Sinopse: “A Ilha da Fantasia” nos leva a uma ilha mágica no meio do Oceano Pacífico que oferece aos seus visitantes a possibilidade de realizar seus sonhos e viver aventuras que parecem impossíveis em qualquer outro lugar. Porém, como avisa o anfitrião da ilha, Sr. Roarke (Michael Peña), realizar seus desejos pode não acontecer da maneira esperada.
Direção: Jeff Wadlow
Título Original: Fantasy Island (2020)
Gênero: Fantasia | Aventura
Duração: 1h 49min
País: EUA
Perdidos na Imaginação
Chegando aos cinemas algumas semanas antes do início da fase de quarentena, “A Ilha da Fantasia” não gerou a onda de interesse que merecia. A releitura do seriado clássico, que estreou em 1977 e se encerrou em 1984, com 152 episódios (irregulares, com as temporadas finais bem inferiores, é verdade) traz o olhar do diretor Jeff Wadlow e a produtora Blumhouse como elementos ainda mais promissores. A ideia de uma possível franquia era (será que ainda é?) real, mas alguma coisa no resultado final tornou a experiência próxima da genérica. Chegando nesta semana na HBO Max, com uma leva de quase duzentas produções da Sony Pictures, o distanciamento e a falta de uma sala de cinema aproximou o longa-metragem da média do mercado de streaming.
Por sinal, isso talvez seja o reflexo da perda total de encantamento que trouxe um ano e meio assistindo às obras na mesma televisão da sala, sem o invólucro social e nem o controle de emoções que somente um grande tela e um som potente permitem. Dito isso, contornando a sensação ruim que pessoalmente tive como aspecto subjetivo, a atualização do cineasta à criação de Gene Levitt quer nos aproximar de uma mistura de fantasia e terror de fácil digestão. Ao contrário da narrativa episódica, que colocava o Sr. Roarke e Tatoo em contato com novos visitantes a cada capítulo, com uma trama que se revolvia em pouco mais de meia hora, aqui há uma pluralidade de personagens, chegando com objetivos, aparentemente, distintos.
Wadlow explorará as particularidades de forma paulatina, aplicando um olhar persecutório com a câmera nos primeiros minutos. Adiciona ao mistério a ausência do mestre de cerimônias Tatoo, imortalizado por Hervé Villechaize e coloca como assistente pessoal de Roarke (no original vivido por Ricardo Montalban e aqui interpretado por Michael Peña), Julia (Parisa Fitz-Henley). Usa a mesma base de história, que é a de tornar aquele território um local onde um desejo de cada pessoa é atendido. Porém, não sabemos como os fatos se desenrolarão e é preciso respeitar a forma como a ilha trará suas consequências.
Já a estética original é sumariamente abandonada, “A Ilha da Fantasia” é mais próxima de uma aventura de terror com representações exageradas e de uma violência kitsch. Pode até soar divertida para o público, com alguns sustos ou imagens nojentas, mas iguala um produto conhecido pela sua originalidade e por uma base de fãs a um filme parecido com qualquer outro neste estilo. O segundo ato da obra opta por fragmentar o caminho do grupo de visitantes, se desdobrando em núcleos que telegrafam ainda mais a pegada episódica. Mais perto de uma resolução de casos da turma do Scooby-Doo do que algo que se passaria na ilha de Roarke.
Aliás, se um desavisado não soubesse o nome do filme e chegasse no meio dele poderia ser convencido de que se tratava de uma adaptação de qualquer outra coisa. Desde “Além da Imaginação” (1959-1964) a “Perdidos no Espaço” (1965-1968), passando por “Lost” (2004-2010), esta com suas viradas no roteiro que adicionam um elemento de controle externo mais parecido com a Iniciativa Dharma do que com os poderes da ilha. Parecia que as potencialidades que uma trama moderna, em que o contato externo pelos meios de comunicação pode ser uma ferramenta a ser utilizada, faria dessa atualização algo bem mais interessante. Não é, nem enquanto homenagem e nem enquanto uma nova construção narrativa. Isso vindo da Blumhouse, que obteve reconhecimento no mercado justamente por usar velhos argumentos para nos encantar com um toque contemporâneo.
Uma pena esse tropeço ocorrer logo em seu portfólio mais saudosista. A segunda metade da história traz até boas ideias, envolvendo a não obviedade da manutenção de apenas uma linha temporal, por exemplo. O choque geracional em um mundo tecnológico e globalizado seria um dos caminhos, mas é outra premissa abandonada. O ato final mais virulento, no qual as trajetórias se unem e aquele povo finalmente terá que confrontar seus demônios reais pode até trazer um impressão final positiva – assim como o epílogo que fornece o fan service que todos esperavam com o mascote de “A Ilha da Fantasia” ganhando forma.
Sem saber se é uma narrativa sobre autoquestionamento de insanidade, de rompimento com a ideia de presente, passado e futuro ou se uma vingança épica envolvendo um trauma de amor, aqueles que tanto sonhavam por uma nova versão de uma de suas séries favoritas deverão aprender na prática a grande mensagem do programa: cuidado com o que você deseja.
Veja o Trailer: