Sinopse: Documentário sobre o cantor Chorão (1970-2013), vocalista da banda Charlie Brown Jr. Com depoimentos que englobam a vida particular e a trajetória profissional do cantor, imagens de acervo pessoal e da mídia, o filme percorre a história de um dos mais importantes astros do rock brasileiro.
Direção: Felipe Novaes
Título Original: Chorão: Marginal Alado (2019)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 17min
País: Brasil
Não tão Complicado Demais, Mas nem tão Simples Assim
Depois de fazer parte da seleção da premiére Brasil do último Festival do Rio em 2019, sem dúvida a equipe de “Chorão: Marginal Alado” aguardava com ansiedade a retomada das salas de cinema. Protagonizado por uma figura que arrastou multidões para seus shows ao longo da carreira, o sucesso se avizinhava. Mais uma vítima da pandemia, mas, nem tanto. A estreia no último final de semana em plataformas de streaming sob demanda fez do longa-metragem o mais alugado do país. O vocalista do Charlie Brown Jr. desperta interesse imediato de quem admirava seu trabalho – mas o filme dirigido por Felipe Novaes não consegue se desapegar das amarras de uma abordagem excessivamente defensiva.
Não existe imparcialidade quando se assume uma narrativa e pretender isso no audiovisual, mesmo na linguagem documental, é uma amarra que o espectador precisa se desapegar também. Contudo, gostar do biografado não transforma um filme-homenagem em algo positivo. Por sinal, o torna quase sempre incompleto. Dito isso, a obra se assemelha muito à ficção que se propõe a adaptar os livros de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal. Quem procurar pela internet achará meus comentários sobre os dois “Nada a Perder”. Para mim não há nada mais antagônico do que o Bispo e o cantor – até mesmo em relação à simpatia nutrida pelo segundo, que não encontra qualquer resquício em relação ao primeiro.
Porém, não há como não ler “Chorão: Marginal Alado” como um tribunal de defesa de seu protagonista. Por mais que as polêmicas envolvendo seu nome sejam objeto de abordagem, é feito com uma reverência tal que não reverbera quase nenhuma voz a não ser daqueles que se alinham à proposta. Depoimentos de nomes de respeito do meio musical, como Otto e Zeca Baleiro que – apesar de parcerias e regravações – nada acrescentam. Levar adiante essa linha narrativa, reiteramos, não é um problema, não é um defeito do filme. Porém, a forma como Novaes articula não acaba chegando nem mesmo ao objetivo. A força das canções criadas por Chorão são menos exploradas para que seja reiterados os aspectos de sua personalidade.
Em relação às referências musicais, poucos de quem o Charlie Brown bebeu da fonte ou dos que o seguiram estão presentes. João Gordo justifica a relevância de sua participação, porque fez parte de uma geração que marcou época criando conteúdos para a MTV. O mesmo com Rick Bonadio, que foi o Midas dos anos 1990. Entender o período sem sua palavra soa impossível, apesar dele ter se perdido em seu personagem nos últimos tempos. Os companheiros de banda, em especial Champignon – que teve morte trágica pouco depois da realização do documentário – não conseguem se distanciar a ponto de formular um discurso que não divida responsabilidades. O grande destaque do longa-metragem fica por conta da produtividade do artista, uma marca registrada.
Só que isso se traduz em imagens de arquivo que se limitam quase sempre a programas de televisão e representações que não nos permitem mergulhar na trajetória pessoal do cantor e nem traçar um panorama da vida profissional. Compreendemos que ele agia como centralizador, gostava de ter o controle sobre suas criações – e tinha pouco jeito para assumir o papel de comando. A filantropia e outras formas de ajuda, escondidas por ele em vida, também surgem atravessadas, não são desenvolvidas. Há muito questionamos o filão de documentários musicais no Brasil, mas entendemos que parte de nossos grandes ídolos vêm dessa manifestação artística. Pois, até mesmo em comparação com outras obras, o ritmo e a energia aqui fica em baixa. Para citar apenas um, em “Os Quatro Paralamas” (2019) Roberto Berliner consegue construir uma dinâmica interessante, mesmo reciclando arquivos que já vimos em outras produções. Nem mesmo o saudosismo imediato de lembrar grande parte dos sucessos radiofônicos, das músicas-chiclete do Charlie Brown Jr. consegue nos segurar.
“Chorão: Marginal Alado“, contudo, acerta na abordagem humanizada sobre o vício que levou à morte Alexandre Magno Abrão. Com cuidado para não citar de qual droga estamos falando, sua família tem pouco espaço, menos até do que seu advogado. Isso torna ainda mais potente a sensação de que a montagem optou por absolver Chorão, quando ninguém disse que ele era culpado.
Veja o Trailer: