Os Quatro Paralamas

Os Quatro Paralamas Crítica Pôster

Sinopse: Dirigido por Roberto Berliner, que acompanha a banda desde o início no Circo Voador, em 1983, este filme sobre música e amizade fala da relação dos três que sobem ao palco (Herbert, Bi e João), mas também de um quarto elemento, que aparece pouco na mídia, mas tem papel fundamental: José Fortes, o empresário. Em um papo na sala da casa de Bi Ribeiro, os quatro lembram a carreira, falam sobre sua amizade inabalável e tocam músicas que fazem parte dessa trajetória de quase 40 anos.
Direção: Roberto Berliner e Paschoal Samora
Título Original: Os Quatro Paralamas (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 39min
País: Brasil

Os Quatro Paralamas Crítica Imagem

Deixe Tocar Aquela Canção

Os Quatro Paralamas” é um encontro de amigos permeado por muita música e lembranças no formato de documentário. Roberto Berliner (diretor ao lado de Paschoal Samora), além de velho conhecido dos músicos biografados e equipe, sabe como poucos construir essa subgênero que tanto faz sucesso no Brasil, que registra a trajetória de artistas (só no Festival de Gramado na última semana tivemos dois: um sobre Alcione chamado “O Samba é Primo do Jazz” e outro sobre Sidey Magal chamado “Me Chama que Eu Vou“). Não por acaso, lançou em 2009 “Herbert de Perto“, sobre o vocalista dos Paralamas do Sucesso. Pelo respeito e credibilidade com o qual ele se apresenta no audiovisual nacional, o cineasta se permite iniciar a jornada sob uma perspectiva pessoal, contando como conheceu a banda aos 25 anos de idade no Circo Voador, casa de shows no Rio de Janeiro (quando esta ainda se localizava nas areias da Praia do Arpoador).

Até que os diretores entregam sua intenção de criar um espetáculo dos Paralamas, se valendo de imagens de arquivos ou novas execuções. As canções permitem que os blocos que fragmentam a história a ser contada sejam melhores apreciados. Talvez seja uma das produções que mais lamentemos a exibição fora de uma grande sala de cinema, na versão online do Festival É Tudo Verdade 2020. O ganho narrativo (e emocional) da obra é inquestionável em uma grande tela, com toda a potência de som que um local com acústica assim pensada consegue obter. Assim como a banda costuma fazer em suas apresentações, “Selvagem” é a primeira que ganha o palco. Um hit que consegue agitar a plateia, sem entregar as grandes âncoras da carreira, porém com acordes inconfundíveis.

Os arquivos são tratados como se estivéssemos encontrado aquele VHS perdido em alguma gaveta ou caixa debaixo da cama, que ficamos anos sem mexer. Quem sabe, depois de alguns meses de isolamento social, aqueles que moram no mesmo quarto da infância não encontrem material parecido. Resgates de nossas adolescências e que, para um leque considerável de gerações, teve os Paralamas na trilha sonora. Mais adiante, Samora e Berlinder adaptarão a mesma representação ao avançar das tecnologias. Na era do DVD, pixels substituem algumas das linhas de imagens em “Os Quatro Paralamas“. Como uma grande narrativa musical deve ser, mais do que a vida dos integrantes e de José Fortes, empresário e amigo, o filme abre espaço para admirarmos a qualidade deles como instrumentistas.

Uma trajetória muito conhecida, que teve em 2001 como acidente de Herbert, que vitimou sua esposa Lucy, um momento muito difícil e acompanhado por todo o Brasil. Não são poucas as reportagens e obras que transitam pela carreira dos Paralamas do Sucesso. Portanto, foi fundamental que o projeto tivesse na TV Zero sua casa e uma equipe experiente em documentários musicais. Escolhas como a manutenção do videoclipe original de “Alagados”, um marco nessa linguagem e que surpreende até hoje, só poderia vir de quem tem respeito pelo rock nacional e pela banda. E que não vê aquele grupo como um objeto a ser documentado e sim uma história a ser mostrada.

Em determinado momento, a banda passou a se integrar com a Argentina, devido à crise financeira no Brasil e a um aumento na demanda por shows deles no país vizinho. Apesar dos clássicos de meados dos anos 1980 serem lembrados com carinho, a segunda metade dos anos 1990 talvez tenha sido a fase mais interessante deles. Artistas que conseguiram reunir o rock como premissa com os ritmos brasileiros, eles começariam a beber de fontes de músicas latinas, em uma mistura que manteve o grupo sob os holofotes em um período em que quase todos os seus parceiros geracionais estavam mais ausentes.

Com um robusto conjunto de arquivos, dá para imaginar o quão difícil foi o processo de seleção de material prévio e a montagem que contemplasse tantas raridades e boas entrevistas atuais. Nisso, o espectador tem a honra de assistir ao registro do parto de um sucesso. É quando Herbert Vianna, feliz com a liberação da gravadora EMI de transformar o CD ao vivo “Vamo Batê Lata”, de 1995, em um álbum duplo – com um EP de quatro músicas inéditas (incluindo “Uma Brasileira”, que traz justamente a junção mencionada no parágrafo anterior), pega sua guitarra despretensiosamente e traz ao mundo “Saber Amar”. Portanto, não há nenhum incômodo quando, após cerca de meia hora de filme, “Os Quatro Paralamas” abandona sua série de testemunhos e compilados de informações em prol da música. Afinal, é ela que ficará eternizada.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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