Máquina do Desejo – 60 Anos de Teatro Oficina

Máquina do Desejo - 60 Anos de Teatro Oficina Crítica Documentário É Tudo Verdade Imagem

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Sinopse: Em seis décadas, o Teatro Oficina fez mais que revolucionar a linguagem teatral no país: a influência estética da companhia de José Celso Martinez Corrêa estende-se do Tropicalismo à renovação das linguagens audiovisuais brasileiras a partir dos anos 1960. O filme revisita uma história que envolve personalidades como Caetano Veloso, Glauber Rocha, Lina Bo Bardi, Chico Buarque e Zé do Caixão, aproxima arte cênica, ecologia, arquitetura e sexualidade, e mistura arte e vida na busca de uma linguagem verdadeiramente brasileira.
Direção: Lucas Weglinski e Joaquim Castro
Título Original: Máquina do Desejo – 60 Anos de Teatro Oficina (2021)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 49min
País: Brasil

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Baú da Subversividade

Dando início à competição de longas-metragens brasileiros do Festival É Tudo Verdade 2021, o documentário “Máquina do Desejo – 60 Anos de Teatro Oficina” vai de encontro com uma fala do cineasta Ugo Giorgetti em entrevista exclusiva para a Apostila de Cinema. Há governos ruins e menos piores no trato com a Cultura e a preservação deste patrimônio e dessas manifestações no Brasil. Assistir à obra dirigida por Lucas Weglinski e Joaquim Castro é seguir dois caminhos. Em um deles, o envolvimento com toda a contribuição da companhia criada e defendida com todas as forças pelo incansável José Celso Martinez. No outro, lamentar que – depois de tanta luta por sobrevivência – o que resta é apenas a permanente necessidade de lutar.

As imagens de arquivo desse expoente do vanguardismo brasileiro já garantem à produção um potencial performático, que quebra com a trajetória dos seis filmes estrangeiros que assistimos nos dois primeiros dias até chegar aqui. Ao contrário de “Todas as Melodias” (2019), que tentou encaixar as representações do biografado em uma atualização da linguagem musical contemporânea, aqui os cineastas só fogem do registro histórico para realizar novas captações do grupo.

Nascido na faculdade de Direito na USP, no Largo de São Francisco, o Teatro Oficina nunca deixou de ser resistência. E, lamentamos pensar assim, nunca será. Com uma proposta de subverter e provocar, jamais será lido da forma que merece em uma sociedade que transita entre a hipocrisia e o conservadorismo. Mesmo assim, a companhia se ergue em um daqueles flashes de progressismo pelo qual o Brasil passa a cada cinquenta anos. Dando continuidade às mudanças que o Teatro de Arena provocou na cena cultural paulistana, trouxe o método brechtiano de vez para uma geração que queria mais do que já havia conquistado.

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Máquina do Desejo – 60 Anos de Teatro Oficina” transita bem entre a historiografia e a real situação do grupo. Também equilibra as representações, as falas e não cai na tentação de tornar o filme uma carrossel de referências, uma enciclopédia ou até mesmo uma ode aos velhos tempos. Quando se tem na gaveta manifestações que vão de Fernanda Montenegro a Glauber Rocha e negociações frustradas com governos que vão de Paulo Maluf a João Dória, é difícil não usá-las. Por sinal, a presença do atual governador de São Paulo e da figura do empresário Silvio Santos são providencialmente limadas do filme. O segundo chega a ser citado, já que entender a tentativa de desocupação do espaço passa obrigatoriamente por ele.

Porém, há uma busca como objeto principal da obra a contribuição de todas as produções que surgem na Rua Jaceguai para a cultura nacional. Uma arte que, como quase sempre acontece no Brasil, vem da pequena burguesia – mas quer analisá-la crítica e desbundadamente. Ao contrário do campeão do É Tudo Verdade do ano passado, “Libelu – Abaixo à Ditadura” (2020), o Oficina pode até ter endurecido, mas não perdeu a ternura como a elite ex-trotskista que se tornou irreconhecível nas mesas de análises políticas dos meios de comunicação. Zé Celso seguiu com seu ideal e, de certa forma, se adaptou aos ventos o máximo possível.

Mais do que derrubar mitos, o Teatro Oficina deu outras contribuições. Durante a construção do Minhocão na região do Bixiga, foi analítico (a seu modo) na maneira como a transformação do maior centro urbano do Brasil se deu. Quando a perseguição política tornou insustentável sua existência física, registrou importantes imagens da independência de Moçambique em 1975. Não admite até hoje ser derrotado pela especulação imobiliária. Tal qual uma escola de samba, que pede passagem para divertir e ensinar “Máquina do Desejo – 60 Anos de Teatro Oficina” não é só desbunde – mas não é só lamento. É um documento que permanecerá mesmo se um dia o Golias Judeu do Capital derrotar um Davi, esquecido pelo Deus Mercado.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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