Tenet

Tenet Crítica do Filme Christopher Nolan Pôster

Sinopse: Armado com apenas uma palavra – Tenet – e lutando pela sobrevivência do mundo inteiro, o Protagonista viaja através de um mundo crepuscular de espionagem internacional em uma missão que irá desenrolar em algo para além do tempo real.
Direção: Christopher Nolan
Título Original: Tenet (2020)
Gênero: Ação | Thriller | Ficção Científica
Duração: 2h 32min
País: Reino Unido | EUA

Tenet Crítica do Filme Christopher Nolan Imagem

O Cinema DesFeito

Tenet” é um vespeiro, que sabemos que seremos picados por boa parte dos incomodados que sairão lá de dentro. Qualquer exercício de análise, mesmo na sucinta abordagem que a limitação de nossos textos na Apostila de Cinema faz, cai na ideia pré-concebida de genialidade ou egocentrismo que muitos têm sobre Christopher Nolan. Opiniões ampliadas pelo cineasta ter feito com uma produção de alto orçamento um all-in em uma indústria perdida (e só menos desesperada pelas possibilidades que o streaming abriu). Ele acreditou que salvaria o cinema, enquanto espaço público de entretenimento. Sem vacina, sem sinal de diminuição de casos, ele não aceitou mais os adiamentos da Warner e nem a ideia de lançar a obra na HBO Max. Quis colocar o time em campo debaixo de chuva de granizo, achando que seu nome faria muitos encararem a arquibancada de seu espetáculo. 

O resultado final já sabemos. “Tenet” não salvou da morte o Cinema – e também ficou longe de matá-lo um pouco mais. Porém, o que seria uma jogada de mestre, o único espetáculo visual de grande apelo popular, representante do entretenimento hollywoodiano, não teve a chancela do estúdio e acabou recebendo apenas duas indicações ao Oscar de 2021, somente em categorias técnicas (efeitos visuais e design de produção). A Warner pinçou o drama “Judas e o Messias Negro” (2021) para a temporada de prêmios e foi bem sucedida. Pois aqui vai, de plano, uma opinião: o filme de Shaka King parece se levar bem mais a sério e obter menos resultado do que o longa-metragem de Nolan. Em nossa crítica falamos do problema dos Estados Unidos em retratar líderes revolucionários – ainda mais quando eles habitam o próprio território da América. Só que, a fama por traz do diretor que, há vinte anos, brinca de nos confundir como em “Amnésia” (2000) e “A Origem” (2010) levou a essa punição velada. 

Confesso que a intransigência de Nolan não merecia ser premiada. Aceitando que a Academia é uma associação que carrega consigo julgamentos políticos sobre a indústria, faz todo sentido ele ser preterido. Porém, “Tenet” não merecia. É mais um labirinto do diretor inglês (pelo qual não nutro nem paixões nem ódios exagerados). Só que, desta vez, parece que ele aceita a ideia de que veio para confundir e não para explicar, faz uma parte final carregada de uma alegoria sobre a necessidade de entendimento. O grande erro de Christopher talvez seja evitar assumir uma posição mais debochada sobre si, uma ideia de que faz algo menos relevante para a Humanidade do que acredita. Poderia aprender com seu conterrâneo Hitchcock, virar um bufão no salão a filmar. Transformar seus filmes em evento da mais pura diversão, aceitar que acharão tudo aquilo uma imensa bobagem. Ainda há tempo para ele se tornar um senhor bem menos pilhado com as obras-primas que vivem dentro de sua mente. 

Mas, não adianta. Nolan, Paul W.S. Anderson, Shyamalan. Seguiremos entre adoradores e detratores, a disputa de narrativa na historiografia do audiovisual permanecerá por um bom tempo. É possível que nem estejamos vivos para ver qual a ideia que se consolidará sobre tais filmografias, algo entre o esquecimento total e a relevância histórica. Então, para que perder tempo? Não fui ao cinema, obviamente, mas me envolvi com “Tenet” do sofá de casa. Um prólogo com uma gigantesca e explosiva cena de ação nos mostra a invasão a um teatro, onde um homem precisa ser resgatado. Mais adiante, o mundo pensado pelo roteiro do próprio diretor nos apresenta uma sociedade de forte avanço tecnológico, principalmente de energia renovável. Um homem (creditado como Protagonista e vivido por John David Washington) recebe uma importante missão para evitar o que seria pior do que um holocausto nuclear. 

