Sinopse: Na União Soviética ocupada durante a Segunda Guerra Mundial, István Semetka é um fazendeiro húngaro que serve como cabo em uma unidade especial de reconhecimento de grupos da resistência. No caminho para uma aldeia distante, sua companhia é atingida por um ataque inimigo. Em “Luz Natural”, após a morte do comandante do agrupamento, Semetka vai precisar superar seus medos e assumir a liderança do grupo, enquanto é arrastado para dentro de uma sucessão de eventos caóticos que fogem do seu controle.
Direção: Dénes Nagy
Título Original: Természetes Fény (2021)
Gênero: Guerra | Drama
Duração: 1h 43min
País: Hungria | Letônia | França | Alemanha
Resistências e Opressões
Na Competição de Novos Diretores da 45ª Mostra SP, “Luz Natural“, drama de guerra que deu ao húngaro Dénes Nagy o prêmio de direção do Festival de Berlim de 2021, nos fez lembrar de um dos destaques da crítica da edição passado do evento. O português “Mosquito” (2020) chamou atenção de muita gente por unir um gênero carregado de convenções e exercícios audiovisuais como os conflitos armados que percorreram o século XX e a ideia de mostrar um protagonista que rompe com a lógica do conquistador. Por mais que seja fruto de um sistema que o coloca em um combate tal qual uma peça de tabuleiro, ele é um invasor e cruel opressor para determinada comunidade, inclusive culturalmente.
É um pouco o que se passa com István Semetka (Ferenc Szabó) quando, por força das circunstâncias, ele protagonizará a ocupação de uma vila no início da década de 1940, em meio á Segunda Guerra Mundial. Deixando de lado qualquer julgamento ético e moral, o espectador é levado a assistir às formas e táticas pelos quais se busca a legitimidade de uma tropa estrangeira em um território. O cineasta traz a figura do oficial de maneira sufocante no ato inicial, nos aproxima de sua perspectiva fechando a imagem com uma câmera por cima dos ombros do protagonista. Ao longo de toda a obra ele mostrará um controle notável para um realizador jovem, em seu primeiro longa-metragem.
Deste olhar mais claustrofóbico e intimista, nossa visão em “Luz Natural” vai se ampliando para que todo o terror promovido junto àquela comunidade se materialize. A destruição de casas, os saques às famílias e a promoção de todo tipo de abuso e violência. Como se a autoridade pudesse ser conquistada a qualquer custo, até mesmo que o estabelecimento militarizado tivesse em sua gênese manter o status quo. Sem qualquer possibilidade de diálogo, o segundo ato do filme é bem mais exploratório sobre o território, pela necessidade de identificação de grupos de resistência na localidade.
A experiência da sessão é tão cruel e desumana quanto a percepção de viver em um espaço sem liberdade, invadido impunemente. A interpretação de Szabó, pelo olhar que não condiz com a frieza dos movimentos, traz uma humanização natural a István, posto que a narrativa jamais o colocará em posição heroica. Tanto nas escolhas enquanto representação ou texto da direção e roteiro de Nagy, quanto na concentração da autoridade em sua figura pelo olhar da câmera e a forma como o entorno se configura na direção de fotografia de Tamás Dobos.
Aos poucos o espectador ganha multilateralismos, principalmente pela ótica da exploração visual do sofrimento daquele povo, enfileirados para serem torturados em um diálogo visual com obras como “O Pianista” (2002), na qual Roman Polanski traz os métodos nazistas de ocupação, sem parecer tão distantes assim.
Povo este que padece não apenas da opressão, mas da falta de conhecimento que a torne minimamente justificável. Sendo assim, “Luz Natural” nos apresentará um tipo de resistência silenciosa e possível, sem que o público consiga atingi-la em cheio. Seguimos uma tropa até que seu próprio líder e comandante daquela onda de crueldade se perceba, também, peça descartável desse tabuleiro de um jogo cujo único objetivo é a morte.
Veja o Trailer:
A excelente leitura crítica do filme Luz Natural me deu vontade de assistir a ele. Onde poderia?
Oi, Marli! Muito obrigado pelo comentário! “Luz Natural” fez parte da programação da Mostra SP há três meses, então deve chegar nos cinemas ao longo de 2022, depende muito do planejamento da distribuidora dele aqui no Brasil.