Sinopse: Em “Sem Filhos”, o amor da vida de Fidel tem horror a crianças. Então a filha dele sugere que eles finjam que são irmãos. O que pode dar errado?
Direção: Roberto Fiesco
Título Original: Sin Hijos (2020)
Gênero: Comédia
Duração: 1h 35min
País: México
Nem Uma, Nem Outra
A Netflix prometeu uma estreia mundial toda sexta-feira, mas, há duas semanas que as melhores adições do catálogo chegam sem esse alarde. “Sem Filhos” (2020), produção mexicana, é uma comédia menos divertida e que não se apropria tão bem dos símbolos e linguagens ao qual pretende quanto “Cabras da Peste” (2021), brasileiro que aportou ontem. O mesmo aconteceu há uma semana, quando o espanhol “Silenciadas” (2020) se mostrou bem mais envolvente do que o norte-americano “Dia do Sim” (2021) e o turco “Filhos de Istambul” (2021).
Nessa lógica sufocante, a plataforma de streaming vai mantendo boas horas de conexão nos dias de folga de seus clientes, perdidos entre bons produtos e outros de qualidade duvidosa. Aqui a tentativa de atualizar um tipo de humor subvertendo o clássico protagonista do “solteirão convicto” naufraga – e por alguns motivos. O diretor Roberto Fiesco não consegue impor um ritmo à obra no ato inaugural. Observe que estamos diante de uma premissa simples: Fidel (Alfonso Dosal), pai (com a guarda) da menina Ari (Francesca Mercadante) de nove anos, separado há quatro, conhece Marina (Regina Blandón) e decide investir no relacionamento mesmo sabendo, desde o início, que ela não gosta de crianças.
Toda a eficiência de uma construção de personagens dos primeiros minutos se perde. Fidel nos é apresentado de forma muito inteligente, em sua loja de discos. Aparenta ser um homem de meia-idade que foge das responsabilidades, tanto que está há dez anos enrolando para cumprir os créditos finais da faculdade de arquitetura. Quando ele sai daquele espaço, então, somos levados a conhecer sua filha, em uma quebra de expectativa que revela que a motivação por trás daquela rotina do protagonista é bem mais nobre do que girar a vida em volta de seu umbigo. Uma possibilidade que faz valer os intercâmbios que querem destruir os estereótipos de gênero. Ao mesmo tempo em que observamos produções que rompem com o falso ideal de masculinidade ao colocar mulheres em posições de lideranças, como heroínas de ação ou coisas do tipo, também não deixa de ser uma crítica à divisão de funções feita pela sociedade colocar um pai em uma situação como a observada aqui.
Só que apenas isso não faz de “Sem Filhos” um grande filme. Por sinal, esse fiapo de debate possível não se desenvolve, quase como se esse brilhantismo fosse por acidente. Um exemplo é que essa abordagem, tão curiosa quanto instigante, dura algo em torno de cinco minutos. A situação capaz de rompê-la surge com quase meia hora de sessão, quando Marina fala de seu desejo de permanecer longe de crianças. Algumas sequências exageram na duração, principalmente no desenrolar do encontro às escuras que unem Fidel e a nova namorada. Nos causa uma sensação sobre o quanto de equilíbrio entre drama e comédia havia no texto da versão original (uma coprodução Argentina e Espanha), escrita por Mariano Vera e adaptado pela autora mexicana de literatura jovem Anaí López, com a contribuição de outras seis (!) pessoas nos créditos de roteiro.
É possível que aqui resida a grande questão do longa-metragem. Ele não consegue transformar a chance de piada fácil, sobre a mulher que foge de filhos e da responsabilidade vinculada. Também não alavanca os desencontros causados em uma relação triangular baseada em mentiras, já que Fidel potencializa essa fuga e diz para Ari que Marina tem uma fobia e, ao mesmo tempo, aceita manter a ideia de tratar a própria filha como se fosse sua irmã. Um exemplo está na sequência que propõe usar uma câmera lenta com a personagem de Regina Balndón em uma festa de criança. Soa como uma paródia a uma cena de terror, mas que não se consuma. Com isso e por não criarmos vínculos através do riso, qualquer forma de explorar o drama soaria atravessada – e ele, de fato, não chega.
Eram muitas complicações naquelas relações familiares com potencial, com o aditivo do avô de Ari transitar em uma subtrama que está ali sem muita convicção. Ao não saber optar por gêneros nem por um ritmo que se adeque à sua linguagem, “Sem Filhos” acaba não agradando. Assim como Fidel parece desorientado em uma caminho que desaponta namorada e filha, o espectador também ficará perdido em uma obra que não faz rir e nem emocionar.
Veja o Trailer:
De início não acreditava muito no filme, pensava que seria uma comédia recheada de pornografia. Mas no final gostei muito, inclusive com boas atuações de Alfonso Dosal, Regina Blandón, Francesca Mercadante, Jorge Muniz e Miguel Jimenes. Indiquei para outros cinéfilos que nem eu, pois até na presente data (20/03/2021) já vi 4388 filmes .