Skull: A Máscara de Anhangá

Skull: A Máscara de Anhangá Filme Crítica Pôster

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Sinopse: Após décadas desaparecido, um artefato místico chamado “A Máscara de Anhangá” ressurge na metrópole de São Paulo, encarnando uma entidade milenar e iniciando uma série de crimes sangrentos.
Direção: Armando Fonseca e Kapel Furman
Título Original: Skull: A Máscara de Anhangá (2020)
Gênero: Horror
Duração: 1h 32min
País: Brasil

Skull: A Máscara de Anhangá Filme Crítica Imagem

Vísceras da Resistência

Fazendo dobradinha com “O Cemitério das Almas Perdidas” na Sessão da Meia-Noite da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o longa-metragem de terror “Skull: A Máscara de Anhangá” une uma trama universalista, que segura a tensão e o mistério envolvendo as origens de um artefato, com a violência e o gore estilizado, de vistosa qualidade técnica. Interessante que, se compararmos com o outro filme deste recorte, ele se parece mais com o modus operandi clássico de Rodrigo Aragão do que a mais recente investida do capixaba.

A direção é de Armando Fonseca e Kapel Furman, sendo o segundo responsável por trazer algumas simbologias para compor a narrativa. Há quem vire a cara para obras como essa, reduzindo a mesma a uma tentativa de se curvar a um método de produção que visa o mercado internacional, em oposição a uma suposta aura de Cinema Brasileiro – que o próprio festival nos faz concluir que, de tão plural, não existe enquanto forma. Nós, por outro lado, somos adeptos da bem-vinda potência de identificação para além das fronteiras, uma qualidade que há aqui e que apontamos também em nossa crítica de “Contos do Amanhã” (2020), filme independente do Rio Grande do Sul – que agora circula por festivais internacionais vinculados ao gênero fantástico.

Os cineastas usam a criatividade comum de nossas narrativas e as referências de ancestralidades do território para fazer aqui um terror histórico na origem e contemporâneo nas representações. Diferente do filme já mencionado de Aragão, que insere zumbis em outras unidades de espaço-tempo, Armando e Kapel apresentam a máscara, artefato do título, enquanto criação dos povos originários para afastar os jesuítas que queriam evangelizá-los à força. Sumidos desde a década de 1940, a trama propõe que cada novo levante extremista e fascista tentará se apropriar de símbolos históricos de resistência para os destruí-los.

Ao passo em que, para aqueles que buscam diversão, muito sangue e grandes cenas de terror, “Skull: A Máscara de Anhangá” também os entrega sem exigir reverência a esse discurso. O equilíbrio entre o universalismo e a crítica é eficiente – a não ser que você queira construções edificantes dentro de uma linguagem clássica ou desapego pelo entretenimento em um discurso minimamente político. É um filme que não faz essa escolha porque acha uma brecha que a torna desnecessária. Fique você com a história de uma investigadora (Natália Rodrigues, que deveria apostar mais e receber mais convite, em sua carreira no Cinema) que, partindo do sumiço de três crianças bolivianas no Centro de São Paulo, embarcará em uma missão muito mais perigosa e violenta do que de costume.

O ritmo do terço inicial traz um pouco do saudosismo de alguns thrillers oitentistas, que por sua vez replicavam um pouco da linguagem noir, principalmente na trilha sonora e no uso dos espaços urbanos degradados ou marginalizados enquanto cenário. Esse trecho é bem mais lento do que o padrão para obras do gênero, mas nada que comprometa o andamento. Nessa busca pelo palatável, toda a construção de pensamento que faz do Cristianismo enquanto discurso ainda dominante e opressor é jogado para a abertura do terço final, uma decisão que parece movida pelo filme enquanto produto, azeitando suas intenções.

Muita coisa na simbologia de “Skull: A Máscara de Anhangá” nos agrada: principalmente a quebra nessa abertura do ato final, que faz com o padre um grande ritual de morte do Catolicismo enquanto vertente religiosa. Podemos citar o empresário antagonista que vende a sociedade ideal em um flagrante rompante etnocêntrico, sem contar essa reapropriação de território e objetos faz a gente não odiar Skull enquanto personagem. Aliás, o medo de quem lhe quer enquanto propriedade é maior do que a morte violenta que a visão da entidade antecipa.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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