Luca

Luca Filme Pixar Animação Disney 2021 Crítica Pôster

Sinopse: A história de um menino e seu amigo que parecem completamente humanos e normais quando estão fora d’água, mas na verdade são criaturas marinhas misteriosas. Suas vidas começam a mudar quando eles fazem amizade com uma jovem na superfície.
Direção: Enrico Casarosa
Título Original: Luca (2021)
Gênero: Animação | Aventura | Comédia
Duração: 1h 35min
País: EUA

Luca Filme Pixar Animação Disney 2021 Crítica Imagem

Tudo Acaba em Pixar

No início da sessão de “Luca“, que chega diretamente à plataforma de streaming Disney+ (decisão da empresa que merece ser assunto mais adiante), parecíamos que enfrentaríamos os mesmos desafios de “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” (2020) e “Soul – Uma Aventura com Alma” (2020), os dois lançamentos da Pixar no ano passado. Quase como se toda a criatividade que permaneceu por tempo como marca registrada deste, agora, braço de um conglomerado de entretenimento padronizado, se esvaísse em prol de um entretenimento um pouco mais simplista, rasteiro, alienante. Ao final da experiência não chegamos a uma conclusão tão pessimista assim.

Há algo a mais na comparação com as produções mencionadas, mesmo que não o suficiente para tirar o longa-metragem de uma posição de meio de ranking em qualquer lista que você queira nos imaginar fazendo. Luca Paguro (Jacob Tremblay) é um monstro marinho que adquire forma humana na superfície. Empolgado com a vida fora dos “limites” do oceano, ele se junto a Alberto (Jack Dylan Grazer) e Giulia (Emma Berman) em uma aventura na Riviera Italiana. Eles participarão de um triatlo um pouco diferente, envolvendo natação, ciclismo e uma batida de prato de uma deliciosa massa da nonna. Os pais do protagonista irão atrás dele em uma busca pelo filho, temendo ser o garoto alvo de preconceito e todas as maldades que envolvem uma sociedade que não aceita o diferente.

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Ou seja, a abordagem inicial de “Luca” é quase um combo de revisitações de clássicos da empresa. A perseguição familiar para além do mar de “Procurando Nemo” (2003) e a relação de deslumbramento com os elementos humanos por um ser aquático de “A Pequena Sereia” (1989). Pode colocar também a ideia de vencer uma competição e o processo de desenvolvimento de autonomia de “Carros” (2006). Soma-se a esta sensação de criação algoritmizada a ameaça de encontrarmos a terceira produção consecutiva da Pixar com uma narrativa parecida, gameficada. Riscos que o filme dirigido por Enrico Casarosa consegue conter, em boa parte apostando na beleza das representações da costa italiana e no humor involuntário do trio de protagonistas.

Indicado ao Oscar em 2012 pelo curta-metragem “A Lua” (2011), também disponível no Disney+, o cineasta parece ceder menos aos impulsos de uma empresa que parece desenvolver seus projetos “apenas” para agradar o público disposto a seguir consumindo de forma desenfreada seus produtos. A animação ganha pontos ao não explorar tanto uma magia exageradamente inocente como “Dois Irmãos” e nem o sentimentalismo como mote simples e pouco aproveitado de “Soul”. Mesmo perdendo a maturidade na abordagem dos temas que circundam a obra, com a Pixar o fazia com naturalidade em outros tempos, a sessão acaba sendo mais divertida por segurar um ritmo frenético de acontecimentos que não se justificaria.

Temos uma agravante em tudo o que a Disney coloca no tabuleiro desde 2020. Ao ser mais uma a ameaçar o reinado da Netflix no streaming, ela aumentou ainda mais a escala industrial de sua produção. Uma empresa que passou décadas construindo um imaginário por trás de seus filmes, tornando todos eles um acontecimento, agora se vê obrigada a repetir o expediente de consumo instantâneo de sua concorrente. A diferença aqui é que o longa-metragem não se aprofunda nas tramas e personagens periféricos, os coloca como agentes menores sem forçar interações e aventuras grandiosas a cada cinco minutos. É tão enxuto que acaba rápido (e ultimamente há um elogio por trás desta ideia).

O tio de Luca, por exemplo, é um alívio cômico tão pontual que retorna apenas em uma cena pós-créditos (e são minutos intermináveis de créditos, use seu controle remoto). Visualmente bonito, com mensagens e características simples e o antagonismo deliciosamente caricato de Ercole Visconti (Saverio Raimondo) são alguns elementos que tiram a carência de uma aventura desenfreada. Por fim, parece não ter nada novo em relação à narrativa e estética. Contudo, uma análise valorativa que um choque geracional torna inviável, por mais que tenha me divertido mais aqui do que nos outros filmes.

Porém, talvez os pequenos amem “Luca” bem menos do que a média pois as ferramentas para instigá-los são deixadas um pouco de lado. Um conflito, portanto, em que não há leitura certa. Porém, que a Pixar já nos arrebatou muito mais, isso é inegável – e segue pouco disposta a tornar a fazê-lo.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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