“Amor & Gelato” é novidade da Netflix. Leia a crítica!
Sinopse: Atendendo ao último desejo da mãe, Lina decide passar o último verão antes da faculdade em Roma, onde descobre o amor, muitas aventuras e a paixão pelo gelato.
Direção: Brandon Camp
Título Original: Love & Gelato (2022)
Gênero: Romance
Duração: 1h 50min
País: EUA
Entrando Numa Fria
Adaptação do livro de Jenna Evans Welch, “Amor & Gelato” chegou recheado de expectativas à Netflix. A plataforma de streaming mais popular do mundo, em uma cruzada para se manter no topo da lista, atira para todos os lados. Entre os investimentos mais habituais, há aquele em que surfa na onda de alguns best-sellers dos últimos anos, sobretudo, os romances açucarados que agrada aos mais jovens. Para aqueles que acreditavam se tratar de uma comédia romântica das mais divertidas e chegou até aqui desapontado e em busca de informações sobre o que tornou o longa-metragem a sensação da semana, a pior notícia que poderíamos dar é que existe uma série de publicações da autora com a mesma temática e círculo de personagens.
Espere, portanto, os desdobramentos da história de Addie (Anjelika Washington), a amiga da protagonista Lina (Susanna Skaggs) na futura adaptação “Amor & Sorte”, que se passa na Irlanda. Ou o sugestivo “Amor & Azeitonas”, que adiciona um ingrediente grego à eurotrip fofinha da escritora. Na obra de origem somos levados à Itália junto à Lina e o diário de sua mãe, que faleceu há poucos meses vítima de um câncer. Como último desejo, ela pediu que a filha colocasse em prática os planos desta viagem de formatura. Não queria que ela fosse acompanhada de ninguém (sobretudo, Addie) e que vivesse aquela experiência sozinha.
Com essa base “Amor & Gelato” replica argumentos e dilemas que a ficção para adolescentes consolidou nas últimas quatro décadas nos Estados Unidos. Uma proposta de narrativa que migrou do cinema para a literatura e que agora é atirada de volta para as telas. Saem os lançamentos nas salas escuras, chega no fan service delivery do streaming. No caminho, pega pelo pé alguns desavisados em busca de originalidade. Já no cardápio, além da apresentação mastigada do leque de personagens (que nos permite adiantar tudo o que acontecerá nas penosas duas horas que se seguirão), boa parte de conteúdo reciclado.
Lina é uma jovem que seguirá para o MIT após esse período sabático pela Itália. Para que o fiapo de expectativa se mantenha para o público, ela lerá o diário escrito pela progenitora em um fino caderno de bolso à conta-gotas, demorando toda a viagem para chegar ao fim, em uma experiência de refazer os passos da mãe. Este tipo de obra já nasce engessada por todos os lados, mesmo deixando roteiro, direção e produção concentrados nas mãos de Brandon Camp. Pelo visto, a Netflix gostou do resultado de “Benji” (2018), remake abandonado pela Universal (por ela distribuído), a ponto de deixar sob sua responsabilidade esta adaptação.
Só que não há espaço para explorar nada mais do que uma releitura dramatizada do romance nada arrebatador. O cenário que vai das ruas de Roma à Florença não possui qualquer personalidade, é um cenário promissor genericamente abordado. Ganha, claro, espaço naquela montagem de transição que quebra o segundo ato e apenas isso. Alguns diálogos beiram o constrangedor, como um em que a doceira diz que o segredo de seus doces serem melhores do que um relacionamento é eles não terem pênis ou a vovó virada no Jiraya porque Lina chamou seu gelato de icecream.
Dentre os clichês (que não são um problema enquanto método, mas aqui apenas existem), podemos citar o conflito amoroso na cabeça da protagonista entre o plebeu fofucho, porém comprometido, Lorenzo (Tobia De Angelis) e o príncipe mal caráter Alessandro (Saul Nanni). A busca de pistas pelo pai que ela nunca conheceu, mas que começa a suspeitar ser Howard (Owen McDonnell); e a “ajuda” no estilo extreme makeover da simpática Francesca (Valentina Lodovini), que parece ter sido sequestrada ao final do primeiro ato porque tomou um chá de sumiço depois que fez a norte-americana Lina “descobrir seu lado mulher” em um vestido tubinho brilhoso.
“Amor & Gelato” tem aquela ideia interessante de que, no processo de superação das inseguranças adolescentes, a descoberta e exploração do amor não são condicionantes. Sugestivo enquanto narrativa de uma comédia romântica moderna, que a adaptação engessada e tradicionalista de Camp fez escoar a comédia e deixar um romance nada envolvente como resultado final. O elenco parece sentir isso, porque é raro identificar uma a química com atuações tão desprovidas de emoção quanto essa. Até a versão farofeira que reuniu duas canções de Elton John acopladas em um remix com Dua Lipa surge em um clímax tão desanimador quanto a viagem desinteressante pela bela Itália.
Veja o Trailer: