Sinopse: “Perpétuo” é um curta-ficcional de Lorran Dias. Nele, o diretor conta a história de uma família moradora de Nova Iguaçu, município localizado na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Cada qual tenta, a sua maneira, escapar da rotina que parece os sugar para uma realidade cíclica.
Direção: Lorran Dias
Título Original: Perpétuo (2018)
Gênero: Drama
Duração: 25min
País: Brasil
Uma Dor que Dói na Pele
Em seu curta de estréia, “Perpétuo“, Lorran Dias centraliza a narrativa na Baixada-Fluminense. Uma Baixada identificada pelos corpos, mas também pelos espaços, como anuncia a Estação de Trem de Comendador Soares. Esta é mais uma das obras que Lorran inseriu no projeto TV Coragem, apesar do curta já possuir carreira própria antes de sua inserção na plataforma.
Não somente por isso irei falar de “Perpétuo”, mas porque acredito que ele sintetiza a vontade maior do diretor e roteirista, como apresentado pela própria Anarca Filmes, coletivo do qual faz parte: “Pela autoafirmação periférica no Cinema e descentralização constante dos meios de produção audiovisual. Por uma contribuição para a discussão decolonial no campo das imagens afrobrasileiras“.
A apresentação do eixo familiar é feita a partir de Silvia e de seu marido Alex e, já na abertura, o diretor diz do que se trata. Uma tentativa de reafirmar os sonhos de uma parcela da população carioca que vive suas vidas distante dos cartões-postais. De uma parcela que precisa conjugar os sonhos à exaustão de um cotidiano familiar difícil, intenso e, por vezes, doloroso.
Não é eventual a participação da amiga Lucia, personagem que aparece rapidamente, mas que deixa ecoar uma pergunta que continua a martelar em nossas cabeças ainda após o término do filme. Lucia, que tem fibromialgia, pergunta: “É a dor que leva ao descontrole emocional ou o descontrole emocional que leva à dor?“
Sobre a doença, em si, muito ainda há de ser investigado. No entanto, sabemos que é mais comum em mulheres, mas na América Latina acomete a um número maior de homens que em outros territórios. Ainda assim, o estresse é apontado como uma das principais causas. Não é eventual também que Lucia apareça como uma mulher sem tempo, assoberbada e atropelada pelas necessidades econômicas que se impõem.
Enquanto isso, em um árdua tentativa para conseguir emprego, Alex nos mostra que, nesse espaço, a vida de ninguém é fácil. O que se consegue, é com luta e muita dor. Na pele.
Insistentemente, os sonhos se perpetuam. Seja na vontade de cantar de Silvia ou na fantasia infantil que vê chegar um furacão à Nova Iguaçu. Afinal, “cada voltar é um recomeço”, diz o o ímã de geladeira que prende o flyer de uma escola de idiomas.
Ao colocar as duas gerações, uma ao lado da outra em “Perpétuo“, Lorran talvez sonhe – assim como eu – com o dia no qual seremos todas uma Whitney Houston em potencial. Em realidade, já o somos, só falta a algumas de nós tempo, dinheiro, aulas de inglês e o olhar mais atento de um Governo que faz questão de esquecer da existência de uma grande parcela da população.
Veja o trailer: