Sinopse: Mistura ao mesmo tempo reveladora e lacônica de ficção científica e documentário, Olá, IA explora o universo eticamente complexo da inteligência artificial. Alternando entre um cientista americano solitário e uma família japonesa em busca de um companheiro para a avó, este drama futurista cheio de humor retrata pessoas em busca de uma conexão humana com os robôs que entraram em suas vidas.
Direção: Isa Willinger
Título Original: Hi, AI (2019)
Duração: 1h 28min
Gênero: Drama
País: Alemanha
Mecânicas Humanas
“Olá, IA“, da diretora alemã Isa Willinger faz – a partir de alguns recortes ficcionais – os debates éticos que já estão em curso relacionados ao desenvolvimento de inteligência artificial atrelado a humanização cada vez mais presente nos aparatos tecnológicos. Em determinado momento, ao se deparar com um robô, alguém diz que parece estar vivendo Blade Runner, em menção ao filme de Ridley Scott lançado em 1982. Inspirado nos escritos de Philip K. Dick, a proximidade do longa-metragem exibido na 9ª Mostra Ecofalante de Cinema se assemelha mais aos contos de Isaac Asimov. Sua obra de 1950, “Eu, Robô” (também adaptado para o cinema em 2004), antecipada questões relacionadas ao desenvolvimento das máquinas que estão cada vez mais próximas.
A relação da inteligência artificial andrógina já foi explorada na ficção audiovisual de maneiras muito parecidas com a qual Willinger se vale em seu filme. Homens de meia-idade solteiros querem companheiras e famílias com crianças pequenas almejam um produto que sirva como parceiro, educador e prestador de serviços na casa. Essa maneira dupla de se expressar (racional quando recebe uma ordem direta e emocional ou espirituosa quando provocada a ser mais próximo da Humanidade) vem se aprimorando cada vez mais. Entre os debates mais urgentes chama a atenção o fato de alguns pais solicitarem um aditivo no aplicativo Alexa, exigindo que os comandos obrigatoriamente fossem acompanhados de “por favor” e “obrigado”. Essa ideia de que temos o mundo nas mãos e podemos comandá-lo pela voz, traz uma carga didática negativa aos mais jovens, ainda formando suas personalidades.
Pontos assim surgem de “Olá, IA” como complementos às representações ficcionais. Em uma montagem interessante, ouve especialistas como se os personagens estivessem consumindo algum episódio de podcast ou documentários sobre as tendências tecnológicas. Uma ou duas vezes as sequências se estendem um pouco, a cineasta força um lirismo que vai contra a dinâmica objetiva do restante de seu filme. Mas essas escolhas não chegam a incomodar, até porque – para alguns – essas pausas de informações podem fazer com que se reflita sobre as provocações da obra – e são muitas, todas muito válidas.
Inserindo falas que, à luz da edição, se contrapõem de forma brilhante, os grandes questionamentos são: por que precisamos aplicar uma noção ainda maior de consciência em produtos que já cumprem tão bem suas funções? E por que essa necessidade de desenvolver uma interface humana?
Nos contrapontos, o filme nos leva em alguns locais de desenvolvimento de tecnologia e a um debate da SXSW, um tradicional simpósio sobre tecnologia que reúne filmes, apresentações musicais, debates, palestras e eventos similares – acontecendo anualmente em Austin, Estado norte-americano do Texas. Ali temos os argumentos efetivos sobre os benefícios dessas interfaces. O primeiro é o combate à depressão e às doenças cognitivas. A inteligência artificial pode ser, de fato, mais do que uma companheira – atuar, em certa escala, como substituta do cérebro. Mais do que isso, a grande provocação fica por conta de comparamos nossas atividades neurológicas com uma máquina.
Nossas sinapses cumprem seus objetivos, mas para os anseios da Humanidade parecem bem limitadas. Dito isso, muitos não veem problemas em criarmos substitutos que apenas potencializam (milhões ou bilhões de vezes) as capacidades do nosso cérebro. Só que, ao entrar nessa seara, “Olá, IA“, aflora um debate ético ainda mais profundo. Aqueles que a ficcionalidade e o Cinema sempre retomam, principalmente sobre nossos vínculos andróginos e o papel desses novos produtos na sociedade. Respostas que ainda não temos e conclusões que nunca chegaremos, porque nossa espécie é incapaz de chegar a um acordo sobre qualquer tema.
Humanizar as máquinas talvez não seja o início do problema, porque já ultrapassamos a etapa inicial: mecanizar nossas próprias interfaces enquanto humanos.
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