Yãmĩyhex – As Mulheres-Espírito

Yãmĩyhex – As Mulheres-Espírito Crítica Pôster

Sinopse: Após passarem alguns meses na Aldeia Verde, as yãmĩyhex (mulheres-espírito) se preparam para partir. Os cineastas Sueli e Isael Maxakali registram os preparativos e a grande festa para sua despedida. Durante os dias de festa, uma multidão de espíritos atravessa a aldeia. As yãmĩyhex vão embora, mas sempre voltam com saudades dos seus pais e das suas mães.
Direção: Sueli Maxakali e Isael Maxakali
Título Original: Yãmĩhex: As Mulheres-Espírito (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 16min
País: Brasil

Yãmĩyhex – As Mulheres-Espírito Crítica Imagem

Antropologias Intraduzíveis

Vencedor do Prêmio Carlos Reichenbach, dado pelo Júri Jovem ao melhor longa da Mostra Olhos Livres na Mostra Tiradentes 2020, “Yãmĩyhex – As Mulheres-espírito”, sem dúvida, é uma obra muito prejudicada pela experiência audiovisual a qual precisamos nos socorrer com salas de cinema fechadas e festivais de cinema acontecendo de forma online que, apesar de tornar mais acessível e possibilitar a continuidade do mercado e do circuito, tem limites em relação às percepções e sensações, mesmo que o espectador se esforce.

A bonita obra de Sueli e Isael Maxakali é daqueles deslumbramentos visuais que só um olhar de pertencimento, de um audiovisual representativo, consegue alcançar. A manifestação de um cultura que os pajés da Aldeia Verde (Apne Yux) Maxakali sempre determinaram que não deveria ser traduzida para homens ou linguagens brancas, sob o risco de ser mais um elo de ancestralidade quebrantado. Há momentos em que os próprios realizadores admitem não compreender totalmente certas liturgias. O que se apresenta no longa-metragem são os dias finais do período das chamadas mulheres-espíritos naquela comunidade.

As yãmĩyhex têm um legado de força e autodeterminação, que elas transmitem sempre que passam suas temporadas na aldeia. Só que, assim como elas exercerem sua liberdade, para que aquele povo aplique o conhecimento, é preciso partir – permitindo que seus descendentes também sejam livres. Os que ficam, então, preparam refeições, promovem festas e costuram para que os espíritos façam suas transições finais com muito colorido e alegria.

Após um início em que rituais ligados ao feminino e ao masculino são representados de forma isolada, Sueli e Isael apostam na união plena daquela comunidade. “Yãmĩyhex – As Mulheres-espírito”, como já mencionamos, é marcada pela busca por incomunicabilidade, fazendo com que o espectador tenha diante de si apenas a força. Aliás, as forças: imagéticas, sonoras e ancestrais. Porém, dentro dessa proposta antropológica, ficamos prejudicados por não conseguir absorver o poder do filme como conseguiríamos por outros meios.

Raramente aqui na Apostila de Cinema seguimos por um caminho dessa natureza. Aceitamos antes mesmo de ousar publicar um texto a fluidez das relações, das ferramentas. Por sinal, se não fosse a democratização de acesso forçado pela crise sanitária mundial, a logística provavelmente nos impediria de assistir à essa produção. Quando chegasse a nós, dificilmente não o seria pela mesma via a qual assistimos. Mas não há como negar que a obra merece grandes salas, telas e sistemas de som – além de um conjunto de vivências extra-sessão fundamentais para tornar aqueles momentos em Tiradentes fundamentais para, desculpa Benjamin, uma aura da obra tão intraduzível para o público em casa quanto as liturgias daquele povo.

Isso está longe de ser uma crítica a “Yãmĩyhex – As Mulheres-espírito”, pelo contrário. A forma dos cineastas de criar uma narrativa, todo o processo de incursão sem se valer de explicações ou entrevistas, torna o filme um expoente dessa produção audiovisual representativa – que sempre teve na mostra mineira sua morada e que foi merecidamente laureada. Cada nova manifestação dessas mulheres são arrepiantes, a maneira como a noite cai e traz com ela a presença dos espíritos. Durante o dia, uma celebração que nos remete mais a uma festa popular, com jovens e crianças criando laços que os mais velhos renovam sempre que possível. Uma comunidade que precisou se fechar por questão de sobrevivência após um surto de sarampo e que precisa – e deseja – ter os seus muito próximos. Um ciclo que só Sueli e Isael Maxakali e sua união como representante do povo e talentosos realizadores poderia nos apresentar.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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