Cine Ceará | Mostra Competitiva 02 de Curtas
Criando Referências
A sessão da Mostra Competitiva 02 de curtas-metragens brasileiros do 30º Cine Ceará pode ser pensada como três obras que buscam, a todo o instante, o desenvolvimento de uma multiplicidade de referências, não apenas imagéticas. Traçam diálogos que somente o audiovisual e quem os produz e consome consegue criar. O filme que abre a lista é “Magnética“, de Marco Arruda. A Apostila de Cinema pode assistir – e falar sobre ele – no recorte regional do 48º Festival de Gramado (e você pode acompanhar nossas impressões sobre a sessão na qual ele estava inserido clicando neste link).
Já chamava a atenção naquela primeira visita ao curta-metragem a exploração de simbologias que quebrantavam os ideais de primitivo e civilizado, de antigo e moderno – inserindo a tecnologia como uma personagem, como uma visitante de uma festa a qual a sociedade já montou. Aqui, estamos falando mais de vínculos comunitários e sensações de pertencimento, com as referências mencionadas totalmente vinculadas ao que o cineasta entende ser uma base de conexão com o que absorveu do cinema. A animação, ao ser revista, ganha pontos na forma com a qual alinha essa simbologia, esse manancial de imagens já incrustradas em nosso pensamento – com uma história bastante divertida.
Já “O Sal da Vida” tem uma proposta simples para falar da referência familiar. O diretor Danilo Carvalho produziu a obra em parceria à distância com sua filha Dinorah (de onze anos) durante o período de isolamento social o qual estamos passando em virtude da pandemia do novo coronavírus. Ele, então, resgata um dia típico de verão em que ele ensinou sua filha a surfar.
Assistido no mesmo dia de “As Boas Intenções“, longa-metragem argentino que participou da mostra ibero-americana de longas, é mais uma obra que cuida da relação entre pai e filha que não moram na mesma casa. Desta vez, usando uma experiência, o recorte de um momento. É mais uma produção de 2020 que usa arquivos anteriores para que os ressignifique dentro do processo de montagem. Tivemos outros exemplos aqui na Apostila e, geralmente, remontam a materiais mais antigos. Aqui fica clara a intenção de Danilo de imortalizar um grande momento na sua trajetória como pai (e certamente na de Dinorah como filha).
Por outro lado, no que diz respeito à protagonista, também é um curta-metragem que traz um dos primeiros momentos em que a menina terá a sensação de força e de poder, quando alcança o objetivo de ficar em pé na prancha. É daquelas experiências que temos quando jovens que – sem perceber – se desdobram em muito conhecimento. Esperamos que, no futuro, Danilo Carvalho continue dividindo suas bonitas percepções sobre o que realmente importante na vida – e que Dinorah siga encontrando e superando desafios como os daquele dia na praia.
O curta-metragem que fecha a Mostra Competitiva 02 é “Quitéria“, de Tiago A. Neves. Mais um vistoso projeto do Cinema Instantâneo, que constrói uma narrativa e filma em uma cidade do interior da região nordeste em poucos dias. Desta vez, o cineasta nos leva a Cabaceiras, município da Paraíba.
Interessante que, ao traçarmos uma linha falando de referências – pensada durante a exibição do segundo filme – não imaginávamos que Neves seria bem mais referencial do que de costume nesta produção do Cinema Instantâneo. Tanto na temática quanto nas propostas de imagem – incluindo o uso da fotografia em preto e branco – há um resgate de Bergman aqui. Arly Arnaud interpreta uma senhora que, pelo que podemos imaginar da sinopse, está em busca da liberdade.
Todavia, o que encontramos aqui é um embate entre o conformismo pela solidão e a tentativa de preenchimento do espaço-tempo. Em um país cada vez mais urbano, a velhice (uma fase que traz a dificuldade causada justamente pela solidão) se vê agravada ao estar inserida em um território cada vez menos receptivo. É uma forma também de unir essa referência de um cinema clássico com um cenário tipicamente brasileiro em processo de reconstrução – ou de extinção.
Ficha Técnica da Mostra Competitiva 02:
Magnética (Marco Arruda, 16′ – Rio Grande do Sul, 2020)
Sinopse: Em uma cidade habitada por seres desenhados, um jovem indígena testemunha uma aparição holográfica. É a chegada de uma entidade de materialidade desconhecida. Com uma presença misteriosa e alegorias exóticas, ela passa a encantar os moradores, despertando os seus sentidos mais insanos.
O Sal da Vida (Danilo Carvalho, 4′ – Piauí, 2020)
Sinopse: Filha e Pai vivem uma poética aventura no mar, uma conexão de amor que transcende a paternidade, onde o afeto é a maior onda!
Quitéria (Tiago A. Neves, 14′ – Paraíba, 2019)
Sinopse: “Liberdade é querer o que se quer”.
Assista ao debate sobre os filmes:
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