Filhos de Istambul

Filhos de Istambul Crítica Filme Netflix Pôster

Sinopse: “Filhos de Istambul” se passa nas ruas da cidade turca, onde um catador de papel, decide ajudar um garoto e acaba tendo que confrontar os traumas da própria infância.
Direção: Can Ulkay
Título Original: Kagittan Hayatlar (2021)
Gênero: Drama
Duração: 1h 36min
País: Turquia

Filhos de Istambul Crítica Filme Netflix Imagem

Voltas que a Vida Dá

Chegando hoje à Netflix, a produção turca “Filhos de Istambul” usa a velha tática de manipular as emoções do espectador. Este, se de fato se envolver com a narrativa cadenciada e simplista do diretor Can Ulkay, conseguirá depositar algumas lágrimas ao final da sessão. O texto de Ercan Mehmet Erdem é uma longa preparação de terreno para uma reviravolta há muito utilizada no audiovisual mainstream. Surpreendentemente, ela ainda funciona – muito porque nos traz uma perspectiva de um agente invisibilizado de qualquer sociedade moderna.

Mehmet (Çagatay Ulusoy) é um catador de papel da cidade mais populosa da Turquia. Na verdade, ele é uma espécie de comandante de uma das cooperativas, responsável pela distribuição da renda obtida, ocupando – de certa forma – uma posição de poder. Apesar da sinopse oficial nos remeter diretamente ao encontro dele com o menino Ali (Emir Ali Dogrul), há um caminho longo, na comparação com a unidade da obra, até o momento chegar. A edição do filme precisa criar seus próprios paralelos no esforça para comover – incluindo duas montagens envolvendo a exploração da cidade, o que estende o prólogo.

Este talvez seja o ponto mais interessante de “Filhos de Istambul“. Estamos diante de um protagonista que gosta da sensação de ter a cidade nas mãos. Em outras críticas de ficções e documentários que trazem catadores como personagens relevantes, sempre mencionamos essa curiosa troca deles com o território (amplo domínio) e com outros agentes (de total invisibilidade). Uma forma diferente de interação com pessoas em situação de rua, que são conscientemente ignoradas pela população. Por sinal, há aqueles que atingiram tal nível de desumanização que são incapazes de ter diferentes visões sobre os problemas plurais dos espaços urbanos.

O jogo melodramático de Ulkay se impõe no terço final. Apesar de ser o mote desde o início, já que o filme começa com uma frase que dedica o filme às crianças e lembrando que “onde todos choram, o riso acaba sendo cruel“. Parece até um recado para o comportamento do atual Presidente da República do Brasil em tempos de pandemia. A dificuldade aqui é não cair para certo exotismo. Aos poucos vamos testemunhando uma produção feita para ser exportada, desde a estilização da pobreza, até o uso de danças e músicas locais sempre que a história permite encaixar. Uma exploração audiovisual que causa estranhamento para as formas de representações modernas que estamos acostumados por aqui, mas totalmente coerente de um longa-metragem entregue à Netflix enquanto produto.

Não há uma troca de perspectiva, o olhar de Mehmet comanda todas as ações. Projetar essa invisibilidade mencionada para a realidade de uma criança é um exercício difícil para o público, que entende Ali quase com a mesma inocência da forma como abordamos em nossa crítica de “Dia do Sim“, comédia estadunidense lançada pela plataforma no mesmo dia. Obras totalmente antagônicas, sob todos os aspectos, mas que se unem no universalismo e no toque de “aventura” como mola propulsora da narrativa. Aquela montagem que mostrava o homem exercendo seu trabalho por Istambul se repete, agora na companhia do menino. Até mesmo a figura de Gonzi (papel de Ersin Arici) como potencial alívio cômico não tem peso, porque não há o que ser aliviado.

Como era de se imaginar, quando precisa mergulhar no drama no ato final, o cineasta o faz como um tiro seco. Exagera tanto na ingenuidade, que parece querer tirar nossas lágrimas quase de forma apelativa. Apesar da grande virada dos minutos finais funcionar (impossível de mencionar sob o risco de estragar totalmente a experiência do filme), o que poderia gerar uma vontade de revisitar o longa-metragem se esvai porque a montagem desenha a explicação, resgata as sequências-chaves para o entendimento.

Quando fica sombrio em um rompante, “Filhos de Istambul” exige um desempenho dramático imediato do menino Emir Ali Dogrul – e ele vai muito bem aqui. Indicado para quem gosta de se emocionar a partir da mais rasteira manipulação de suas emoções – e também para quem gosta de ver como uma montagem conservadora resolve suas propostas mastigando para o público o que ele acabou de servir.

Veja o Trailer:

 

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

4 Comments

  1. filmeeeee muittooo bommmmmm……………..perfeitoo…no final até me emocionei, PODE CONTER SPOILERS RSRSRS !!!! muito lindo o filme ..recomendo, recomendo e recomendo…adorei !!!

  2. vc faz altas criticas até sobre o presidente do brasil total sem cogitação e vc fala de forma sem analisar a realidade. o ator foi ótimo principalmente no olhar fixo não é forçado ele deve ter estudado muuuuito bem um esquizofrênico paranoide para poder fazer este papel.
    Um esquizofrênico ele imagina e vê tudo como se fosse a mais pura realidade. e foi perfeito na compra do bolo ja deu para perceber a esquizofrenia o olhar assustado, a parte que ele encontra Ali drogado tudo se retratando do seu próprio eu Mahmet Ali. bag pesquise sobre o papel do ator e como seria uma pessoa na vida real. para depois criticar o q não entende.
    valeu aí bj no coração

    1. Obrigado pelo comentário! Minha crítica não diz respeito à caracterização do ator. Por sinal, eu não achei ruim o filme, minhas únicas ressalvas são sobre a abordagem exótica sobre as classes populares em Istambul e a forma como a história quer “explicar” – já que você abriu a questão sobre o final. A montagem confirmando a esquizofrenia do protagonista, voltando às cenas sem o garoto é um artifício que parte do princípio de que alguns espectadores não entenderão. Além de contar contra a narrativa, retoma uma forma de representação que ficou lá atrás, em produções como O Sexto Sentido e Uma Mente Brilhante – uma forma de leitura de vinte anos. Uma montagem que vai contra toda a narrativa, que fica exclusivamente no olhar do protagonista. A história sai dessa abordagem por alguns minutos para “esclarecer” o que houve antes da morte. Ou seja, tirou força da própria trama que construiu para se fazer entender – quando, como você mesmo admitiu pela qualidade da interpretação do autor – sua condição de saúde era perceptível para quem estivesse envolvido com a narrativa.

  3. A única coisa que não gostei foi das críticas que vc fez ao filme. Como hoje, qualquer estagiário se acha doutor do saber, prefiro só dizer que tem muito filho de papai que nunca lavou um banheiro ou catou NADA na vida e fica falando o que quer. Com relação ao filme, um banho de água fria em muita gente. Vale a pena assistir. Excelente!

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