Sinopse: Em “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, Katie é aceita na faculdade de cinema dos seus sonhos e seu pai decide aproveitar para realizar uma viagem em família para levá-la à universidade. Porém, seus planos são interrompidos por uma revolução robótica e agora os Mitchells terão que unir forças em família para trabalhar juntos para salvar o mundo.
Direção: Michael Rianda
Título Original: The Mitchells vs. The Machines (2021)
Gênero: Animação | Aventura | Comédia
Duração: 1h 53min
País: EUA | Canadá | França
Incríveis e Originais
O contrato amplo de distribuição da Sony Pictures junto à Netflix deve garantir uma melhoria no catálogo de lançamentos da plataforma de streaming nos próximos tempos. Já programado antes da parceria se consolidar, claro, a animação “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” foge da dinâmica tão criticada por nós nas produções da Pixar ano passado. A gameficação que vem ganhando status de manual dos longas-metragens que usam essa linguagem, direcionada ao público infanto-juvenil, encontra uma boa quebra de expectativa, um resgate na eficiente construção de personagens, provando que nem sempre revisitar tramas tradicionais é uma escolha ruim.
A pouca experiência da dupla de diretores e roteiristas Michael Rianda e Jeff Rowe não quer dizer muita coisa, a aventura da família contra o poderoso levante de máquinas é uma das experiências mais divertidas das últimas semanas. No filme, a protagonista Katie (Abbi Jacobson) é uma jovem em vias de se mudar para a universidade. Ela não aguenta mais o ambiente familiar, que se tornou um espaço de deslocamento para ela. Muito dessa culpa é apontada por ela ao pai, Rick (Danny McBride), que não soube fazer duas importantes transições: do fim da infância da filha e dos avanços tecnológicos. À moda antiga, ele não compreende que a forma preocupada e doce se transformou em “pagação de mico” e que não há mais graça em se voltar contra celulares e computadores.
Tudo caminha mal nos planos da protagonista. Quando ela parece, finalmente, se livrar dos outros Mitchells, seu pai tem a brilhante ideia de transformar uma simples viagem de avião da menina em uma road trip, ao lado dele, da mãe Linda (Maya Rudolph) e do irmãozinho Aaron (a voz do próprio Rianda). A estrutura familiar lembra, de imediato, “Os Incríveis” (2004), mas não se trata de uma história de super-heróis. A ação aqui é de perseguição das máquinas, que se voltaram contra a Humanidade e seu criador, Mark Bowman (Eric André). A tecnologia PAL (contribuição de ninguém menos do que Olivia Colman) começa a sequestrar todos os habitantes da Terra e os confinarem no Vale do Silício, em um plano de dominação do planeta sem a nossa presença.
As dinâmicas familiares são os destaques de “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas“, mas o filme não se contenta em ser apenas isso. A narrativa sofre a atualização dos novos tempos. Katie é especialista na produção de vídeos caseiros para o YouTube e espera um futuro profissional ligado às suas criações. Os cineastas, então, inserem na animação colagens e simulações de filtros de redes sociais, um expediente parecido com outras realizações que trazem esse frescor jovem, como “Alice Júnior” (2019). O ritmo mais frenético encontra o equilíbrio de representações carismáticas dos personagens. É como se as obras de ação dos últimos anos em animação encontrassem a sensibilidade pouco apelativa de “Meus Vizinhos, os Yamada” (1999), um dos filmes subestimados do Studio Ghibli.
Há pontas na trama que não se entrelaçam como mágica, o texto consegue fazer as trajetórias, mesmo que óbvias, em um processo. Acontece, por exemplo, com a maneira como Rick entende a arte, experimental, mas contemporânea e popular, de Katie. Já a jovem, que sabemos que resgatará seus vínculos a partir da viagem com os parentes, trabalha o medo de fracassar em sua mente, não apenas a partir da coragem inerente ao irmão Aaron, mas como reação ao ataque das máquinas. A crítica à tecnologia também está presente, sem o mesmo brilhantismos de longas-metragens como “Wall-E” (2008), mas também de forma eficiente.
Em “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” os humanos não se dão conta de que foram desativados, estão hipnotizados com o acesso gratuito à rede wifi. Justamente na semana em que a Apostila de Cinema fez uma revisitação a “Pulse” (2001) – para um texto especial para a revista de junho da Rosebud – o debate sobre como não olhamos mais para o lado por conta das telas que nos deixa em constante estado de catarse volta a aparecer. Vinte anos depois, com suas dinâmicas consolidadas, com os recortes geracionais definidos e com a família como uma das principais vítimas.
O sentimentalismo fica para o registro dos créditos, em que a equipe e seus parentes aparecem em fotos. Durante a sessão, a aventura não cede para lições de moral mastigadas. Elas estão ali e já nos cansamos de saber as mensagens por trás daquelas representações. O que queremos – e aqui conseguimos – é apenas nos divertir mais um pouco.
Veja o Trailer: