Sinopse: Compondo a Sessão Tonacci na programação da Mostra Histórica da CineOP 2020, o filme é uma documentação dos preparativos e das expedições da Frente de Atração Arara da FUNAI, no estado do Pará. Com a construção da Transamazônica o território dos Arara (sem contato com o homem branco) é cortado ao meio, e os índios reagem atacando os trabalhadores. Ciente de que todo contato é uma criação de dependência, o sertanista Sydney Possuelo, que também narra reflexivamente os dois episódios, lidera as expedições que tem como finalidade identificar os grupos, quantos indivíduos são, e configurar os limites territoriais para proteger a área de invasores e madeireiras da região.
Direção: Andrea Tonacci
Título Original: Os Arara (1980)
Duração: 1h 47min (dividido em dois episódios)
Gênero: Documentário
País: Brasil
De Quem Já Resistiu
“Os Arara“, apresentado em dois episódios que compõem a Sessão Tonacci na programação da Mostra Histórica da CineOP, traz – no meio de muitas informações que nos faz refletir – uma que provoca imediata projeção do qual caótico e destrutivo será o futuro do Brasil se a proteção da Amazônia e os representantes dos povos originários que lá habitam for, de vez, abandonada. Em uma das narrativas contextualizantes do documentário de Andrea Tonacci, a estatística: o território da floresta representa 60% da área brasileira e nela habita apenas 8% da população. Isso diz muito não apenas da nossa constituição da zona urbana e o crescimento populacional centralizado. Expõe os verdadeiros motivos desse expansionismo desenfreado em nome do progresso – e por quem é direcionado.
Uma comunidade indígena que só foi registrada oficialmente pelo poder institucionalizado do homem branco em 1853. Na região de Altamira, viram suas terras serem repartidas ao meio na década de 1960, quando o governo militar ditatorial leva adiante o projeto da construção da rodovia Transamazônica. Diversas formas de praticar o genocídio são utilizadas. Desde o assassinato por arma de fogo até cruéis processos de envenenamento da população arara. Italiano de nascença, Tonacci realiza essa obra em 1980, dez anos após participar da Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes com seu longa-metragem de estreia, “Bang-Bang” (1970). Começa a enveredar pelo caminho do documentário e se torna um dos grandes criadores de visualidades das áreas mais afastadas do país. Também é o responsável pela fotografia dos seus filmes e indicamos que a Sessão Tonacci iniciada na CineOP seja complementada com outras obras do diretor.
O primeiro episódio é mais centrado na contextualização acerca da obra da rodovia. O cineasta, contudo, traz algumas curiosas entrevistas com os trabalhadores da Transamazônica. Eles também estão na ala dos oprimidos, dependendo do recorte aplicado. Mas, ali, agem como ferramentas da destruição. Isso não os impede de desenvolverem suas consciências críticas e até mesmo partilhar de boa convivência com alguns representantes dos arara. O que não os leva a romper com essa lógica destruidora é o que faz todos nós levantar da cama e trabalhar todos os dias: necessidade de sobrevivência. A dependência daquela contrapartida chamada salário. Enquanto aqueles homens ficam com a atuação direta na construção, os empresários brigam pelas propriedades de Altamira. Os arara são uma comunidade de forte atividade agrícola e excepcional trato da terra, tornando elas ainda mais valiosas. Por isso, ali o homem branco quer ser ainda mais exploratório em seus intentos.
No segundo episódio de “Os Arara” a condução da obra tem forte influência do posto de atendimento da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), que se coloca como agente mediador após sua criação em 1967. Após longas sequências em que Tonacci capta a grande destruição da flora local, traz a urgência da atuação de um órgão que – a despeito de ser instituído pelo regime militar – tenta chegar no meio-termo entre os planos do agronegócio para a área e a resistência indígena. Todavia, não há – por parte dos arara – a intenção de negociar. A FUNAI, em um primeiro momento, acaba sendo atacada de igual forma. Supostamente estaria ali para defender os interesses dos indígenas. Mais de cinquenta anos depois, coexistindo com governos e políticas estatais de diversos espectros, fica o questionamento: a defesa gerou resultados? Em 2014, eram apenas 377 representantes deste povo. “Os Arara” é mais uma obra do passado que está de volta, aquele que nada nem ninguém pode se colocar no caminho do progresso (do capital).
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