Sinopse: Em “Influencer de Mentira”, uma jovem ambiciosa consegue seguidores e fama ao dizer ter sobrevivido a um ataque mortal, mas logo descobre o preço terrível de ser uma celebridade digital.
Direção: Quinn Shephard
Título Original: Not Okay (2022)
Gênero: Comédia | Drama
Duração: 1h 40min
País: EUA
O Print é Eterno
A mistura de comédia e drama adolescente (pelo menos é assim que o tratarei depois do choque de realidade de me lembrar que as músicas da Avril Lavigne são “das antigas”) “Influencer de Mentira” tem atraído boa parte do público dos streamings para o catálogo do Star+ nas últimas semanas – e dividido opiniões. Originalmente lançado pelo Hulu, a América Latina vem ganhando de brinde as produções mais inspiradas da tríade de plataformas da Disney, já que este serviço não se estabeleceu aqui e acaba reunido na ala family unfriendly do conglomerado (já que o Disney+ exige como pré-requisito superpoderes ou princesas nas obras que disponibiliza).
Escrito e dirigido pela jovem Quinn Shephard, não é difícil imaginar os elementos que, ao mesmo tempo, atraem e repelem parte dos espectadores. Totalmente imerso na atualidade, o filme conta a história de Danni (Zoey Deutch), uma moça que vive o mal acometido por boa parte de nós: o medo de estar diante de uma vida medíocre e irrelevante. Até que ela coloca em prática uma ideia para “bombar” seus perfis nas redes sociais. Inventa um convite para um retiro literário em Paris. Durante alguns dias, ela ficará trancada em seu quarto postando montagens de fotos que vende, em seu Instagram, uma felicidade projetada, uma realidade distante da dela.
As inspirações para “Influencer de Mentira” existem aos montes. Houve um caso de uma falsa ativista em meios aos protestos pelo morte de George Floyd em 2020, por exemplo. O faz-de-conta da protagonista parecia ruir quando ela vira o centro das atenções e preocupações de seus seguidores ao fingir uma foto próximo ao local em que acontecia um atentado terrorista na França. Ela, então, sustenta a mentira e executa a segunda parte da empreitada: capitalizar em cima do fato. Vale um parênteses para o título em português. Em tempos no qual boa parte dos lançamentos em streaming sequer são traduzidos, teria total pertinência a manutenção do original, “Not Okay“, a hashtag que Danni usa de alavanca para o seu sucesso. No Brasil, acabou trocado por um clickbait quase tão desnecessário quanto às fantasias da personagem.
O interessante do longa-metragem de Shephard é que vivemos em um mundo no qual a paródia e o satírico são cada vez menos absorvidos. A proximidade com o real e os aspectos mais absurdos ainda carregarem um verniz de verossimilhança. Sinal dos difíceis tempos (para a saúde mental) em que vivemos e também uma possível explicação para o desagrado do público. Quando Danni decide manter os planos, ela terá que se moldar à personalidade e aos ativismos das redes daquele momento. Isso a levará ao encontro de Rowan (Mia Isaac), uma adolescente que sobreviveu a um ataque a tiros em seu colégio e prega o fim da violência.
Danni, então, seguirá a atual dinâmica dos influenciadores. Eles se aliam a outros maiores e tomam lições para eclipsar sua imagem e engajamento. Desta forma, a protagonista ataca aqueles que voluntariamente se alienam (o que, na sociedade insana na qual estamos inseridos, não parece de todo mal) e mistura o discurso da nova amiga com as velhas táticas de mentoria. A #NotOkay encontra público de forma orgânica, mas dali em diante ela não consegue mais escapar da gênese da personalidade que criou para si: a de uma pessoa forjada através do trauma.
O ritmo no arco que desenvolve a trama é irregular e a comédia enquanto gênero pouco (ou quase nada) funciona. Não se trabalha tanto as bases do ridículo, algo que se torna um obstáculo para o próprio filme. Isso não quer dizer que o drama seja tão ineficiente. A oposição entre as diversas formas de maldade pelo personagem de Colin (Dylan O’Brien) e o acolhimento pela comunidade liderada por Rowan agem como duas molas que ampliam o sentimento de que Danni chegará a uma encruzilhada.
Em tempos em que as fake news se proliferam a ponto de não termos mais controle sequer sobre o quê nós estamos compartilhando, pelo olhar da colega de trabalho Harper (Nadia Alexander) a história trata da importância dos facts checking, que não deixam de ser – também – nova forma de criar engajamento. Também há menções às leituras, por vezes pouco produtivas, de tentar analisar situações através de recortes sociais, de gênero, dentre outros. Por vezes, se esquece de olhar detidamente o indivíduo.
Ao chegar ao final de “Influencer de Mentira” ampliamos a sensação de que vivemos em um espiral de absurdos – e sem previsão de sair dele. O mantra “falem mal, mas falem de mim” encontrou dimensões incomensuráveis até para os mais potentes algoritmos. Os humanos não param de nos surpreender pela maneira como desenvolvem a nova regra de espetacularização de todos os comportamentos. Da mentira (que virou trollagem) aos pedidos de desculpas (agora limitados “a quem se sentiu ofendido”). A conclusão da obra opta pelo caminho de nos lembrar que “nem tudo é sobre você“.
É sobre isso. E, claro, não está tudo bem.
Veja o Trailer: