Perseguição na Neve

Perseguição na Neve Filme Crítica Pôster

Sinopse: Em “Perseguição na Neve”, Jim (Berenger) tem como costume caçar no norte de Maine, nos EUA. Em uma de suas caçadas, ele encontra uma grande quantia de dinheiro pelo parque. O veterano, então, se vê envolvido com um grupo de criminosos que fará de tudo para recuperar o valor encontrado por ele, e sua única arma para sobreviver é o treinamento militar que recebeu no passado.
Direção: John Barr
Título Original: Blood and Money (2020)
Gênero: Drama | Thriller
Duração: 1h 29min
País: EUA

Perseguição na Neve Filme Crítica Imagem

Caçador Decadente

Há uma quebra de expectativa em “Perseguição na Neve” mais pela maneira como as narrativas modernas se apegaram à ideia de action heroes inoxidáveis do que na própria leitura realista sobre o envelhecimento e a decadência, esta palavra pensada não como um adjetivo negativo e sim pela irremediável sensação de que ultrapassamos nosso auge, seja em qual análise se debruce. Tom Berenger, indicado ao Oscar de melhor coadjuvante em 1987 por “Platoon” (1986), possui décadas de serviços prestados em filmes de ação, de uma geração que consumia cinema, principalmente o produzido nos Estados Unidos, em larga escala – seja pelo combo de VHS alugadas para o final de semana, seja nas sessões noturnas de filmes na TV aberta.

Uma figura que se mantém entre produções independentes e maiores quando seus realizadores buscam um rosto conhecido para personagens pontuais – como fez Christopher Nolan em “A Origem” (2010). O cineasta John Barr estreia na direção em longas-metragens com uma ideia desmistificada sobre uma história clássica de um homem que atrai uma caçada contra si, por força da descoberta de um dinheiro sujo. Nos leva à inóspita cidade de Allagash, de pouco mais de duzentos habitantes, no congelado inverno do Maine, em uma obra contemplativa até que as mecânicas da narrativa pulverizem parte de uma trama habitual.

O roteiro de Barr concentra esforços em seu desenvolvimento, que ganha capilaridade apenas na segunda metade. Antes disto, “Perseguição na Neve” é a reflexão de um homem solitário. Começa à primeira vista, quando decide caçar em uma zona sem monitoramento pelas autoridades locais. Porém, o protagonista Jim Reed tem outras formas de decadência. Se sentindo culpado pela morte da filha, exprimindo uma doença grave, ele parece viver uma mistura de sensações. Se por um lado tem lampejos do homem capaz de suportar a neve densa, manejar uma arma e possuir boa mira; admite as consequências da idade e de um tipo introspectivo de aceitação.

As participações de Debbie (Kristen Hager), garçonete da parte habitável da cidade, não possui o outro conceito criado pelo cinema dos Estados Unidos, a de mudança através dos sentimentos. Nada da romantização da mulher que penetra o coração do personagem, como a Carol (Helen Hunt) em relação a Melvin (Jack Nicholson) em “Melhor é Impossível” (1997) para citar um, agora, clássico neste tipo de abordagem. Jim parece consciente de sua decadência e dos planos organizados para vivenciá-la. Com isso, ao matar acidentalmente uma pessoa e se ver diante de uma bolsa de dinheiro, talvez seja surpresa até para ele encontrar aquilo que dificilmente perdemos: o instinto de sobrevivência.

Berenger está bem na imagem de veterano de ação perdidos em seus dramas pessoais. O filme prioriza a solidão, a melancolia, potencializada pelas imagens carregadas de neve em um frio acachapante. Um gênero dramático que lembra “Rio Congelado” (2008), “Nebraska” (2013) e que evita ser apenas mais um thriller genérico, um esforço válido. As opiniões sobre falta de dinâmica ou “de história” gritam durante a sessão – já sabemos as motivações por trás de quem não gostar da obra. Barr leva um caminho também contemplativo no desenvolvimento espinhal da narrativa, colocando o alcoolismo e um rápido intercâmbio social com um homem mais jovem para mostrar certa tendência de repetição de arquétipo de quem vai se fragilizando com a idade.

Assistido em uma das madrugadas mais fria em décadas, o Rio de Janeiro não é páreo para Maine, mas criou um clima ainda melhor para que “Perseguição da Neve” nos encontrasse em suas intenções. A estreia de um cineasta disposto a sair do arco tradicional, com a contribuição de um veterano que precisa reinventar a ideia de decadência, sem ignorar que certos formas de expressão ficaram no passado.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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