O Pai Que Move Montanhas

O Pai que Move Montanhas Filme Netflix Crítica Poster

Sinopse: Em “O Pai Que Move Montanhas”, um agente de inteligência aposentado arrisca a própria vida para salvar o filho que desapareceu no meio da neve durante uma caminhada nas montanhas.
Direção: Daniel Sandu
Título Original: Tata Mută Munții (2021)
Gênero: Drama
Duração: 1h 48min
País: Romênia | Suécia

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O Pico do Remorso

Direto da Romênia, uma das estreias mais interessantes da Netflix esta semana é “O Pai Que Move Montanhas“. Produção da Mobrafilms, que em 2007 venceu o Festival de Cannes com o potente “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” Uma história que provoca ao espectador questionamentos sobre empatia e remorso, ao envolver um drama familiar em uma busca por sobreviventes de uma trilha nas montanhas nevadas de Bucegi e seu intrigante parque natural. Escrito e dirigido por Daniel Sandu, acompanhamos a trajetória de Mircea (Adrian Titieni), pai que se desloca para os alojamentos próximos do local de sumiço de seu filho, na tentativa de ajudar de alguma forma a encontrá-lo.

O garoto decidiu fazer a perigosa trilha sob o risco de avalanche com a namorada. Já o pai separado da mãe do jovem, Paula (Elena Purea), vive com a nova esposa, Alina (Judith State), a fase final de uma gravidez. As primeiras sequências apresentam uma aparente harmonia do casal, que monta enxoval e escolhe a mobília do quarto da criança em um shopping especializado em artigos para o lar. Na condição de homem que se transporta de um núcleo familiar para outro, Mircea parece não aparentar nenhuma culpa pelo pouco contato com seu primogênito. Não sabe sequer a data exata do último contato com o rapaz.

Até que autoridades o procuram – de forma respeitosa, já que ele é um oficial aposentado – para comunicar sobre o desparecimento. Na região turística, ele não apenas encontrará Paula, mas também os pais da mulher que estava com seu filho. Ali o espectador começa a denotar um término mal resolvido do relacionamento anterior, alterando um pouco o foco das representações para a ex-esposa. Na condição de mulher que não se transporta de um núcleo familiar com a mesma facilidade do homem, há uma relação de cumplicidade e, por que não?, dependência entre mãe e filho.

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Fica a impressão de que as motivações por trás da missão de Mircea em “O Pai que Move Montanhas” se vinculam mais ao desespero de Paula. Todavia, uma carga obsessiva vai tomando conta do comportamento do personagem, em uma transformação de personalidade parecida com outro drama que chegou na Netflix por esses dias, “Perseguição na Neve” (2020). É notório que o oficial aposentado quer provar um ponto, não admite que receba tratamento igual em um espaço onde eventos desta natureza costumam ocorrer.

É aqui que Sandu encontra um bom contraponto para o seu drama e nos instiga a refletir. Não há como negar que a equipe de resgate está fazendo o seu trabalho e que há o risco de aumentar o número de vítimas caso coloquem outras pessoas sob riscos desnecessários. Porém, enquanto pai, Mircea não consegue admitir isso. Para ele, a ausência de um dilema sob esse aspecto faz com que seu filho se transforme em um número, em um objeto perdido que todos já deram por irrecuperável.

Há, ainda, o desejo de respeitar a morte e viver o luto pela materialização do corpo. Uma questão que ultrapassa o evento-limite que o filme apresenta e vincula sua narrativa a todos aqueles que passam parte da vida procurando indícios de sobrevivência ou confirmação do falecimento de seus entes queridos. Com um ritmo regular, sem ampliar o leque de personagens e sem extrair subtramas que dividam o foco, o longa-metragem quer nos apresentar como o objetivo do protagonista vai ganhando outros contornos com o passar do tempo.

Sendo assim, ele sai de um agente aposentado que deseja auxiliar nas buscas a um pai em desespero, capaz de cavar dezenas de metros de neve, para provar seu ponto à equipe que o acompanha. Passa, sobretudo, pelo desejo de devolver a uma mãe o que pode ser a centelha de esperança em sua própria existência. Em paralelo, “O Pai Que Move Montanhas” ainda mostra o anseio de uma outra família, pelo olhar da gravidez de Alina. Uma outra, mas que também é dele. Em uma aparente crise sem previsão de acabar, a vida de Mircea não pode ficar em suspenso. O destino cobra que avance para outros desafios, mesmo que o coração suplique para ele continuar naquela luta.

Veja o Trailer:

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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