Beat É Protesto: O Funk pela Ótica Feminina

Beat É Protesto - O Funk pela Ótica Feminina_cartaz

Sinopse: A diretora Mayara Efe investiga a produção e o consumo do funk pelas mulheres na cidade de São Paulo.
Direção: Mayara Efe
Título Original: Beat É Protesto – O Funk pela Ótica Feminina (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 23min
País: Brasil

Beat É Protesto - O Funk pela Ótica Feminina

O Funk é Indústria, O Funk é um Manifesto

“Beat É Protesto: O Funk pela Ótica Feminina” é resultado do trabalho de conclusão de curso em Rádio e TV de Mayara Efe. Ao mostrar a vida de mulheres que decidem ter o funk como profissão , a diretora se confronta com uma realidade ainda retrógrada e machista. Durante o processo, entrevista dançarinas, compositoras, Mcs e frequentadores de bailes em São Paulo. Tendo já passado pelos festivais Mix Brasil, Brasil In-Edit e Festival Internacional do Documentário Musical, agora encontra-se na 9º Mostra Ecofalante.

Aqui, abro um parênteses para dizer que, apesar de popularizado nas comunidades do Rio de Janeiro, o funk já atravessou fronteiras e hoje ocupa um importante papel cultural e artístico também em outros territórios marginalizados de cidades fora do Estado. São Paulo aparece como um desses eixos com os “fluxos de rua”, bailes que acontecem nas ruas das periferias paulistanas.

As mulheres mostradas durante o documentário chegaram ao funk de diversas formas, mas todas exaltam que a música trouxe uma consciência corporal antes desconhecida. Aqui também precisamos pensar que a cultura ocidental europeia, além de separar corpo e mente (instâncias completamente conectadas em outras culturas), tende a  negligenciar um em benefício do outro. Muito se fala sobre a valorização da mente e do intelecto a partir do entendimento das ciências como centro do saber.

O que Mayara Efe mostra no em “Beat é Protesto” é que essa separação não precisa ser feita e que, para algumas mulheres, a consciência corporal pode ser o início de um descobrimento do que se deseja ser e do que se é. Assim, podemos entender o papel do funk na vida de muitas mulheres periféricas de São Paulo.

Fazendo questão de mostrar diversos tipos de corpo, a diretora também ambienta a arte no que ela tem de mais forte, a potência da democratização. O funk é para muitos. E, poderia ser para todos, caso alguns setores mais conservadores não insistissem em colocá-lo em um lugar de mera manifestação exótica de corpos vulgarizados e vulneráveis. O que essas mulheres apontam é que o movimento é justamente o oposto. Elas sabe o que fazem, sabem porque o fazem e sabem o que querem alcançar com isso.

Não significa dizer que o machismo não exista dentro do próprio movimento funk. Ele é anunciado e denunciado muitas vezes durante o filme, porém o que essas mulheres entenderam é que gostar do próprio corpo e mostrá-lo, não significa dizer que ele está disponível. Nisso, a cultura de empoderamento feminino, muitas vezes criticada pela maneira direta como diz e demonstra seus prazeres, as coloca como protagonistas, lugar poucas vezes ocupados por algumas mulheres.

Há que se dizer, então, que como o próprio título Beat É Protesto” anuncia, o filme de Mayara é político. No entanto, ela consegue trabalhar a estética do baile funk através das imagens.

Em um jogo interessante que remete ao nascimento da cultura funk, a diretora utiliza imagens alteradas para parecerem gravadas por uma filmadora VHS, aquelas de finais da década de 1980 e início dos 1990, quando o funk estourou no Rio de Janeiro. “Beat É Protesto” também se utiliza de muitas imagens do corpo feminino seja dançando ou em performances que poderiam nos parecer vulgares, mas não o são. Ao mostrar os corpos e seus possíveis movimentos, o documentário consegue utilizar essas imagens e mostrar simplesmente aquilo que elas são: uma dança, uma forma de protesto, uma arte.

A sobreposição de imagens e a edição em alguns momentos também nos fazem pensar na dimensão que a cultura funk alcançou no Brasil. Uma reportagem utilizada diz que, somente no Estado do Rio de Janeiro, o funk movimenta 10 milhões por mês. Quantas famílias vivem desse movimento? Desde os compositores, até quem confecciona as roupas, os MCs, quem vende as bebidas no baile… O funk é um movimento cultural, é uma arte e é ,também, economia  gerada pela cultura.

Queiram ou não, o funk já tomou seu espaço como arte nacional.

Em constante construção e desconstrução Antropóloga, Fotógrafa e Mestre em Filosofia - Estética/Cinema. Doutoranda no Departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com coorientação pela Universidad Nacional de San Martin(Buenos Aires). Doutoranda em Cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Além disso, é Pesquisadora de Cinema e Artes latino-americanas.

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