Sinopse: Joy é uma nigeriana que vive na Aústria há anos e tem como meio de vida a prostituição. Assim como ela, muitas africanas das mais diversas origens são atraídas pelo mercado da prostituição europeu com a esperança de fornecer uma vida mais tranquila a suas famílias.
Direção: Sudabeh Mortezai
Título Original: Joy (2018)
Gênero: Drama
Duração: 1h 40min
País: Áustria
Há Saída Possível?
“Joy” da austríaca Sudabeh Mortezai (que venceu “O Chão sob Meus Pés” como melhor filme austríaco do ano passado) promete ser um filme árido já em suas primeiras sequências. Nelas vemos a jovem Precious (Mariam Precious Sanusi) passando por um ritual que depois descobrimos ser uma espécie de amarração para que ela pague ao sacerdote de sua vila. Ainda não sabemos, mas Precious será enviada à Europa como prostituta e terá, além da dívida espiritual com o sacerdote, uma dívida com a “madame” (cafetina) que a recebe na Áustria. Como se não bastasse, há ainda a necessidade de enviar dinheiro para família, já que – não podemos esquecer – esse foi o motivo inicial que a levou ao continente.
Logo percebemos que a protagonista do filme não é Precious, mas Joy (Anwulika Alphonsus), que dá nome ao filme. É ela quem funciona como uma tutora para aquela, ensinando-a a entender a prostituição como um trabalho, arrumando seu cabelo, suas roupas, seus sentimentos (ou a falta deles). É duro ver uma Precious se anestesiar aos poucos em cena. Perceber que esse é o processo de muitas mulheres que migram – sabendo ou não de suas atribuições no país de destino – é mais duro ainda. Combina com a aridez do território que vemos no início do filme.
Os olhos de Joy já são apagados e vemos, aos poucos, os de Precious se apagaram também. O processo grosseiro que combina violência sexual, mental e ameaças religiosas faz dessas mulheres verdadeiros corpos sem vida. O pouco de esperança que resta é minado com o passar dos meses, anos, décadas…
Sempre há motivos que as prendem ao apartamento escuro, úmido e escondido na qual vivem acumuladas como mercadorias. Seja o medo efetivo pela própria vida ou o medo de ser deportada. Por mais que tentem se unir, nesse ambiente, na qual são colocadas umas contra as outras, sobra pouco espaço para a afetividade e, ainda quando ela aparece, é de um afeto desconfiado que estamos falando.
A própria Joy avisa à Precious que ela não deve tê-la como amiga. “Sobrevivem as mais fortes“. As que endureceram.
O medo do sacerdote (ao qual chamam de Juju) que mantém, além de cabelos e unhas, os nomes de todos os familiares das enviadas, é uma questão cultural a ser abordada.
Por mais que os europeus que tentam ajudar Joy não compreendam a preocupação contínua da mulher, é preciso entender que, quando falamos de crença e religião, as distâncias culturais se tornam cruciais para as escolhas (e falta de escolhas) dos caminhos.
Em uma das partes mais delicadas do filme, uma Precious, já endurecida, ainda cola nas paredes de seu pequeno espaço fotos de mulheres negras que têm como modelos: Beyoncé, Michelle Obama… Há ainda um resto de sonho em seu corpo juvenil.
Para Joy, resta conseguir, finalmente, sua liberdade. Para recomeçar. De novo e novamente.
O final de “Joy” não é animador. A diretora não pretende, em momento algum, nos enganar com histórias de superação porque a maioria das histórias dessas mulheres não têm um final feliz. Por que fazer isso em “Joy”? Sudabeh Mortezai conduz o drama com a aspereza necessária para nos aproximar da realidade.
O filme está disponível na plataforma Netflix.
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