Sinopse: Ivan é um gorila muito especial, no entanto, ele sofre por não saber sobre o seu próprio passado. Com a ajuda de sua amiga Stela, uma elefante, eles vão atrás de pistas para desvendar os mistérios relacionados à vida passada de Ivan e planejam uma fuga do cativeiro em que vivem.
Direção: Thea Sharrock
Título Original: The One and Only Ivan (2020)
Gênero: Aventura | Comédia
Duração: 1h 35min
País: EUA
Ser Único não te Faz Especial
“O Grande Ivan“, longa-metragem que chegou ao Brasil pela plataforma de streaming Disney+, é mais um desdobramento do mais poderoso estúdio de cinema de Hollywood na era da digitalização. Revisitações de histórias clássicas ou novos olhares para argumentos que sempre foram apostas em filmes feitos “para a família”. Novamente a Academia inclui uma dessas produções na lista de indicados ao Oscar de 2021. Os efeitos visuais nomeados reforçam a ideia de que o processo de criação totalmente virtual de elementos fundamentais da narrativa segue em forte desenvolvimento.
São poucos os atores reais que contracenam com os animais do filme. Um deles é Bryan Cranston, que vive Mack, um homem que organiza pequenas apresentações com os bichos em uma galeria comercial na Flórida. Não será dessa vez que usaremos um dos filmes do eterno Walter White de “Breaking Bad” para falar de sua carreira. Indicado ao Oscar há cinco anos por “Trumbo – Lista Negra” (2015), o ator cumpre o protocolo, em um papel que exige muito menos esforço e deve render bem mais dinheiro do que aqueles em que – tentado por um bom roteiro enviado por seu agente – ele escolhe por contra própria. A obra também conta com participações de vozes como a de Angelina Jolie, Danny DeVito e Helen Mirren.
“O Grande Ivan” (no original “The One and Only Ivan“) se baseia no premiado livro infantil de mesmo nome escrito por Katherine Applegate. Os créditos revelam que existiu um gorila que passou pelas mesmas privações do nosso protagonista, mobilizando uma comunidade a pedir por vida em liberdade. A licença poética aqui, por sinal, é o que há de mais importante. O resgate verdadeiro jamais levaria Ivan de volta (ou enfim) para a Natureza – e sim para um cativeiro menos pior, em algum zoológico. A Disney há tempos atualizou seus discursos em tramas que usam espetáculos teatrais e circenses como mote. Já havia feito em “O Rei do Show” (que chegou há poucos dias na plataforma), revelando um P.T. Barnum (Hugh Jackman) bem mais humanista do que o verdadeiro, que transformava condições físicas de outras pessoas em entretenimento e lucro para si.
Depois que “O Rei Leão” (2019) consolidou uma técnica de alta qualidade nas histórias envolvendo animais, o caminho para que produções como esta ganhem vida sem se valer de nenhum bicho real se abriu. Com isso, natural que os diálogos que a obra crie dentro de seu subtexto também leve a tal questão, que antes seria vista como pura hipocrisia. Na jornada central, de desenvolvimento de personalidade, Ivan (com a voz de Sam Rockwell) é um ser pelo qual a sociedade à sua volta espera uma conduta específica. Ele precisa ser raivoso, assim como Ruby, jovem elefante que chega logo depois, precisa ser engraçada. O protagonista não consegue fugir de uma dinâmica, não sai dessa lógica – mesmo quando a onda muda e o público passa a buscar olhares como o de Ruby – que, mesmo podendo se adaptar, não lhe cabe enquanto gorila.
A diretora Thea Sharrock entrega um trabalho tão genérico quanto seu outro longa-metragem, “Como Eu Era Antes de Você” (2016). E, não, isso não precisa ser a lógica de uma produto que aposta na inovação tecnológica. Basta lembrar que nas primeiras vezes em que muitos de nós tivemos contato com as técnicas das cordas prendendo os atores – e até mesmo quando a digitalização de animais nos impressionou pela textura – tivemos um Ang Lee no comando (“O Tigre e o Dragão” de 2000 e “A Vida de Pi” de 2012). Porém, trabalhando a mando de um estúdio que parece desenvolver seus projetos como modelos, em algoritmos próprios, não há muito a ser feito.
Criado com muito amor à sua volta, Ivan cumpriu por muitos anos seu papel como ser forte e imponente. Quando uma nova faceta sua encantou o público, a tendência era que ele romantizasse de novo o sucesso, ficasse inebriado pelos aplausos. É sob essa nova perspectiva de se colocar no outro, de entender a liberdade como um bem inegociável, que a adaptação feita pelo roteirista Mike White (que depois de “Escola do Rock” de 2003 parece apenas replicar fórmulas em todos os seus trabalhos) encontra o caminho de deixar a mensagem para a família no sofá sem grandes sobressaltos.
“O Grande Ivan” se estende em uma conclusão que parecia consolidada, não desenvolve sua veia cômica e a aventura é engessada, limitada pelas grades das jaulas que mantém seus personagens quase todo o tempo presos. Ou seja, atualizar sua narrativa pode trazer certa inovação, mas não é capaz de torná-lo tão especial assim.
Veja o Trailer:
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