A ideia por trás do filme é de que podemos dominar a técnica do desfazimento, o que soa como uma viagem no tempo um pouco diferente. É o básico do surrealismo, o tal “cair pra cima” o “subir para baixo”. A forma como essa provocação inicial se transforma em explicação é até menos confusa do que “A Origem”. Surge em uma cena em que o protagonista assiste a uma arma que “atira para dentro” uma bala. Na sequência, a narrativa ganha capilaridade ao trazer o mercado das artes e suas possibilidades, uma lógica reversa que não deixa de fazer sentido em uma campo econômico que se baseia, muitas vezes, em antiguidades (e outras em produtos que parecem ter como característica a força de se tornar uma no futuro). Por m, o elemento final dessa receita é colocar o plutônio 241 (elemento fundamental para armamentos nucleares) como alvo da missão. 

Enquanto maestro de uma produção de ficção científica, com foco na ação, Nolan se mostra em boa forma. Um dos grandes elementos do filme é a trilha sonora de Ludwig Göransson, provável grande injustiçado da campanha morna por trás da produção. O sueco, vencedor do Oscar por seu trabalho em “Pantera Negra” (2018), usa algo como uma música eletrônica industrial de forma brilhante. As notas ganham um sentido mais inteligível apenas quando estamos assistindo ao mundo “invertido” ou “reverso”. Em quase todas as cenas de perseguição ou de adrenalina alta, ela possuem forma que também parece reversa, um contraponto que chama muito a atenção. Quem se prender aos diálogos, terá três experiências. A primeira, a da curiosidade. A segunda, na parte central da trama, é uma transição entre o que já foi mostrado e o cumprimento do objetivo do protagonista. Quase um formulação ética, até um pouco ultrapassada, sobre a possibilidade de mudar o passado e como isso torna o seu atual presente um futuro – que, se você admitir que será mudado, se torna um presente incerto. 

No que podemos chamar o terceiro ato de “Tenet” enquanto texto, Nolan parece querer transformar toda essa salada em uma brincadeira com quem assiste. É quando entram as conversas alegóricas, as explicações confusas, o grande arsenal para quem deseja amá-lo ou odiá-lo com convicção. Você encontrará quem chame alguns momentos de diálogos expositivos ineficientes e quem diga que o que torna o filme formidável resida nessa ideia de perturbar ainda mais nossa mente. Aqui cabe uma leitura sobre o próprio comportamento do cineasta. Como dito antes, ele não aceitar a possibilidade de recepção que fuja das suas pretensões, é pura burrice. Se ele quer entender sua carreira desta forma, devemos, então, ignorar seu criador. O próprio antagonista Sator (Kenneth Branagh) diz ao personagem de Washington que vê nele um homem que age por fé, o define como um fanático que não entende suas próprias motivações. Até que a personagem de Clémence Poésy diz em determinado momento que não entendeu nada, mas parece tudo terrivelmente interessante. 

Nesses cacos de falas inseridas em diálogos que não explicam nada, Christopher Nolan faz do longa metragem uma possível leitura da sua forma de representar. Ele talvez compre essa ideia, acredite nesse destino de que veio para nos salvar. “Cada geração busca sua própria sobrevivência“, alguém diz no lme. É assim no Cinema e na vida. Desculpa, não fomos aos shoppings de todo o mundo, Chris. E nem todo mundo te odeia. Só que a sobrevivência da sua arte não pode se dar ao custo de nossa existência. Mas, estamos aqui para reconhecer que há motivos para você ter orgulho desse filho. Só não precisa achar que ele é o Messias – que morreu na mão do povo e ressuscitará em algum streaming (ou torrent?) para a vida eterna. Se não, é melhor ficar com o grande conselho não tão escondido nesse texto: esqueça tudo o que o Criador quer que seja, faça uma pipoca, esvazie a mente e vá ser feliz assistindo “Tenet“.

Veja o Trailer:

 

Clique aqui e leia críticas de outros indicados ao Oscar 2021.

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

1 Comment

  1. Demorei 4 tentativas para entender (sem qualquer suporte ou conversa – visto que ninguém viu até o final…)
    Mas depois que entendi, até a intenção de deixar o filme aparentemente confuso de desfaz. O filme foi o mais simples possível e o seu enredo é ainda mais simples. Mas tudo que parece complicado, foi necessário para apresentar a ideia.
    Basta entender.

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