Chico Diaz | Entrevista

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Chico Diaz | Entrevista | Conversamos com o homenageado da 16ª CineOP.

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Chico Diaz Banner Homenagem
Clique na imagem e acompanhe a mostra em homenagem ao ator na 16ª CineOP.

Dia do Cinema de Chico Diaz

O Dia do Cinema Brasileiro de 2021 começou de forma especial para a Apostila de Cinema. Como parte da preparação para a 16ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto (clique aqui e confira como será nossa cobertura), participamos da entrevista coletiva com o homenageado desta edição, Chico Diaz.

Em pouco mais de uma hora de conversa, o ator falou de passado, presente e futuro. Ficou surpreso quando lembrou que já são quatro décadas de carreira, contempladas em uma seleção de filmes que vão de “A Cor de Seu Destino” (1986) a “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (2020). Sem esquecer de novos clássicos da produção nacional como “Amarelo Manga” (2002) e a oportunidade de assistir uma parte de “Girassol Vermelho” (2021), um dos novos projetos de Chico, ainda em processo de finalização.

A manhã dos jornalistas era a tarde do homenageado, que está neste momento em Almada, na zona metropolitana de Lisboa, para apresentar seu monólogo “A Lua Vem da Alma“. Consequência de um país que retomou com mais força sua atividade cultural em uma mistura de combate mais intenso à covid-19 e um política de vacinação mais eficiente. Porém, Diaz estará presente na edição online e especial desta CineOP, por mais que ele sinta falta dos encontros e dos afetos, como boa parte de nós. Fique com as manifestações de Chico Diaz e não perca a oportunidade de revistar sua carreira entre os dias 23 e 28 de junho.


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Sobre a homenagem da 16ª CineOP

Abrindo a entrevista, pedimos ao entrevistado para falar sobre a sensação de ser homenageado pelo evento da Universo Produção. Lembrando a data importante, Chico Diaz demonstrou toda a honra e alegria de fazer parte de uma mostra que marca as iniciativas diferenciadas da Universo, em um contexto que une o cinema à educação, preservação histórica e reflexão – fundamentais para o momento atual. Mais do que isso, sua felicidade aumenta ao ser lembrado em uma edição em que os anos 1990 é o foco. Para ele, uma época fundamental para o a produção audiovisual do país, marcada pela apropriação dos próprios argumentos dos realizadores da Era da Retomada.

Ao lembrar de seu início, Chico registra que ser ator não era um objetivo quando jovem. Credita esta veia artística um pouco na mistura meio mística da formação em escolas católicas na América hispânica e a cristalização de seus caminhos ao chegar no Rio de Janeiro. A atuação também se tornou parte de uma fuga, em que ele se esconde atrás de personagens – boa parte deles hoje inesquecíveis para quem acompanha o Cinema Brasileiro.

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A Cor de Seu Destino | Chico Diaz | Entrevista
“A Cor de Seu Destino”, de 1986. Filme dirigido por Jorge Durán é parte da programação da 16ª CineOP.

Cinema Brasileiro em perspectiva

Na sequência, pedimos que o ator refletisse sobre a evolução das manifestações culturais do país a partir de sua indústria audiovisual. Diaz lembrou que ele está no último elo de uma cadeia produtiva, mas que – mesmo assim – identificou diversos tipos de avanços nas últimas décadas. Lembrou novamente do início da Retomada, em que equipes pequenas se concentravam em alguns núcleos da região sudeste do Brasil e como isso se desdobrou, com convites para filmar em todos os cantos do nosso território.

Chico também registrou a oportunidade de ampliação do vocabulário audiovisual com a chegada do digital. Não apenas no aumento do número de produções, mas também de festivais e de centros de formação e educação – consequências da democratização de acesso às ferramentas a partir do início do século XXI. Isso levou à nova geração um sentimento de curiosidade pelo domínio da linguagem, um florescer e uma potencialização ímpar, atingindo todas as regiões do país. É um Cinema diferente, um pouco distante de um período em que o custo da película e a complexidade demandava mais ensaio e poucos erros – e cada um tem as suas particularidades. Ele identifica uma diluição da narrativa desde que os custos de produção possibilitaram uma quantidade maior de gravações. Isso deu mais liberdade para outras experimentações e desafios envolvendo seu trabalho. Ele passou a fazer parte de projetos que fugiam da lógica naturalística de atuação, demandando outras simbologias, de vários tipos. Com o tempo, passou a desenvolver formas de esconder e mostrar para além da dramaturgia, um laboratório que o digital permitiu ainda mais.

Ele também destacou a estruturação da Ancine no período do governo Lula, o que gerou uma otimização e um aumento de demanda. Isso gerou uma renovação de linguagem e de narrativa nunca antes vista. Lamentou que esta estrutura esteja atualmente abandonada por um governo que elegeu a arte como inimiga, mas lembra que o fomento ao audiovisual gerou uma pressão para que outras esferas do Poder Público mantenham as políticas de fomento. Contudo, é nítida a perda nas potencialidades de pesquisa e no impulsionamento da indústria. Ele termina considerando que a arte brasileira, no momento, está em compasso de espera, com suas armas guardadas para um bom uso mais adiante. Deixou um testemunho sobre o Cinema Brasileiro, agradecendo pela diversão, reflexão e, sobretudo, por não se preocupar em homogeneizar e sim em mostrar as várias expressões de um país complexo como o nosso.

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O Ano da Morte de Ricardo Reis Filme Imagem
“O Ano da Morte de Ricardo Reis”, de 2020. Filme de João Botelho, inédito no Brasil, é parte da programação da 16ª CineOP.

