Ariadne

Ariadne

Sinopse: A obra de cinquenta minutos se passa em meia a uma tempestade que une duas realidades: uma vila italiana virtual à beira-mar criada com o game The Sim e a cidade de Nova York, filmada com uma câmera. A ruptura forma um terceiro reino suburbano e outonal. Ariadne1, de Nova York e interpretada pela artista, decide que ela quer desaparecer, permitindo que um raio a transporte para um reino virtual. O Ariadne 2 simulado é visto com uma cicatriz vermelha no peito – um traço do ato, que ela carrega de volta à cena de ação ao vivo.
Direção: Jacky Connolly
Título Original: Ariadne (2019)
Gênero: Drama | Animação Experimental
Duração: 50min
País: Estados Unidos

Ariadne

Terceira Vi(d)a

Alguns anos se passaram e talvez pouca gente se lembre da chegada do Second Life. Era uma maneira de expandir jogos de simulação como o The Sims. “Ariadne“, realizado em 2019, tenta nos provocar a hipotética gênese de uma Terceira Era de virtualização dos relacionamentos – onde colocaríamos abaixo a inaugurada pelo ambiente virtual criado por Philip Rosedale no final do século XX.

Antes desta proposta de convergência, as expectativas sobre a utilização da rede a qual nos mantemos o dia todo conectados era uma simples complementação da vida real. Nosso entendimento acerca da imaterialidade era total e bastava algumas horas seguidas de utilização de plataformas tecnológicas para sermos vistos como viciados ou exagerados em seu consumo. Hoje é difícil pensar uma vida sem todas as possibilidades que a internet e a transferência de dados proveu – sendo uma vida sem tecnologia encarada por muitos como algo impossível.

Jacky Connolly, então, cria um diálogo em que um território criado dentro do jogo The Sims e a realidade de uma novaiorquina se cruzam, se confundem. A mesma tentativa de comunhão que o Second Life tentava lá no início dos anos 2000. A possibilidade de trabalhar, se divertir, se relacionar e consumir em um só lugar – totalmente virtual. Os benefícios vendidos eram os mesmos nos quais acreditamos até hoje: menos deslocamento, mais tempo, menos contato e menos frustração.

Nada disso nos fez abandonar de vez a vida real, mas é inegável que cada vez mais estamos perdendo a prática de exercer nossa empatia e, por consequência, nossa humanidade. “Ariadne” reforça essa proposta de um mundo sem afeto, de laços formalmente construídos para cumprir um objetivo. A tecnologia tem nos provocado isso, parece ser um caminho sem volta. A diferença é que o Second Life não cumpriu sua função porque as empresas entenderam que, no Capitalismo, o certo é dividir para conquistar. Mais ofertas de programas, aplicativos, experiências, produtos – levam a um aumento no consumo. Só que um consumo provocado mais pela frustração do que pelo prazer.

Ariadne” quer um encontro desse dois mundos, em que o resultado é o agravamento da nossa crise existencial. Toda a trajetória do filme de Conolly provoca uma profunda tristeza, uma ambientação constante, um vagar sem objetivo. Não sabemos mais fruir a vida, não conseguimos criar mais um vácuo, um ócio. Transportamos isso para o filme e acabamos torcendo para essa previsão de futuro da cineasta nunca se concretize – ou se virtualize.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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