31º Kinoforum | Um Olhar Latino-Americano | Sessão Territórios do Corpo

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31º Kinoforum | Um Olhar Latino-Americano | Sessão Territórios do Corpo

Sessão Territórios do Corpo

A última sessão da Mostra Latino-americana do 31º Kinoforum lança o olhar sob o corpo. Territórios de descobertas e redescobertas, é o corpo nossa primeira relação possível com o exterior. Através dos sentidos nos aventuramos pelos espaços e pelas situações que aparecem (ou que buscamos) em nossas vidas. Assim, a corporalidade torna-se um assunto central para o entendimento de nossas dúvidas e vivências e, é isso que a Sessão Territórios do Corpo procura explorar em seus quatro curtas-metragens (leia a análise da primeira sessão aqui, da segunda sessão aqui e da terceira sessão aqui).


31º Kinoforum | Um Olhar Latino-Americano | Sessão Territórios do Corpo

Eclosão
(Rita Basulto. 2019)

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Rita Basulto faz no curta-metragem “Eclosão” um ensaio sobre a vida desde seus primórdios. Os desenhos, que começam em uma grande floresta, desembocam no aparecimento do homem e, com ele, toda a particularidade que lhe foi conferida (para os céticos, desenvolvida). Em um encontro consigo, o homem sempre é capaz de ver surgirem mais dúvidas que certezas. Esse é o mote principal da animação, que conta com um belo traço.

Ao utilizar o som como seu grande aliado, a cineasta faz um álbum de memórias visuais no qual o homem ( enquanto espécie) encontra todos os objetos que algum dia fizeram parte de seu caminhar na humanidade. As imagens são cuspidas e sentidas, misturando-se ou transformando-se em outros seres ou objetos.

Tal qual nossa memória, “Eclosão” é revisitado por um emaranhado de imagens que habitam a mente de todos nós. Assim, o recordar de que a vida é breve e de que o tempo não volta também ressoa como fantasma nos desenhos do curta mexicano. Nos resta a certeza de que nossa relação com os vermes é mais profunda do que podemos imaginar.


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Sol da Planície
(Manuela Irene Espitia, 2019)

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A Colômbia de Manuela Irene Espitia funciona como personagem no curta-metragem “Sol de Planície“. Embora a diretora trabalhe com planos bastante fechados, o vento e a imagem verdejante fazem o brincar da menina Meli parecer uma composição do local. Em sua relação com os animais e os barulhos da natureza ela encontra uma maneira de escapar da crise existencial pela qual parece passar sua mãe.

O mundo que parece criar é bem mais colorido e tranquilo. Dessa forma, Meli passa o dia com os animais e faz com que eles se tornem seus grandes amigos. Não vê sentido, então, na relação que os adultos estabelecem com os outros seres vivos. Para Melissa, os animais são iguais e com eles divide sua incompreensão e tristeza.


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Febre Austral
(Thomas Woodroffe, 2019)

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Thomas Woodroffe também utiliza-se do entorno que dita o ritmo de seu “Febre Austral“. As primeiras sequências apenas anunciam o que acontece fora de plano. A câmera parada do curta dá a entender que o que se desenrola fora de nossos olhos é o início de uma pequena tragédia. O ferimento na perna do amigo dos donos da casa que finalmente vemos não parece assim tão grave, mas por algum motivo desencadeia uma série de fatores que ,até então, estavam adormecidos.

Localidades com temperaturas extremas costumam fazer com que nossas emoções sejam exacerbadas. O gelo visto como um continnuum de cor branca aciona outras possibilidades temporais e sensoriais desconhecidas. Quem não costuma viver a neve , percebe uma certa confusão mental após os primeiros dias. Assim como o deserto, o gelo tem essa capacidade de fazer nosso corpo sentir o tempo de maneira distinta. E, em um tempo que não sabemos muito bem precisar, os incômodos das personagens são cada vez mais evidentes. O prazer masoquista que o ferimento provoca no rapaz parece seduzir a mãe de seu amigo.

O curta-metragem chileno é uma apresentação dos Andes visto através de uma janela de chalé e explora o lado de dentro da residência. Assim, a tensão instaura-se.


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A Ponte das Crianças Travessas
(Fabián León López, 2019)

a_ponte_das_crianças Sessão Territórios do Corpo

Último filme da sessão, a obra mexicana “A Ponte das Crianças Travessas” acompanha as férias de Jhony, um pré-adolescente que se vê preso ao irmão mais velho durante o verão. Fabián León López retrata bem o “nada” que pode ser as férias de um jovem que se vê sozinho em um bairro sem muitas opções de diversão. A chegada de uma moçoila começa a mudar o rumo dessas férias assim que, tanto o protagonista quanto seu irmão mais velho, Julio, mostram-se encantados por ela.

O irmão galanteador parece ser mais bem sucedido com o flerte direto. Jhony porém, revela os muitos romances que Julio, mantém. As coisas fogem ao controle rapidamente. Sendo o único a guardar um segredo tenebroso, o verão do personagem termina com um amadurecimento precoce. Para além dos jogos de bola, sua vida passa a ser ditada a partir de grandes decisões e ocultamentos.


Ficha Técnica da Sessão Territórios do Corpo

Eclosão (Eclosión) (Rita Basulto, 6′ – 2019, México)
Sinopse: O surgimento do ser humano contemporâneo; uma luta entre memória, razão e consciência.
Sol da Planície (Sol del Llano) (Manuela Irene Espitia, 20′ – 2019, Colômbia / México)
Sinopse: Imersa na paisagem natural das planícies colombianas, Meli (9) procurará uma maneira de tirar sua mãe de sua crise emocional.
Febre Austral (Fiebre Austral) (Thomas Woodroffe, 22′ – 2019, Chile)
Sinopse: Amanda e seu filho adolescente convidam um amigo dele para passar uma temporada na casa deles nos Andes. Quando o amigo é ferido, isso introduz uma inesperada dinâmica emocional no grupo, em um sonho febril sobre corpo e intimidade.
Ponte das Crianças Travessas, A (Puente de los Niños Traviesos, El) (Fabián León López, 16′ – 2019, México)
Sinopse: O verão de Jhony passa devagar enquanto ele observa seu irmão mais velho, obcecado por álcool, pornografia e mulheres. Um dia, La Misha chega ao bairro, quebrando a monotonia. Ninguém sabe nada dela, mas a apelidam por causa de seus olhos verdes, como os dos gatos.

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Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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