Loop

Loop Filme Brasileiro Bruno Bini Crítica Pôster

Sinopse: Após a morte de sua namorada, Daniel, um estudante de Física fica obcecado com a ideia de voltar no tempo para evitar uma tragédia. Ele se deixa consumir pela sua própria obsessão até que após anos de isolamento, ele encontra a solução. Daniel então vira as costas para o seu futuro e volta ao passado. Mas não é mais o mesmo homem.
Direção: Bruno Bini
Título Original: Loop (2021)
Gênero: Ficção | Drama
Duração: 1h 38min
País: Brasil

Loop Filme Brasileiro Bruno Bini Crítica Imagem

Se Joga

Chegando ao circuito paulistano neste final de semana, “Loop“, do diretor Bruno Bini, é mais uma produção brasileira que está pronta para ocupar o espaço do cinema de gênero nas plataformas digitais mais populares – ainda mais contando com a Elo Company na distribuição, uma importante player do mercado audiovisual do país.. Entre as produtoras (liderada pela Plano B Filmes, em coprodução com Globo e Valkyria), a experiente Druzina Content também foi responsável por outra interessante narrativa ficcional semi-distópica que a Apostila de Cinema registou ano passado. “Contos do Amanhã” trazia o elemento saudosista do final do século XX, em uma trama bem costurada por Pedro de Lima Marques – e depois da passagem pelo Festival de Gramado, ganhou estrada (e prêmios) em mostras de cinema fantástico ao redor do mundo.

Aqui o foco é Daniel (protagonista interpretado por Bruno Gagliasso) e sua obsessão por viajar no tempo. Parece que o estudante de Física vive para encontrar um motivo para se jogar nesta missão. Tenta de todas as formas seguras uma maneira de se transportar ilogicamente para outro espaço-tempo. Agenda eventos anunciados apenas no futuro, com a expectativa de receber alguém que foi bem-sucedido na jornada. Quem sabe ele mesmo, apesar de, nos cânones de viagens no tempo, ser uma regra básica não nos encontrarmos com a nossa versão do passado ou do futuro. Uma ideia fixa que impacta na sociabilidade do jovem, que precisa da ajuda da irmã Simone (Branca Messina) para levar uma rotina um pouco menos introspectiva.

Em um desses exercícios sociais, ele se apaixona e começa a namorar Maria Luiza (Bia Arantes). Há uma questão no desenvolvimento da narrativa que deixa, por algum tempo, a história de “Loop” estacionada. A construção do protagonista é tão dinâmica e sintética, os fatos geradores são empenhados de maneira tão direta, que começamos a assistir a obsessão e a busca por justiça pela morte de Maria Luiza ser reiterada. Bini estende ao máximo a manutenção de expectativa por parte do espectador e ficamos no terreno das possibilidades até o limite. É um quebra-cabeça que, ao se revelar no ato final, justifica a opção por trazer com cadência outros personagens e representações. Contudo, talvez não seja o suficiente para prender a atenção da maioria do público.

Sem o elemento referencial do passado do outro longa-metragem mencionado no início da crítica, as soluções encontradas pelo roteiro, na adequação do tamanho da obra, precisam explorar o lado dramático. Neste caso, a notoriedade e o carisma de Gagliasso como líder de elenco é fundamental, uma soma importante para o projeto. O ator é, ao lado de Fernando Meirelles, um dos produtores associados. Talvez investir mais no que é futuro dentro da narrativa e passado para nós equilibraria o ritmo do filme. Esses elementos são mencionados e abordados, como as manifestações de junho e 2013 e a Copa do Mundo no Brasil em 2014. Porém, confluindo para a obsessão de Daniel, eles parecem um bônus da trama principal, enquanto poderiam ser um aposto.

Dentro das convenções do gênero, a obra segue a linha reflexiva sobre o paradoxo da viagem no tempo. Não com o poder destruidor ou catártico e sim nos impactos diretos na vida daquele que ousa desafiar a lógica. Algo que o autor Philip K. Dick se debruçou com sucesso e trouxe, nas adaptações audiovisuais de seus escritos, algumas das grandes referências cinematográficas na ficção. Bruno Bini faz de sua criação um arco mais centrado na trajetória pessoa do que no thriller, por exemplo. É menos “Minority Report” (2002) na linguagem e mais no objeto.

Quando encontra a estrada para a solução dos conflitos, “Loop” é eficaz na proposta de relacionar causas e consequências na constante maneira com a qual Daniel busca, de forma incessante, uma segunda oportunidade. Uma conclusão um pouco atravessada ao expor o mistério por trás daquele leque de personagens, mas ainda assim o suficiente para nos convencer. Porém, até chegar ao ponto de virada – ou ao ponto de seu próprio looping – poderá frustrar os espectadores mais ansiosos. Ainda assim, mais um bom exemplar de um gênero que, por depender da criatividade, casa bem com algumas propostas do cinema brasileiro contemporâneo.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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