Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars Crítica Pôster

Sinopse: O sonho deles é participar da maior competição de música do mundo, o Festival Eurovision da Canção. Mas, intrigas de rivais e acidentes no palco vão testar a relação entre esses dois.
Direção: David Dobkin
Título Original: Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga
Gênero: Comédia | Musical
Duração: 2h 3min
País: EUA | Islândia | Canadá

Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars Crítica Imagem

Parece – e É

Em determinado momento de “Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars”, o famoso apresentador britânico Graham Norton, fazendo uma participação como ele mesmo, analisa a apresentação do duo fictício Fire Saga. Ele diz “bom, não é tão ruim quanto imaginamos“. Parece uma pequena gag autoreferencial inserida pelo diretor David Dobkin, quase como uma quebra de quarta parede que parece brincar com o fato de que uma nova comédia de Will Ferrell em 2021 não seria tão mal assim. Pena que não é verdade.

Depois de trazer para o seu catálogo projetos a serem desenvolvidos por Adam Sandler, a Netflix lançou sem muito alarde este longa-metragem em junho do ano passado e assustou os maratonistas dos indicados ao Oscar deste ano com uma menção à melhor canção original, a linda “Husavik“, interpretada pelo ator ao lado da sueca Milly Sandén – dublada pela protagonista Rachel McAdams. Como prova de amor pela arte, demos play nessa promessa de pouca diversão. O filme conta a história de dois amigos de infância, Sigrit (McAdams) e Lars (Ferrell), que sonham em levar a Islândia à final do concurso Eurovision, muito popular na Europa. O grande desafio é que eles, aparentemente, são bem ruins.

Com isso, “Festival Eurovision da Canção” leva ao Fire Saga à mistura de narrativa do azarão, do patinho feio que é visto pelos outros concorrentes como competidor sem chances com um crush mal resolvido dos personagens. Após a explosão de um barco em que todos os outros postulantes à vaga do país morrem, sobram apenas eles para viajarem a Edimburgo, na Escócia, para a fase internacional. Lá eles encontrarão figuras como o russo Alexander Lemtov (Dan Stevens, que pediu para sair de “Downton Abbey” achando que teria uma carreira mais próspera do que a que efetivamente tem) e a grega Mita (Melissanthi Mahut). Eles serão uma mistura de antagonismo e obstáculo para o sucesso quase impossível de Sigrit e Lars.

A primeira ponta do filme abusa da piada que mostra a Islândia como um país exótico, quase formado por vikings e camponesas. Traz a figura do veterano Pierce Brosnan como reforço de peso, apesar do ator aparecer ali como piloto automático. Demi Lovato faz uma participação especial como a cantora Katiana, a vítima da explosão mais promissora do país, mas sua personagem é bem mal aproveitada. O texto de Will Ferrell, ao lado de Andrew Steele (vinte anos de “Saturday Night Live” e quase nada nos cinemas), cai no mesmo erro da filmografia do comediante: o foco da piada precisa ser ele. O arsenal de bombas na carreira do ator parece maior do que boa parte dos Exércitos mundiais. Demorei para achar em que ponto de sua carreira eu desisti de acompanhá-lo e lá se vão mais de dez anos, com “Quase Irmãos” (2008).

Ao entender que seu humor é o único que funciona, o desenvolvimento da história sofre várias quebras para repetições de piadas sobre o tamanho do próprio pênis, trazendo à obra um ar de início de século (qualquer século, pode escolher), período em que achávamos graça nesta abordagem. Enquanto o que há por trás de “Borat 2: Fita de Cinema Seguinte” nos traz de imediato uma sensação de atualização de representação, aqui Ferrell faz exatamente a mesma coisa de vinte anos atrás – apenas em uma intensidade menor.

Ao contar com uma talentosa companheira de cena, assistimos Sigrit ganhar vida própria e passar ao largo do mal gosto que envolve Lars. Já em relação à Islândia, a ideia de que o país precisa manter longe a sanha do turismo é uma proposta interessante na trama, assim como a ideia de união da população por conta da torcida – que lembra muito o que aconteceu na Eurocopa de 2016, quando eles chegaram a eliminar a Inglaterra e caíram nas quartas-de-final para a França. Dois anos depois, as expectativas foram frustradas na Copa do Mundo de 2018, quando saíram ainda na primeira fase – mas ganhava ali as manchetes por um fator não-exótico.

Pelas características de seu território, a Islândia sempre será uma pequena entre gigantes – e sua economia nunca será robusta pelas limitações naturais do país. O filme reforça a ideia, mas, assim como já aconteceu em outras produções norte-americanas, o pano de fundo é feito quase como um protocolo, transportando as mesmas piadas baseadas nas bizarrices de comediantes do estilo de Ferrell. Quando parecia que as possibilidades de uma reunião de nações através da música levaria o longa-metragem para caminhos alternativos, lá está o humor envelhecido dando as caras novamente.

Tanto que os bons momentos de “Festival Eurovision da Canção” acontecem apesar do protagonista. Na apresentação da canção indicada ao Oscar ou em uma montagem musical com o elenco, em um medley que vai de Cher a Abba, por exemplo. O que Will tem a oferecer? Apenas um punhado de piadas fálicas. Ou seja, por trás de uma história baseada em um país que não quer mudar, está a carreira de um ator que parece sempre fazer o mesmo.

Ouça “Husavik”, canção indicado ao Oscar:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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