Sobre “O Ano da Morte de Ricardo Reis”

Ainda inédito no circuito brasileiro, a produção portuguesa “O Ano da Morte de Ricardo Reis” é parte da programação da 16ª CineOP. Sobre o filme, Chico Diaz lembrou do convite, realizado diretamente pelo cineasta João Botelho e por Pilar del Río, viúva do escritor José Saramago, autor da obra original. O autor desenvolveu esta narrativa pelo heterônimo de Fernando Pessoa a partir de um incômodo de uma frase atribuída ao poeta: “sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo“. Saramago não acreditava na arte como espaço de contemplação e sim de transformação, mesmo em suas estruturas clássicas. Sendo assim, ele coloca Ricardo Reis no ano de 1936, em que a ascensão fascista na Europa se materializava nas figuras de ditadores como Salazar, Franco e Mussolini e faz do alter ego de Pessoa um fantasma naquele território.

O ator se sentiu honrado em fazer parte do projeto e destacou a ousadia da escolha de um brasileiro para dar vida a Ricardo Reis. Ele aproveitou a oportunidade para se apropriar de um novo português enquanto idioma – algo que faz novamente no momento – e de ter contato com uma esfera poética de grande sofisticação. Sobre Botelho, falou dos desafios de trabalhar com um diretor rigoroso na construção das imagens, que trabalha com planos longos e uso intenso de luz como elemento narrativo. Isso fez com que Chico tivesse que neutralizar, em parte, a psicologia de sua personagem – e o resultado poderemos conferir a partir do dia 23 na 16ª CineOP.

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Sobre nosso momento virtual

Chico Diaz sente falta dos encontros com seus pares, uma imposição de um longo período de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus. Ele dividiu conosco as dificuldades de realizar uma peça de teatro ao vivo, em que a ausência de reação da plateia deu a ela uma sensação de “cinema ao vivo“. Apesar de ferramentas como esta apontarem para o futuro, será importante retomar os afetos quando possível. Para ele, o distanciamento do online não faz bem à arte – torna os espaços impessoais, frios e despersonalizados. Ao mesmo tempo em que celebra as expansões e as possibilidades – que tem em festivais como a CineOP um de seus maiores exemplos – ele ainda vê como uma reinvenção que não exclui a outra, aquela que todos nós sentimentos falta.

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Girassol Vermelho Filme Imagem
“Girassol Vermelho”, de 2021. Trechos do filme em processo, dirigido por Eder Santos, é parte da programação da 16ª CineOP.

Sobre presente e futuro

19 de junho de 2021 não é apenas o Dia do Cinema Brasileiro, é uma data que ficará marcada como o segundo dia de grandes protestos contra o atual governo no período da pandemia. Um dia de reflexão e de mitigar o isolamento social para tentar contribuir com um debate para uma sociedade mais justa, em oposição às medidas de desmonte promovidas pelo Estado. Mesmo em Portugal, o ator deixou registrada a dificuldade de um momento, marcado pela violência nas formas e nos discursos – um caminho, para ele, oposto ao da arte. Isso gera medo e o cinema é parte da solução ao oferecer uma massa crítica, perspectivas e pontos de fuga.

Apesar da apreensão e da preocupação em uma realidade corrompida (marcada pelo negacionismo), Chico não parece disposto a abrir mão de sua relevância para o cenário. Ele imagina que, em breve, parte dos realizadores que estão com seus projetos paralisados voltem em júbilo, com alegria e uma consciência artística maior – além de muita vontade de compartilhar. Será a resposta para aqueles que, em suas palavras, nos tamparam o sol, nos confirmaram e foram contra a natureza eufórica e extrovertida do brasileiro.

Em relação aos projetos pessoais, o futuro reserva tanta coisa a Chico Diaz que ele admite que pode ter esquecido de alguns. Além do monólogo “A Lua Vem da Ásia“, que ele apresenta em Portugal, está previsto para agosto a estreia do longa-metragem “Homem Onça“, de Vinícius Reis – presente na CineOP relembrando “Praça Saens Penã” (2008). Em um período de precarização do trabalho, voltamos a um período próximo do passado para lembrar da era das privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso. “Vermelho Monet“, do pulsante artista plástico, marcial e do cinema Halder Gomes é outra produção em período de finalização.

Além, claro, de “Girassol Vermelho“, um das atrações da 16ª CineOP, que funde dois livros do escritor Murilo Rubião e estará, em parte, disponível durante o evento.

Pela TV e streaming, Chico Diaz aparecerá em breve na pele do Marechal Rondon, na instigante série “American Guest“. A produção da Conspiração Filmes de Bruno Barreto (que lançou a primeira temporada de “Dom” há algumas semanas), conta a história do período em que o Franklin Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos, se encontrou com o representante do Exército Brasileiro para mapear o Rio da Dúvida, na Amazônia, em 1913 – história que virou livro pelas mãos da escritora norte-americana Candice Millard.

Ou seja, teremos muito Chico Diaz durante a CineOP na Apostila de Cinema, com uma filmografia alinhada à mostra histórica do importante período da Retomada – mas, o melhor é que teremos também muito Chico Diaz para além do evento. Estamos longe de passar um Dia do Cinema Brasileiro apenas se lamentando sobre o presente. Há um futuro audiovisual à nossa espera.

Clique aqui e acesso a página oficial da CineOP.

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A Apostila de Cinema é uma iniciativa de promover o debate sobre o cinema e questões pertinentes ao mesmo levantando análises culturais, sociais e estéticas que consideramos centrais para o pensamento crítico da Sétima Arte Contemporânea.

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