Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Santa Catarina

Festival Taguatinga 2020 - Mostra Seleção Popular

Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Santa Catarina

Como dito na Apostila 15º Festival Taguatinga de Cinema, a Mostra Seleção Popular trouxe a oportunidade de assistirmos a 445 curtas-metragens, de todos os Estados do Brasil, exceto o Acre. A ideia da Apostila de Cinema é prestigiar todos e trazer algumas palavras de cada um deles, entendendo que talvez não seja possível. Seguimos com a Mostra Seleção Popular | Santa Catarina. Optamos por realizar o recorte territorial, com textos que contemplem entre quinze e quarenta obras, fazendo remissão a todos em nosso Índice Geral de Filmes (onde vocês podem encontrar todas as produções com textos em nossa página de A a Z).

Apresentamos aqui os dezessete curtas-metragens do Estado de Santa Catarina, que não teve filmes selecionados para as mostra Competitiva e Paralela. Segue um índice por ordem alfabética das obras e acesso aos nossos textos. A votação para o melhor curta fica aberta na página oficial do Festival Taguatinga até o final do mês de agosto.


Índice de Filmes
(clique nos nomes para ser direcionado à sua parte do texto)

Atracados
Baile
Chapa
Coroa, A
De Onde Vim
Faccia
Mud
Perda
Poeta de Cordel, O
Por Elas: Crime de Terrorismo
Que Aconteceu com o Brasil, O
Quiméria
Retratos, Os
Rubro
Salame Vai à Feira, O
Silêncio Lá de Baixo, O
Sonhos de Isah: O Baú do Papai

Ficha Técnica dos Filmes da Mostra Seleção Popular – Santa Catarina


Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Santa Catarina

Atracados
(Tayvon Bet, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina Atracados

Um recorte para iniciar a trajetória de obras selecionadas do Estado de Santa Catarina era preciso. Optamos, assim como distribuído em nosso índice, pela ordem alfabética (mesmo que não seja assistida em sequência os filmes de um mesmo realizador, por exemplo). Com isso, abrimos com “Atracados“, de Tayvon Bet. O curta-metragem foi selecionado para a Mostra CineOeste, organizado pelo Sesc de Chapecó e nos traz um depoimento muito tocante de Hugo. Em preto e branco, traçando um paralelo com as estações do ano, o filme-entrevista é uma história de amor interrompida pela morte. O senhor, que ficou viúvo em 2012, relembra como conheceu, se apaixonou e viveu com Mariângela, sua esposa por mais de 25 anos.

Sensível, a obra é composta por lembranças doloridas, sendo nítido o sofrimento do documentado. A missão de se descolar fisicamente e espacialmente de uma pessoa que é metade da sua vida nos provoca um exercício de projeção da perda. Há momentos em que a convivência com pequenas divergências ideológicas e algumas histórias mais concretas aparecem. Mérito do cineasta, que notadamente conseguiu encontrar caminhos para uma produção difícil, que lida com fortes sentimentos por parte do protagonista.

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Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Santa Catarina

Baile
(Cíntia Domit Bittar, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina Baile

Baile“, de Cíntia Domit Bittar, é outro curta-metragem de foco direto em uma personagem central. Desta vez somos apresentados a Andréa, uma menina de dez anos que já possui algumas responsabilidades mais próximas da vida adulta. Ela ajuda no trabalho doméstico e nos negócios da família e costuma ir à farmácia buscar o remédio prescrito à sua bisavó. Por mudanças na política de saúde, ele não será mais gratuito. O amadurecimento que a cineasta evoca na sinopse da obra passa por esse entendimento acerca da injustiça flagrante da negação de auxílio a um parente. Andréa irá a uma visita guiada à Assembléia Legislativa de Santa Catarina para um passeio que, devido à inteligência e capacidade de absorção da menina, terá reflexos no futuro, sem dúvida. Um pequena construção de consciência política e de questionamentos sobre a condição de mulher de uma criança, apresentada de forma doce por Cíntia Domit Bittar.

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Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Santa Catarina

Chapa
(Thiago Dias, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina Chapa

Chapa“, de Thiago Dias é outro filme-entrevista. Desta vez não há a calmaria de uma cadeira confortável e uma bela cuia de chimarrão. Nem a fotografia em preto e branco estilizante e romantizada de “Atracados”. Aqui o cineasta compõe sua obra de forma muito mais dura, tal qual a rotina de Moacir. Sem emprego, ele vai para a beirada da estrada BR101 na tentativa de obter alguns bicos de descarregamento de alimentos nos centros de distribuição junto a caminhoneiros. Dias alinha as falas do protagonista com a captação de imagens dos trabalhadores e dos produtos, um olhar inquieto de câmera que se sobrepõe a uma manifestação ao mesmo tempo crítica e conformada de Moacir.

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A Coroa
(Gringo Starr, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina A Coroa

A Coroa” é o primeiro dos quatro curtas-metragens que Gringo Starr apresenta na Mostra Seleção Popular. Conta a história de um militar que, no auge da Ditadura Militar, mantém um jornalista sob tortura em um dos porões do DOPS. Usando praticamente esse cenário em todo o tempo da obra, insere pequenas falas contextualizantes de uma época em que boa parte da população sabia ou fingia não saber o que acontecia nas noites em que toda a gente se distraía com a sua novela. Um militar convicto de seus idéias autoritárias e destruidores da nação, que, tal como um Jack Bauer, demonstra até certo prazer na tortura. O cineasta, entretanto, usará esse mesmo ideal de prazer, libertador, para criar uma disrupção que, em um primeiro momento parece uma espécie de justiçamento desmoralizante para o vilão, mas que se revela uma tragédia. Ao final, abre espaço para o antigo e ainda importante questionamento sobre a ausência de cura das feriadas de um período sombrio da nossa História.

