Enquanto Estivermos Juntos

Enquanto Estivermos Juntos Crítica Filme Amazon Pôster

Sinopse: “Enquanto Estivermos Juntos” é a história real de Jeremy Camp (K.J. Apa), famoso cantor de rock cristão e indicado ao Grammy. A obra deseja focar como a religião foi essencial para o artista superar dores de sua vida, principalmente quando sua esposa Melissa (Britt Robertson) é vítima de câncer.
Direção: Jon Erwin e Andrew Erwin
Título Original: I Still Believe (2020)
Gênero: Drama | Biografia | Musical
Duração: 1h 56min
País: EUA

Enquanto Estivermos Juntos Crítica Filme Amazon Imagem

A Moral da História

As inspiradoras histórias do religião hegemônica dos Estados Unidos demoraram, mas viraram um filão. “Enquanto Estivermos Juntos” segue a esteira de “Eu Só Posso Imaginar” (2018) e “Superação: O Milagre da Fé” (2019). O segundo chegou a ser indicado ao Oscar de melhor canção em 2020, assustando boa parte dos cinéfilos maratonistas que viveram o dilema de assistir ou não a obra (apenas para dizer que zeraram a lista). Como já disse em outras oportunidades, a leitura de uma obra deve se desapegar de preconceitos, até porque as movimentações aqui são bem menos desabonadoras que o produto que perpetua valores danosos à sociedade. A chegada do longa-metragem ao Amazon Prime Video, então, é uma ótima oportunidade de propor alguns questionamentos.

O filme retrata o início da trajetória profissional do popular cantor gospel norte-americano Jeremy Camp. Não precisa ter medo de chamá-lo de chapa branca, uma vez que é baseado na autobiografia, adaptada sob sua supervisão. O artista também é um dos produtores, injetando alguns milhões nessa jornada um pouco egocêntrica patrocinada pela Lionsgate. Eles convocam, então, os irmãos Jon e Andrew Erwin, os mesmos de “Eu Só Posso Imaginar”, baseado em uma música de Bart Millard, que neste momento está disponível no catálogo do Telecine Play – que custou sete milhões de dólares e faturou quase cem.

O trabalho aqui é até um pouco desleixado, como se o jogo estivesse ganho. Dificilmente alguém desinteressado nas narrativas que acompanham “Enquanto Estivermos Juntos” dará play no filme. Portanto, a forma como o produto se apresenta é no estilo mais genérico. Drones sempre que possível, pouca preocupação em firmar a imagem, escolhas de câmera na mão (e à distância) para “facilitar” a cena, sem qualquer justificativa artística. Pouco da estética é aproveitável porque a preocupação é apenas com o conteúdo. E, vai além: não desenvolve uma crescente relação emotiva com a trama, partindo do princípio que o espectador já conhece a história.

Para aqueles que não conhecem, os minutos iniciais são o suficiente para absorver todo o conservadorismo e moralismo. Jeremy (vivido por K.J.Apa, em um trabalho ruim) se forma no ensino médio em Lafayette, Indiana e faz o caminho do cidadão-médio norte-americano: se muda para o campus de alguma universidade que o tira da casa dos pais. Lá ele começa a se envolver com a jovem Melissa (Britt Robertson) em um triângulo amoroso pouco esclarecedor com o jovem Jean-Luc (Nathan Parsons). Este serve como amigo e apoiador do protagonista em uma possível carreira musical.

Ouça I Still Believe, de Jeremy Camp:

Há uma higienização moral forte em “Enquanto Estivermos Juntos“, quando, por exemplo, a menina define sua relação com o (aparente) ex-namorado como “complicada”. Jeremy só entende os traumas dela quando aparece com a jaqueta emprestada pelo amigo, uma solução simplista. Em outras ondas conservadoras nos Estados Unidos o audiovisual trouxe produtos que visavam perpetuar e moldar comportamentos das futuras gerações. Até pouco tempo atrás, na Netflix estava disponível um exemplo clássico, o drama “Mais ou Menos Grávida” (1988), que usava a figura emblemática de Molly Ringwald em uma narrativa que condenava a gravidez adolescente, com recados bem claro para o público jovem.

Aqui não há uma estrela por trás, mas denota-se uma tentativa de manter uma linguagem atualizada. Um exemplo está na trilha sonora. Essencialmente gospel, acha espaço para “Sweet Disposition” do Temper Trap, referência imediata do cancelado “(500) Dias com Ela” (2009). A primeira metade da obra é carregada dessa caretice, em um romance que tem o carisma de um chuchu. Perde-se, então, um tempo precioso para forjar em pessoas fora do público-alvo uma base para o melodrama da segunda parte funcionar. Melissa é acometida de um câncer, mas até chegarmos nesse ponto, tudo aqui é tão “demonstrativo” que não cria vínculos.

Por mais que se releve (ou abdique) da leitura moralista, essa pasteurização esvazia o filme. Sem contar algumas ferramentas de edição que, com o perdão do adjetivo, são esquisitas. Cortes que geram problemas de continuidade que me fez perguntar se não estava vendo o longa-metragem na TV aberta, espremido para durar na faixa da madrugada e exigindo picotes sem sentido.

Quando a emoção aflora, “Enquanto Estivermos Juntos” estende tanto a trajetória final dos personagens que o torna apelativo – coisa que ele não aparentava ser até então. Isso até chegarmos na peça de propaganda, no panfleto de um epílogo tão gigante que se transforma em um ato final, onde a narrativa da dúvida da fé chega para “imacular” a imagem de Jeremy Camp – com direito a site e telefone onde você pode se evangelizar assim que os créditos começarem.

Veja o Trailer:

 

Clique aqui e leia críticas de outros filmes da Amazon Prime Video.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

1 Comment

  1. Que maluco, foi um filme MARAVILHOSO, chorei, foi incrível, vcs não assiste a historia fixa tentando encontrar defeitos. Para um pouco de pensar wm técnica e se conecte com a história. Foi linda.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *