O Pergaminho Vermelho

O Pergaminho Vermelho Filme Crítica Animação Disney+ Pôster

Sinopse: Nina é uma menina comum de 13 anos, cheia de conflitos pessoais. Certo dia, é transportada para o universo fantástico de Telurian. Neste mundo misterioso e análogo à Terra, habitado por diversas criaturas fantásticas, ela terá de superar diversos desafios em busca de um misteriosos artefato para voltar ao seu lar.
Direção: Nelson Botter Jr.
Título Original: O Pergaminho Vermelho (2020)
Gênero: Aventura | Animação | Fantasia
Duração: 1h 30min
País: Brasil

O Pergaminho Vermelho Filme Crítica Animação Disney+ Imagem

Mundos Secretos e Maravilhosos

No final de semana marcado pelo fim de um conturbado ciclo olímpico, que ficará na memória dos brasileiros por, entre outras vitórias e derrotas, o sucesso das competições de skate, chegou ao catálogo do Disney+ a primeira produção brasileira inédita – que traz certo diálogo com o momento. “O Pergaminho Vermelho” foi realizado pela paulistana Tortuga Studios e chega ao espectador brasileiro por uma aquisição de direitos de distribuição em parceria com a Vitrine Filmes  – algo que as plataformas de streaming tiveram que se adaptar para cumprir requisitos legais em outros países, mas seguem fazendo por opção mercadológica no Brasil, que vem deixando a boiada passar.

Uma animação familiar, estrelada por Nina (Marina Sirabello), uma adolescente tão apaixonada por skate quando Rayssa Leal. É curioso ver a adesão a uma atividade até bem pouco tempo marginalizada e, em alguns casos, proibida. Vinculada a uma comunidade de jovens sem perspectiva, hoje a roda girou de uma forma que se tornou uma das possibilidades de ascensão social e sucesso – além de fazer parte de uma integração forte entre seus praticantes em alto nível, como pudemos atestar nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

O roteiro do diretor Nelson Botter Jr., ao lado do produtor Fernando Alonso, demonstra conhecimento sob esta mudança de rumo. Usa o atrito geracional como parte de seu argumento. O pai da menina ainda resiste em aceitar que o skate é uma atividade carregada de bônus, não apenas para saúde e disciplina, mas também pela sociabilidade e o autoconhecimento. Já a mãe de Nina parece bem mais disposta a entender a adolescente como alguém que – dentro de suas complexidades – tem esta prática como um elemento constitutivo de sua personalidade.

O Pergaminho Vermelho” vai além no rompimento e mostra o casal, em um momento de nervosismo, discutindo a possibilidade de divórcio de forma aberta, na frente da filha. Abalada por não se sentir compreendida, ao mesmo tempo que mergulha nas incertezas de um ambiente familiar desarmônico, ela amplia seu desejo de fuga. Dali em diante o longa-metragem será uma tradicional aventura que usa o onírico e a fantasia para promover lições à sua protagonista. Nos amigos que encontra no caminho, Idril traz a voz de Any Gabrielly – que não apenas dublou a protagonista de “Moana: Um Mar de Aventuras” (2016) como é parte do grupo Now United – ostentando mais de seis milhões de potenciais espectadores do filme em seu Instagram.

Com referências a “Coraline e o Mundo Secreto” (2009) e às inúmeras adaptações de “Alice no País das Maravilhas“, a obra consegue divertir sem apelas para o excesso de referências. Uma personagem atualizada, moderna, naturalmente competitiva, o que possibilita que seus encontros na busca pelo artefato que solucionaria seus problemas – antes mesmo que ela consiga vislumbrar quais são – tenha um frescor capaz de atrair o público de uma geração mais próxima do skate do que do próprio consumo audiovisual.

Para os adultos, um filme que consegue agradar usando uma narrativa consagrada e os elementos fantásticos de forma mais tradicional e divertida do que a forma episódica e gameficiada com a qual a própria Disney tem feito em suas produções originais. Usando a ideia de um ambiente telúrico, em que aspectos similares ao do planeta pelo qual conhecemos são reproduzidos, tira dos pequenos a unidimensionalidade interpretativa de um mundo dos sonhos. Ou seja, mais Neil Gaiman e menos Lewis Carroll, mesmo que a estética da animação opte pela via clássica.

No fim, as mensagens edificantes, principalmente envolvendo a importância de se sentir parte de uma família (independente do tradicionalismo de sua constituição em específico) e, principalmente, do respeito às escolhas do outro. Tanto em relação aos mais novos, mas também entre os mais velhos, que precisam perceber as gerações que se seguem com um olhar diferente do seu, talvez até mesmo opositor.

Sabendo o ponto de partida para torná-lo atraente para os mais jovens – e conseguindo ser equilibrado ao ponto de entreter os adultos, “O Pergaminho Vermelho” é mais um trabalho digno de medalhas nesse período olímpico. Uma ótima pedido a quem já sente falta de boas histórias de nossos atletas.

Veja o Trailer:

Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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