2020

2020 Documentário Hernán Zin Crítica Pôster

Sinopse: Quando a pandemia começou, Hernán Zin tratou de retratá-la de todos os ângulos. Foram quatro meses de filmagem com acesso especial a UTIs, casas, ambulâncias. Um documento singular para tentar digerir o trauma que vivemos.
Direção: Hernán Zin
Título Original: 2020 (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 33min
País: Espanha

2020 Documentário Hernán Zin Crítica Imagem

Sem Fuga da Realidade

Como parte da mostra paralela O Estado das Coisas do Festival É Tudo Verdade 2021, optamos por fazer uma sessão dupla de “2020” com o representante da competitiva internacional do dia, “Paraíso“. Em comum, a chance de inaugurar debates sobre os reflexos da pandemia de covid-19 na sociedade. Se a obra portuguesa falava sobre os meses que antecederam a crise sanitária e o isolamento social, o documentário espanhol dirigido por Hernán Zin, traz o que havia de mais urgente nas primeiras semanas em que o número de infectados começou a aumentar no Ocidente – mostrando todo nosso despreparo para o combate.

Assim como sentenciamos em “Sob Total Controle“, estamos diante do filme que não gostaríamos de assistir. Ainda mais neste momento, em que vivemos o pico de infecção e mortes (soa absurdo repetir isso depois de mais de uma no de pandemia). O cineasta acompanhou profissionais das áreas mais afetadas, trazendo um retrato fiel e cruel da forma avassaladora como a doença chegou na Europa. Portanto, depois de evitar produtos audiovisuais como “Por um Respiro” e “A Corrida das Vacinas“, minisséries documentais da GloboPlay, o É Tudo Verdade nos convocou a olhar para o espelho.

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Serão muitos os caminhos de leituras sobre o que estamos vivendo. “2020” é um pouco como “Coronation” – que Ai Weiwei fez à distância e mostrou o comportamento da China em Wuhan quando a doença começou a se alastrar. Todavia, segue um viés mais humanitário e, por tabela, ligeiramente sensacionalista. Traz imagens muito fortes de atendimentos em centros de terapia intensiva, por exemplo. A montagem segmenta a obra e tem início nos hospitais, acompanhando o médico Gabi Heras, que conta como foi receber o primeiro infectado em estado grave, um senhor de 77 anos.

O coronavírus do início de 2020 não é mais o mesmo de meados de 2021 – e nem a sociedade. A ideia de que deveríamos proteger os mais velhos e pessoas com comorbidades se transformou em uma roleta-russa, muito pela incapacidade que tivemos de forçar o Estado a nos manter a salvo. Com isso, imagens como os grandes centros urbanos totalmente desertos e pessoas interagindo das janelas de suas casas como se não saíssem mais de casa, soam datadas.

É preciso dizer que o filme não é recomendável para aqueles que optaram pela fuga como maneira de manter a saúde mental em condições menos piores. Evitar o noticiário e saber como está o panorama mundial é uma tática, assim se debruçar em trabalhos que o tornem desnecessariamente produtivos (como foi meu caso pessoal). Portanto, é muito difícil não analisar “2020” sem ressaltar o quão mal faz todas as lembranças do período inicial deste processo. O medo do desconhecido e a ausência de certezas sobre as formas de contágio, surgem ao lado da falta de recursos materiais e humanos para o combate. Parece, por vezes, que nunca sairemos deste pesadelo e revisitar o início disso tudo aumenta a indignação e faz perguntar: como chegamos até aqui?

Depoimentos diretos sobre trabalhadores de casas de saúde da Espanha, dizimadas pela covid-19 ter se alastrado de maneira rápida entre os residentes. Falas de voluntários que ajudam cachorros abandonados e resgatados contando como aumentou a quantidade de animais sem donos, não apenas pela morte, mas pelas dificuldades econômicas. Bombeiros e funcionários de funcionários demonstrando cansaço pelo excesso de resgates e enterros, com pessoas enterradas sem saber quem são. Imagens que cada vez sensibilizam menos pela naturalização da morte, cada vez em ondas maiores e tomadas por crueldade.

Se o documentário sobre a maneira como Donald Trump lidou com tudo isso se esconde na edição de uma grande reportagem, tornando a experiência próxima das reportagens que invadem nossas casas diariamente, “2020” é a mais pura realidade. Uma pena que, por trás delas, qualquer tentativa de esperança parece ser em vão. A alegria da dança de quem está vivo nas janelas, interagindo com os vizinhos, parecia ser tudo o que a gente precisava há um ano. Hoje, a gente só não quer nenhuma morte evitável com uma simples vacina que já existe.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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