Sinopse: Em “À Espreita do Mal”, quando um garoto de 12 anos desaparece, o investigador principal Greg Harper luta para equilibrar a pressão da investigação e os problemas com sua esposa, Jackie. Uma grande tensão é exercida sobre a família e lentamente consome Jackie, fazendo ela perder o controle da realidade. Mas depois que uma presença maliciosa se manifesta em sua casa e coloca seu filho Connor em perigo mortal, a fria e dura verdade sobre o mal na casa dos Harper é finalmente descoberta.
Direção: Adam Randall
Título Original: I See You (2019)
Gênero: Crime | Drama | Horror
Duração: 1h 38min
País: EUA
Nem Tão Óbvio
Atenção! Essa crítica possui, em toda sua extensão, spoilers sobre o filme. Por isso, ao contrário do que fazemos habitualmente, recomendamos – para não afetar sua experiência (e por se tratar de uma produção recente) – que você leia apenas se não se importa com isso.
Bom, como você permaneceu aqui, acredito que tenha assistido ou não faça questão de suspense em relação a como uma narrativa se manifesta. Porque esse é o grande destaque de “À Espreita do Mal“, longa-metragem que chegou na última semana ao catálogo do serviço Netflix no Brasil. Um caso, infelizmente, raro de inventividade que perpassa tanto a base inicial da trama quanto a exploração das representações e imagens.
O primeiro fator possui méritos de argumento e roteiro, feito somente por Devon Graye (em sua estreia na função, após dezenas de pequenos trabalhos na televisão). Já o segundo deve ser colocado na conta do diretor londrino Adam Randall (em sua quarta produção como cineasta). A expectativa era de mais uma formulação baseada no lugar-comum de um filme algoritmizado de jump scare, o que faria todo o sentido diante da pilha de películas de gosto duvidoso que a gigante da distribuição por streaming tem nos entregado há alguns anos. Na história Jackie (a sumida Helen Hunt) é uma terapeuta bem-sucedida que não consegue ter boa relação com seu filho adolescente, Connor (Judah Lewis). O marido, Greg (Jon Tenney) é um investigador pressionado pelo sumiço de um garoto.
A forma como o “óbvio misterioso” se apresenta condiciona o espectador a antecipar o terror, a pensar nas supostas metáforas. No meio de uma casa organizada e sofisticada, cadeiras com estampa de vaca parecem destoar. Nada em “À Espreita do Mal” será o que parece. Mas, não é isso o que acontece em filmes assim? A forma, então, como Randall inverte o clichê de gênero é uma bem-vinda surpresa, ainda que não transforme a obra em um novo clássico inquestionável.
Assim como aconteceu em “Fuja“, a protagonista parece sofrer um duro processo de perda de credibilidade. Essa crise torna os acontecimentos aparentemente extraordinários à sua volta uma forma possível de acharmos que o terror sobrenatural ou fantástico irá se impor. Portanto, quando somos levados a conhecer o conceito de phrogging com os jovens Alec (Owen Teague) e Mindy (Libe Barer) subvertendo esse protagonismo, o que parecia um conjunto de provocações sobre objetos que somem ou ganham vida é, na verdade, um interessante quebra-cabeça.
A forma como Graye pensa o texto evita que essa primeira zona de conforto, de um curioso plot twist no meio da sessão, esfrie a narrativa a ser levada por Randall. O desenvolvimento da trama do casal, que começa com um vídeo caseiro que quebra nossa expectativa e rompe com uma convenção que o filme nunca teve (e que somos levados por nossas experiências a criar), ganha espaço para uma não tão óbvia revelação sobre “quem matou” e termina com a ideia de vinganças mal executadas e até onde elas perdurarão se novos agentes surgirem para tomar as dores dos outros.
Ao contrário de outras produções que pretendem traçar grandes paralelos sobre a realidade da classe média dos subúrbios dos Estados Unidos, “À Espreita do Mal” parece plenamente consciente de que tem nas mãos (e nas mangas) boas cartas e joga tudo apenas blefando com o espectador. Um exemplo de quando dar certo soa como algo inesperado.
Veja o Trailer:
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