L.O.C.A. – Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor

L.O.C.A. Crítica Filme Telecine Pôster

“L.O.C.A.” chega ao Telecine. Confira crítica e entrevista com elenco e equipe de produção.

Sinopse: “L.O.C.A.” conta a história de três mulheres diferentes, mas que desenvolvem uma amizade inesperada ao conhecerem suas histórias numa das reuniões da L.O.C.A, a Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor. Manuela (Mariana Ximenes), Elena (Debora Lamm) e Rebeca (Roberta Rodrigues) descobrem que têm algo em comum: viveram um relacionamento tóxico e resolvem se unir para superar e se vingar.
Direção: Claudia Jouvin
Título Original: L.O.C.A. – Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor (2021)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 23min
País: Brasil

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Picadinho de Macho

Chegando neste domingo, dia 15 de agosto, no catálogo do Telecine, a produção nacional “L.O.C.A. – Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor” é mais uma comédia brasileira que parte da subversão às reproduções tóxicas e abusivas de estereótipos femininos para nos fazer refletir sorrindo. Na mais recente tentativa de expediente parecido, a cineasta Júlia Rezende levou texto original de Tati Bernardi para as telas em “Depois a Louca Sou Eu” (2019) e obteve um resultado bem diferente.

O longa-metragem, produzido por Carolina Jabor, dirigido por Claudia Jouvin e com uma equipe de produção formada majoritariamente por mulheres, assume a caricatura e o exagero – além de evitar que a problematização se dê para anistiar comportamentos. A protagonista Manuela (Mariana Ximenes) não usa tanto a narração, mas aparece no prólogo com um questionamento interessante ao espectador. Ela aborda o tema do filme pela necessidade imposta de nos associarmos afetuosamente a outros. Falar sobre as situações e sequências do filme seria uma enrolação que você que chegou até aqui não merece passar.

Caso sua busca seja por um incentivo para assistir – e recomendamos que nunca se “evite” filmes por motivos pré-concebidos – fique à vontade para dar o play. A produção da Conspiração encontra a linguagem e estética da Globo Filmes, com a preocupação atual de ser não apenas mais representativo, mas menos anacrônico – até porque o núcleo de humor da empresa, que conta com parte do elenco do filme, foi profundamente abalado há alguns meses pelas denúncias de ser um ambiente contaminado por assédios e abusos.

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Por mais que “L.O.C.A.” seja um olhar heteronormativo sobre os relacionamentos abusivos – uma maneira menos arriscada de desenvolvimento e que usa a vulnerabilidade como grande fato gerador, ele não é agressivamente padronizado quanto “Missão Cupido” (2020), que chegou à mesma plataforma em uma narrativa desastrosa sobre o amor. Jabor e Jouvin confirmaram em entrevista coletiva registrada pela Apostila de Cinema a sensação que tive quando assistir ao filme para me preparar para o encontro. Há uma atualização de um tema importante que usa a rede do MADA (Mulheres que Ama Demais Anônimas) como mote.

A primeira vez que esse comportamento foi tratado pela ficção se deu na novela “Mulheres Apaixonadas” (2003), com a personagem Heloísa, vivida por Giulia Gam. Ali a opinião pública ainda vinculava as mudanças de comportamento motivadas pelos relacionamentos com a visão misógina de características típicas do universo feminino. Portanto, toda revisitação ao debate é bem-vinda. Passados quase vinte anos, enquanto que o longa-metragem de Rezende transforma uma jovem com transtornos de ansiedade em alvo, “L.O.C.A.” mistura referências de uma abordagem em que a vingança é parte do jogo de superação dos relacionamentos abusivos.

Mais do que o exagero, o erro é algo possível quando estamos em busca de melhorar, ao mesmo tempo que procuramos propor lições. Algo que a dramaturgia fez com muito sucesso em outra telenovela, “Quatro por Quatro” (1994-1995). Por mais que o texto de Claudia Jouvin ainda caia em algumas reproduções de estereótipos, a jornada de Manuela e suas associações com Elena (Débora Lamm) e Rebeca (Roberta Rodrigues) nos diverte, com um antinaturalismo que deixa as tintas do humor mais leves, permite o riso sem culpa (ao contrário da carga pesada que o cronismo de Bernardi transportado para as telas se deu).

Ela se dá com a frustração em relação a Carlos (Fábio Assunção), um cafajeste clássico que cria obstáculos para assumir a namorada que, claro, é na verdade a amante. A própria imagem do galã como exemplo de boy lixo, depois de décadas de serviços prestados como bom moço, é outra forma de subversão sutil. Aqui os diálogos contemporâneos envolvem a falta de conexão da mídia tradicional com as questões que as novas gerações colocam na mesa, uma humanização de todas as representações – mesmo na base clássica da comédia enquanto espaço de catarse pelos erros e defeitos – bem mais coerente com o audiovisual atual e até a atração de iniciativas como os cada vez mais utilizados exposed, de uma maneira que traz a piada sem ignorar a importância daquelas atitudes.

Com um elenco de apoio afinado no humor, do veterano Luís Miranda ao cada vez mais celebrado (de forma merecida) Erico Brás, o filme se sai bem na tentativa de mediar suas pretensões. Apesar do equilíbrio não ser um objetivo, tornar todo o arco de personagens falível permite melhores percepções por parte do espectador. A comédia ainda segue como um terreno perigoso de fomento de discursos atravessados e os últimos anos trouxeram uma leitura problematizada da arte – nem sempre encarada de maneira positiva por parte dos realizadores e do público.

Portanto, mesmo que a ressignificação que “L.O.C.A.” queira atingir seja feita ainda de forma tradicional, com ar de uma sitcom brasileira feita para segurar 20 pontos de audiência depois da novela das 9, é significativa pela maneira como aplica um olhar crítico – talvez embrionário para você, mas norteador para outros – sobre um assunto que deveria ter sido superado há muito tempo – e ainda não é por reproduções de preconceitos de realizações similares.

Veja o Trailer:


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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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