Algoritmo

Algoritmo Curta 2020 Thiago Foresti Crítica Poster

Assista entrevista e leia a crítica de “Algoritmo”, em cartaz na 15ª CineBH.

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Assista a entrevista com Thiago Foresti:

Sinopse: O governo totalitário de um futuro distópico controla o fluxo de informações e pessoas começam a sumir misteriosamente. O Algoritmo é capaz de investigar a vida digital dos cidadãos, roubar seus dados e definir alertas para indivíduos potencialmente subversivos. Nicole, uma jovem de 18 anos e estudante de veterinária, passa a ter sua vida investigada por esse Algoritmo.
Direção: Thiago Foresti
Título Original: Algoritmo (2020)
Gênero: Ficção
Duração: 20min
País: Brasil

Algoritmo Curta 2020 Thiago Foresti Crítica Imagem

No Ritmo da Distopia

Realizadores que colocam a criatividade a serviço da construção de uma história instigante (e, por que não?, divertida) vivem um momento curioso. É o caso de Thiago Foresti, que aparece na Apostila de Cinema pela terceira vez com o curta-metragem “Algoritmo“, em exibição na mostra contemporânea da 15ª CineBH – que tem como recorte temático em 2021, “cinema e vigilância”. Em meio ao confronto com a realidade, cada vez mais alterada em suas percepções por uma sociedade que parece não saber para onde está indo com a tecnologia; as provocações de obras como esta são capazes de atrair um público mais próximo do audiovisual tradicional para o território da produção nacional contemporânea. Isso a partir da mediação entre o insólito e a ficção distópica com a arte política, atacando as chagas que nos afetam nos últimos tempos.

O curta-metragem é um desktop movie um pouco diferente. Não estamos em um dispositivo pessoal ou em uma possível ilha de edição de alguém que cria. Somos convidados a participar de uma missão de monitoramento do Estado que amplia sua capacidade opressora e sufocante a partir dos desdobramentos tecnológicos. Reconhecimento facial e de voz, capacidade de criar relatórios imediatos e vinculação de dados para intuir com precisão o que um cidadão está fazendo e sua forma de pensar o mundo.

Um dos pontos que “Algoritmo” nos leva a refletir é sobre a confiança. Temos personagens que não conseguem mais tirar da cabeça a ideia de monitoramento constante – uma neurose que só tende a crescer porque esse tipo de ferramenta criada para intuir x induzir um padrão de consumo está em constante aprimoramento. Afinal, já se provou a maximização de lucros a partir desta abordagem. A partir do momento em que órgãos e autoridades absorvem essa tendência, nós enquanto indivíduos seremos lidos não apenas enquanto “fãs de cultura pop”, “apreciadores de vinho” ou “interessados em jazz”. As rotulações ganharão camadas mais específicas e também profundas em nossas ideias.

Já há em curso uma movimento de levar à ponta final dessa relação a informação baseada na demanda. Não à toa, o atual Presidente da República divide seus gabinetes de ódio em: fake news disparadas em redes sociais privadas como Whatsapp e Telegram; robôs (e perfis reais se comportando como robôs) em redes sociais de engajamento como Twitter e Facebook; lives com discursos que flertam com devaneios no YouTube; e entrevistas constantes na parcela de mídia hegemônica disposto a acolhê-lo: do programa policialesco da TV aberta aos canais de notícia que confundem liberdade de expressão com disseminação de mentiras – passando, claro, pela Jovem Pan.

A propriedade da informação é capaz de deturpá-la para, logo depois, colocar em uma embalagem atraente para o consumidor. Mas, ao invés de produtos, vende-se política. Planos de governo, ideais de sociedade. A ferramenta de antecipação de comportamento é um dos aspectos mais perigosos da sociedade contemporânea. Foresti, então, já nos mostrou empreendedores extraplanetários em “Invasão Espacial” e mostrou como o processo de tornar a realidade mais turva a partir da destruição dos meios de empoderamento pela educação em “Escola sem Sentido“. Duas obras que já permitiam uma identificação com a realidade no meio da distopia, trazendo formulações do cinema documental como a intenção de brincar com a legitimidade que tantos absurdos propagados nas redes alcança.

Fica a torcida que esse período seja um ajuste da sociedade em sua inocência. O olhar das novas gerações talvez saiba lidar melhor com a tecnologia e no futuro eles se divirtam com alguns momentos do presente – assim como achamos graça da transmissão de “Guerra dos Mundos” de Orson Welles na rádio norte-americana lá na década de 1930. Porém, para que esse espiral de caos seja rompido, é preciso resistência. Já tivemos experiência em que o uso de meios modernos foi usado para desvirtuar o mundo. Há menos de cem anos, com táticas que levaram o planeta a uma guerra sem precedentes.

Algoritmo“, então, retrata esse estado de espírito desesperador no qual estamos, o de duvidarmos de tudo e de todos. Difícil não colocar em xeque as nossas próprias percepções da realidade em alguns momentos. Por isso, o audiovisual como difusor de ideais e propagador de discursos é tão fundamental. São em filmes como esse que nós nos encontramos e colocamos em ação o que nos restou de sanidade.

Ouça a entrevista com Thiago Foresti:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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