Sinopse: Nova aventura baseada no videogame Mortal Kombat. Na história, um jovem que nunca treinou artes marciais acaba envolvido em um gigantesco torneio de luta envolvendo guerreiros da Terra e lutadores e outras dimensões.
Direção: Simon McQuoid
Título Original: Mortal Kombat (2021)
Gênero: Ação | Fantasia | Violência
Duração: 1h 50min
País: EUA
Kombat Imortal
A Warner, repetindo a tática da Universal de ressuscitar franquias, lançou no circuito comercial brasileiro uma nova adaptação de “Mortal Kombat“, jogo de luta canônico lançado em meados da década de 1990. Mirando a HBO Max, onde o filme já pode ser assistido em alguns países, o diretor Simon McQuoid aposta na fidelidade a cenários, personagens, expressões e – principalmente – violência dos primeiros títulos do game, ganhando amplitude geracional em sua narrativa.
É possível que muitos se perguntem se precisamos reviver as aventuras de Shang Tsung, Raiden, Sub-Zero e outras figuras que, absorvidas por uma aura de realismo, ficam parecendo um disciplinado grupo de cosplayers em um sábado à tarde. Até porque uma obra desta natureza não consegue entregar representações imunes às críticas, porque todo filme baseado em jogo é, na verdade, um paradoxo. Se fiel, apanha porque abdica do cinema para ser fiel. Se não é, apanha porque é “uma história qualquer” sob a desculpa de uma franquia conhecida.
Admiro quem entra na arena de “Mortal Kombat” pronto para apanhar. Além do pouco experiente McQuoid, foram três responsáveis pelo roteiro. Na história, o igualmente inexperiente Greg Russo, além de Oren Uziel, de “O Paradoxo Cloverfield“, que fez alguns fãs apaixonados demais por terror se animarem com originais Netflix lá em 2018. Nos diálogos (?!) a contribuição de Dave Callaham, que iniciou a carreira no “uma história qualquer” “Doom: A Porta do Inferno” (2005) e, depois da trilogia “Os Mercenários“, se tornou responsável por grandes feitos da humanidade, como as falas “Mulher Maravilha 1984” e tratamentos de “Zumbilândia: Atire Duas Vezes” (2020).
Após mencionarmos os verdadeiros heróis desta produção, devemos escolher um lado para reclamar, certo? Então, se há algo que não se pode negar é que o objetivo de trazer a forma clássica do game é atingido. Se isso é bom, você me diga. Sequências de lutas em cenários vazados, pausadas para as frases imortalizadas no 32-bits e fatalities épicos não surgem apenas como clímax, perpassam toda a narrativa. Por sinal, priorizando plasticamente a violência, bem explorada por mais que flerte com o grotesco. Épicas também são algumas apresentações dos personagens, que precisam se descrever e chamar uns aos outros por nome e sobrenome durante todo o tempo. Há aqui um tropeço na personalidade da própria obra. O cineasta induz mergulhar fundo na mitologia de “Mortal Kombat”, mas precisa sempre dar passos atrás para reiterar qualquer coisa.
Interessante que McQuoid tem a ferramenta potente de um público-alvo iniciado, podendo fazer de seu filme algo mais próximo de “Monster Hunter” (2020) e acaba querendo emular os arcos dramáticos esfiapados de “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas” (2021). Usamos dois longas-metragens bem recentes, porque produções assim são desovadas aos montes – e daqui a dois meses, serão outras, em um ciclo cansativo de experiências iguais – mudando só o número da sala do shopping e do hambúrguer ao final da sessão (quando for segurar voltarmos aos cinemas).
Mas, vá lá, revisite com o coração aberto os humanos semi-poderosos Sonya, Kano, Jax, dentre outros. Deixe se envolver no suco saudosista de Nitara, Scorpion e Goro. A única contribuição original aqui é fazer com que as expressões potentes que ultrapassam o natural (como a manipulação do fogo de Liu Kang) ganhem o nome de arcanas. Isso faz com quem o longa-metragem se molde melhor enquanto filme de origem e o aproxime de um episódio estendido de “Os Cavaleiros do Zodíaco“, até pela forma como eles precisarão, rapidamente, aprender a dominar e usar seus diferenciais. Melhor não misturar fandoms, né? Desculpa.
Enquanto Cinema, a obra segue a cartilha da aventura. Montagem nervosa, closes em objetos e expressões tão didáticos quanto os diálogos expositivos e a perturbação de manter uma câmera para cada personagem, além de um plano geral. Não importa se são oito pessoas, cada uma será focada diretamente em suas falas, na bohemian rhaposyzação de Hollywood. Vencido o dilema sobre a maneira de transpor “Mortal Kombat“, esperamos que a Warner entenda que será sempre um jogo perdido. Mesmo que zere esse game, a tela seguinte exige que se jogue tudo novamente. Portanto, se você entende uma nova experiência como esta como um desafio, evite.
Veja o Trailer: