Minhas Férias com Patrick

Minhas Férias com Patrick Crítica Filme Pôster

Sinopse: Em “Minhas Férias com Patrick”, Antoinette (Laure Calamy) está esperando o verão há meses e a promessa de uma semana romântica com seu amante, Vladimir (Benjamin Lavernhe). Quando ele cancela as férias para ir passear nas Cévennes com a esposa e a filha, Antoinette não pensa muito: ela segue seus passos! Porém, em sua chegada, ela conhecerá Patrick, um burro atrapalhado que a acompanhará em sua jornada.
Direção: Caroline Vignal
Título Original: Antoinette dans les Cévennes (2020)
Gênero: Comédia | Aventura
Duração: 1h 37min
País: França | Bélgica

Minhas Férias com Patrick Crítica Filme Imagem

O Kit-Basta

Chegando hoje ao circuito comercial brasileiro, o francês “Minhas Férias com Patrick” é um ótimo exemplo do uso de carisma de uma boa atriz alinhada com uma trama que, apostando na pouca complexidade, decide se inovar pelas representações e pela própria comédia situacional que se extrai. Protagonizada por Laure Calamy, que venceu o César (prêmio da Academia do país) de melhor atriz pelo filme – batendo as duas atrizes de “Deux” de “Adieu les Cons“, o grande vencedor da noite – a obra recebeu outras sete indicações, mostrando que foi bem acolhida em suas terras.

A princípio parece que revisitaremos uma história de descoberta a partir de uma crise de meia idade. Antoinette Lapouge é uma professora de quinto ano que se envolve com o pai de um dos alunos, tornando-se amante. Sua expectativa é que a primeira semana de férias fosse um momento a sós com Vladimir (Benjamin Lavernhe), que na tática mais manjada do setor, inventaria um compromisso profissional que o deixaria livre para viajar com a protagonista. Porém, os planos são frustrados por um outro passeio, em família, no qual ele levará esposa e filho para repetir a rota do escritor escocês Robert Louis Stevenson em 1878, quando ele escreveu “Viagem Com Um Burro Pelas Cevenas“, antes dele lançar parte de seus maiores sucessos.

Com isso, Antoinette planeja uma “viagem stalker“, em que ela seguirá os passos de Vladimir – sem saber muito bem o que fazer nessa situação potencialmente constrangedora. A base da comédia se dá porque a personagem, ao contrário de todos os abastados senhores e senhoras que fazem a travessia de doze dias, opta pela forma mais realista: com a companhia de um burro, Patrick. Os primeiros minutos do longa-metragem revelam uma mulher que vai do auge da empolgação (refletida na apresentação musical juntos aos seus alunos) para um questionamento sobre sua vida. Nessa crise de personalidade, mesmo que intrínseca, os caminhos pelos quais ela será levada são imprevisíveis e, o espectador acostumado com o gênero, espera certo exagero dessa mistura criada o roteiro da diretora Caroline Vignal.

Porém, no material original de Stevenson, a relação principal se dá com o simpático animal. Sendo a grande inspiração de “Minhas Férias com Patrick“, a atualização na narrativa desponta justamente ao mitigar a importância do que circunda a vida (e a cabeça) de sua protagonista. De forma sutil, a cineasta vai nos tirando da toxicidade das relações humanas, que tem seu auge quando Antoinette revela seu plano para um indiscreto grupo de turistas. Laure Calamy, então, entrega uma excelente atuação que depende de longos monólogos em que a história evolui a partir de suas trocas com o burro.

O que poderia se tornar pouco dinâmico ou até contemplativo (pelo contrário, as belas imagens do Parque Nacional das Cevenas não são tão exploradas) acaba nos envolvendo, muito por tentar não ser uma reprodução de comédias com tramas parecidas. A atriz tem talento para promover uma entrega mais performática, transformando algumas sequências em algo próximo de um stand up. Mas, a direção de Vignal conduz de maneira mais minimalista a forma como as coisas se desenvolvem. Não é exagerado, forçado e nem vira uma comédia de absurdos – ferramentas que contariam contra a proposta de crescimento pessoal da personagem.

No mais, o burrinho teimoso e encantador nos ganha no final. Nossas risadas não dependem de caracterizações fora de esquadro, em um difícil trabalho de inserir uma dose de realismo a um mote que parecia a porta de entrada de um festival de disparates. Ao apostar em uma trajetória de emancipação, “Minhas Férias com Patrick” não abre mão das relações pessoais da protagonista, mas consegue passar a mensagem de que Antoinette se basta e que se sujeitar ao desejo dos outros pode nos levar à contramão do caminho para nossa felicidade.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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