o fim da história se mostra prejudicial sob quase todos os aspectos, em um longa-metragem que quer criar expectativa sobre prisão motivada por perseguição política. Retornar sempre que possível à chegada de uma velhice tranquila potencializa essa perda. Aos poucos o espectador começa a se tornar insensível ao drama que a cineasta tenta impor na obra. Escolhas de uma montagem que entende que precisa mastigar relações de causa e consequência, abrindo mão da ampliação de conexões por parte do receptor.
“Walden” propõe uma redenção provocada por um casal que, antes que o espaço o qual ocupavam condenasse sua vida à imutabilidade, decidem ser a própria mudança. Porém, padece do mesmo medo por recomeços que seus protagonistas. Finca sua manifestação em sequências pouco dinâmicas, que decepcionam por manter sempre a ideia de que ali teremos o fim de um ciclo – o qual nunca acontece. Parece, afinal. que toda aquela busca trinta anos depois não se coaduna com a forma como a história foi contada e ter aquele lago sempre à disposição secou o desejo daqueles que deveriam ali mergulhar.
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