Jerry e Marge Tiram a Sorte Grande é a novidade do Paramount+. Leia a crítica!
Sinopse: Inspirado na história real do aposentado Jerry Selbee que descobre uma brecha matemática na loteria de Massachusetts e, com a ajuda de sua esposa, Marge, ganha milhões e usa o dinheiro para reerguer sua pequena cidade em Michigan.
Direção: David Frankel
Título Original: Jerry and Marge go Large (2022)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 38min
País: EUA
Uma Boa Aposta
Com uma dupla excepcional de protagonistas “Jerry e Marge Tiram a Sorte Grande” é uma das apostas do serviço de streaming Paramount+ para distribuição mundial de suas produções originais. Bryan Cranston e Annette Bening vive um casal que descobre uma brecha em um jogo de loteria da sua região e optam pelo caminho do empreendedorismo social, mesmo que não se deem conta disso. Baseado em uma história verdadeira, que virou artigo escrito por Jason Fagone, a adaptação do roteiro de Brad Copeland (de boa experiência em sitcoms) privilegia a comédia situacional na medida, tanto para o casal que lidera o elenco quanto para as adições de bons coadjuvantes.
Cranston é Jerry, um homem que passou as últimas quatro décadas trabalhando na mesma fábrica de flocos de milho. Promovido a gerente de linha ainda jovem, teve uma vida profissional pouco desafiadora e de muitas atribuições e responsabilidades. Assim como grande parte da massa assalariada, teve que conviver com a apreensão e o medo de engrossar a fila de desemprego a qualquer momento. Ainda mais nos Estados Unidos, em que os empregados são ainda menos protegidos e suas dispensas facilitadas.
A ambientação de “Jerry e Marge Tiram a Sorte Grande” nos coloca nos Estados Unidos em processo de desindustrialização, algo agravado no governo de Barack Obama e que deixou um rastro de insegurança propício para a eleição de Donald Trump pelo eleitorado-médio. Sendo assim, as expectativas de Jerry se concretizam e ele, até por conta da idade, está pronto para viver uma modesta aposentadoria. A sociedade de consumo de seu país e o custo dos serviços e aquisições de bens básicos não permite que a classe média mantenha economias capazes de propiciar uma velhice estável. Aqui você percebe o quanto estamos cada vez menos distantes da realidade da América do Norte – e isso não é consequência da globalização, é um projeto político.
Voltando ao longa-metragem, a inteligência e os dotes matemáticos do protagonista o faz perceber a falha no sistema do jogo que ele pretende quebrar. A partir de uma rolagem de números que só ocorre após determinada quantia apostada, ele percebe que – se há cada três semanas, em média – ele adquirir um número mínimo de bilhetes, não há risco dele não ser premiado. É a chance dele fazer algo relevante, após uma vida que entende por medíocre. Marge (Bening) entra nessa história, a princípio, desejando momentos de paz e tranquilidade com o marido. Planeja passeios e até a retomada de uma vida sexual mais ativa.
Ao perceber que Jerry está próximo do que podemos chamar de sucesso, ela compra este projeto. Quando a máquina da loteria na sua cidade é descontinuada, eles transformam os dias de aposta em uma longa viagem para outro Estado. Ela enxerga o jogo pela ótica da aventura, encontra meios de se reconectar com um homem que viveu para trabalhar – a ponto da narrativa revelar certo distanciamento dele com os dois filhos. O interessante é perceber que essa não é a primeira vez que o protagonista aposta em recomeços, mesmo sem muita empolgação.
Somos condicionados a achar que sempre estamos velhos demais para determinadas decisões. Ao mesmo tempo em que, como forma de consolo, ouvimos a parcela otimista da sociedade nos vender que nunca é tarde para fazer o que quisermos. Porém, o personagem aqui parece cansado de comprar esse sonho. O que torna mais envolvente a história por trás do filme é que, a partir do segundo ato – e com grande intensidade no terço final – somos colocados diante de um antagonismo jovem, privilegiado e contando os minutos para ser bem sucedido. Isto porque, assim como Jerry, um estudante de Harvard descobre a mesma falha no sistema da loteria.
Só que o senhor aposentado parece bem mais preocupado com os objetivos por trás de uma simples vitória. O que chamamos de empreendedorismo social é que, ao descobrir uma possibilidade de alto lucro, o casal deixa de lado o individualismo e divide as informações com seus vizinhos e amigos. Dão a volta nos malfadados esquemas de pirâmide, criando um em que ninguém terá prejuízo. Ao se voltar para a sociedade, ele consegue aquela que talvez seja sua conquista mais importante: rompe com a lógica de descrédito que pautou as suas relações. As pessoas agora o escutam, levam a sério seus conselhos e planejamentos.
“Jerry e Margem Tiram a Sorte Grande” é dirigido por David Frankel, de sucessos como “O Diabo Veste Prada” (2006) e “Marley e Eu” (2008). Filmes que precisam de uma condução mais voltada para a liberdade do elenco em desenvolver a comédia do que qualquer tipo de virtuosismo. Acerta mais uma vez em não querer forçar algo além disso, com a certeza de que entra em campo com o jogo praticamente ganho com um time que tem Cranston e Benning. É possível que seja uma das primeiras produções do Paramount+ que fure um pouco a bolha ainda limitada de assinantes.
Na América do Sul, os direitos de transmissão da Copa Libertadores da América a partir de 2023 deve angariar muita gente para o serviço. Esperamos que, até lá, essa divertida comédia não esteja perdida no fundo do catálogo.
Veja o Trailer:
Nossa! Adorei o filme . Atualmente me sinto como Jerry se sentia. Percebi que dá pra transformar o que tenho atualmente nas mãos o meu tão sonhado “bilhete premiado” . Empreendedorismo social, esta é a chave!