Sinopse: Os nazistas ocuparam a França. A resistência exige coragem. Setenta e cinco anos depois, enfrentar os próprios fantasmas pode ser ainda pior.
Direção: Anthony Giacchino
Título Original: Colette (2020)
Gênero: Documentário
Duração: 24min
País: EUA
A Esperança do Aprendizado
Refletindo sobre obras audiovisuais como “Colette“, dirigida por Anthony Giacchino e indicada ao Oscar 2021 como melhor curta-metragem documental, não há como ficar dividido entre a desolação e a esperança renovada. Assistir à veterana da Segunda Guerra Mundial, que lutou junto à Resistência Francesa e teve o irmão assassinado em um campo de concentração nazista na Alemanha em 1945, tem uma mensagem tão direta que chega a ser dita expressamente por Lucie Fouble, jovem estudante de História que a convence a ir, pela primeira vez, naquele território que lhe provocou tanta dor.
A ideia de rever o passado é não cometer os mesmos erros no presente. O Cinema chegou com uma força nunca antes vista por nenhuma outra manifestação artística. Uma linguagem popular, com poder de síntese e alcance que não encontrou fronteiras (e limites da censura), presenciamos em mais de um século não apenas revisitações, mas a própria História sendo escrita pelo olhar do audiovisual. Como meio de propaganda ou estratégias de convencimento que vão do sentimentalismo ao retrato duro da realidade.
“Colette” é um pouco tudo isso, mas, lançado em um contexto de pós-verdade, parece uma filme distante no tempo. Será mesmo que as novas gerações se envolverão empaticamente com os dramas das guerras da primeira metade do século XX? Será que a onda negacionista, que atingiu absurdamente o Holocausto (além da redondabilidade da Terra) deixará de avançar a partir de uma nova resistência, com um documentário tão contundente e tocante quanto este? Sempre deleguei o pessimismo aqui na Apostila de Cinema para minha amiga Roberta Mathias, bem mais aprofundada nos estudos da sociedade – e, por consequência, menos esperançosa na humanidade.
Porém, ouso dizer que o tempo de acreditar que o passado não se repetirá já passou. Gosto de ver esta obra como um importante registro de Colette Marin-Catherine, uma senhora que, 75 anos depois, não conseguiu superar a dor de se ver obrigada a lutar contra o nazismo. Como ela mesmo disse, ninguém bate na porta de uma organização como a Resistência Francesa e pede uma ficha para se associar, tal qual um clube. Entretanto, há algo no curta-metragem que promove uma atualização de debate – este, sim, fundamental para os novos tempos.
A protagonista nunca tinha ido ao Mittelbau-Dora, campo de trabalho localizado em Nordhausen, na Alemanha. Uma cidade com pouco mais de 40 mil habitantes atualmente e que, durante a Segunda Guerra Mundial, confinou sessenta mil pessoas e assassinou um terço delas nos métodos mais cruéis que podemos ter conhecimento. Ela nunca foi lá porque sempre condenou esse turismo mórbido, muito comum na Europa, que parece querer “transportar a experiência” de espaços apenas abjetos como campos de concentração. Chegando lá, talvez ela tenha se surpreendido com a tentativa de humanização, em uma parede que dá rostos aos nomes e números das vítimas. Mas, aqui está a prova de que o Capital absorve qualquer grave crise. Transforma em oportunidade, como os falsos gurus adoram propagar naqueles stories patrocinados que você terá que aturar no Instagram depois que ler esse texto.
Imagens de arquivos e provas do que acontecia ali – inclusive nos trabalhos forçados para a ampliação do arsenal de guerra nazista – se associam ao depoimento e quebram esse verniz turístico tão criticado pela protagonista. A página oficial dá acesso ao curta-metragem, com legendas em inglês. Uma história que, com o apoio do The Guardian, merecia ser contada e alcançar a reverberação que uma indicação ao Oscar permite. Pena que, diante de todas as lições que “Colette” tem a oferecer, há poucos dispostos a se articular enquanto cidadão para que o futuro – realmente – não repita o passado. Não duvido que, dependendo da região, o comercial ao final da sessão queira te convencer a olhar de perto os horrores da guerra. Com aquele pacote turístico parcelado, quiçá um cupom de desconto, já que a economia não pode parar, taokey?
Assista “Collete”:
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