A Última Floresta

A Última Floresta Documentário Crítica Luiz Bolognesi Pôster

Sinopse: Em uma tribo Yanomami isolada na Amazônia, o xamã Davi Kopenawa Yanomami tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade. Os jovens ficam encantados com os bens trazidos pelos brancos; e Ehuana, que vê seu marido desaparecer, tenta entender o que aconteceu em seus sonhos.
Direção: Luiz Bolognesi
Título Original: A Última Floresta (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 14min
País: Brasil

A Última Floresta Documentário Crítica Luiz Bolognesi Imagem

Lições Xamânicas

É através de um grande plano que avistamos o território yanomami na primeira sequência de “A Ultima Floresta”. A distância nítida entre a vida que essa comunidade (que se entende como tal) leva e a que nós – seja lá quem sejamos – insistimos em levar vem através do verde. Sobrevoando nos aproximamos desse território tão debatido e, ao mesmo tempo, tão desconhecido.

Luiz Bolognesi viu o filme que dirigiu passar em Berlim antes de chegar à sessão de encerramento do Festival É Tudo Verdade 2021 e foi com muito barulho que a obra chegou ao Brasil. O tema vem ganhando cada vez mais força em vozes como a de Ailton Krenak e a do próprio Davi Kopenawa, uma das personagens do filme e que também aparece em Gyuri (2019) ótimo documentário sobre o qual tivemos o prazer de escrever para essa plataforma.

Davi Kopenawa ganhou espaço como líder político e escritor, porém é xamã. Esse dom/função/vocação faz eco em todos espaços pelos quais transita. A luta do yanomami é pelo entendimento de que a nossa maneira de ver e sentir o mundo é diferente. Existe uma separação fundante do modo de viver moderno, capitalista, ocidental que não encaixa no olhar indígena. De tão míopes que somos, muita coisa fica de fora e, assim, somos incapazes de sentir o que está fora de nosso corpo (está mesmo) de maneira ampliada. Essa ruptura entre interno e externo, homem e natureza, sentimentos e racionalidade nos aparta. Assim nos afastamos das fumaças, dos ventos, dos cheiros, de tudo que não pode ser ao mesmo tempo visto, tocado e sentido. Mas existem outras maneiras de sentir e nos esquecemos delas no processo da evolução em um único sentido. O dos senhores.

Em “A Queda do Céu, o xamã defende a necessidade de se entender a floresta como parte de nós, como nossa mãe. O planeta nos deu origem, assim sendo sagrado. Essa sacralidade dos demais seres vivos que foi retirada pelo entendimento de que alguns são mais que outros.

Em “A Ultima Floresta” somos levados à nos aproximar dessa relação com o todo através da língua e das cores da floresta. Com uma fotografia que ressalta cada tom e também as fumaças dos rituais, Bolognesi nos aproxima do que durante tantos séculos a civilidade quis separar e destruir. Na terra que já habitavam antes dos europeus chegarem, os yanomamis falam com amor e gratidão, mas também com firmeza. Há que se defender o que restou.

Veja o Trailer:

 

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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