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De Onde Vim
(Sérgio Azevedo, 2019)

Curta De Onde Vim

De Onde Vim“, de Sérgio Azevedo, conta a história de Hendy, imigrante haitiano residente no município de Brusque. O curta-metragem acompanha a rotina do rapaz, seu contato à distância com a família, seu esforço para aprender a língua portuguesa e a legislação brasileira, bem como o exercício de sua fé. Na sala de aula, o verbo que ele aprende a conjugar é trabalhar. Na crítica de “Por Trás da Pele“, que conta a história de um haitiano que vai a São Paulo em busca do irmão (de forma mais ficcional) falamos o quanto os corpos dos novos imigrantes negros são vistos como potenciais trabalhadores de baixo custo – sem qualquer distribuição de empatia pela sociedade civil, reflexo de uma política pública inexistente que não facilita em nada a adaptação dos imigrantes e sua inserção nas comunidades espalhadas pelo Brasil. Se “Por Trás da Pele” consegue um alcance maior por fazer parte da seleção para a Mostra Paralela, “De Onde Vim” tem o peso de um depoimento em primeira pessoa com a adição da apresentação de alternativas paliativas de auxílio via assistência social – com os verdadeiros heróis nacionais, sempre na linha de frente das batalhas que realmente importam no Brasil.

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Faccia
(Gringo Starr, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina Faccia

O segundo curta-metragem de Gringo Starr selecionado é “Faccia“. Um pintor com bloqueio criativo recebe um aprendiz, transformando seu interesse pelo jovem em um estímulo para a produção. Se em “A Coroa” a irregularidade da captação do som não chega a prejudicar tanto o consumo da obra, aqui o cineasta opta pela antinaturalismo na direção dos atores, o que causa um estranhamento. Suas construções de imagens, com um terço final de perturbações através de sonhos delirantes, chamam a atenção. O figurino e o uso da luz também aproximam o que parece ser a concepção do curta-metragem por Starr em uma realidade que tem qualidade estética e narrativa.

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Mud
(Gabriel Guaraciaba, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina Mud

Mud“, de Gabriel Guaraciaba, é um exercício experimentalista a partir de uma contextualização do realizador. Pelas informações que o cineasta quer nos passar, a obra simboliza o mar de lama com a qual a sociedade brasileira está atolado – entendo ser ali um reflexo do ano de 2019. Talvez Gabriel não imaginasse os caminhos que seríamos levados por 2020. Questões que vão desde a política até o que chega aos nossos pratos são passíveis de serem trabalhadas.

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Perda
(Laís Teixeira, 2019)

Curta Perda

Perda“, de Laís Teixeira, é instigante por si só e pessoalmente chamou minha atenção pela escolha que tive quando criança de não velar minha mãe – algo que gerou grande dificuldade de entendimento acerca da partida. O curta-metragem conta a história de Luísa, uma mulher de meia-idade que acaba de perder a sua e, no dia seguinte ao enterro, recebe um telefonema de uma mulher que diz ser sua mãe. Exatamente na metade da obra a narrativa segue um caminho bem ilógico, uma inverossimilhança que não casa bem nem mesmo com todas as concessões que devemos fazer na fruição da arte. Sua segunda parte, porém, nos leva por um caminho mais mundano, de refletir sobre a passagem do tempo e como o luto é um processo que em alguns casos nunca chega ao fim. Além da importância da constante criação e reforço de laços.

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O Poeta de Cordel
(Ilka Goldschmidt, 2019)

O Poeta de Cordel

O Poeta de Cordel“, de Ilka Goldschmidt, vem angariando uma boa quantidade de votos da Mostra Seleção Popular. Trata-se de uma obra de registro, de resgate. Ao cumprir sua função, com muita delicadeza, riqueza e eficiência, conta uma história importante para o município de Chapecó. Nos mostra os meandros dos arquivos da cidade, a busca por depoimentos de quem tem informações sobre o incêndio da igreja da cidade na década de 1950 e trata da importância do cordel. Não apenas como manifestação cultural, mas como ferramenta de democratização da informação. E de denúncia, no caso do protagonista Vicente Morelatto. Sua duração mais longa do que a habitual (meia-hora, acima da média dos curtas-metragens do Festival Taguatinga) não diz muito. A forma como a história é montada, com a apresentação da questão, as motivações, a cronologia dos eventos – até a leitura dramatizada; tudo contribui para que – mesmo em uma sessão de quase vinte obras – sua metragem não seja sentida com o peso que pode fazer parecer.

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Por Elas: Crime de Terrorismo
(Gringo starr, 2019)

Por Elas: Crime de Terrorismo

Por Elas: Crime de Terrorismo” é outra obra de de Gringo Starr selecionada. Ambientado em uma distopia mais de cinquenta anos a frente do nosso tempo, um colegiado de mulheres avalia um caso de relação homo afetiva entre dois homens, comportamento criminalizado em virtude de uma sociedade que vê a desproporção do nascimento de uma pessoa do sexo masculino para cada mil do feminino. Uma composição que une uma espécie de feminismo com cristianismo, tem o poder de suscitar exercícios de caminhos extremos na sociedade. Composto muito próximo de um ato de abertura de uma peça teatral, se vale do texto para criar um futuro com poucos elementos cênicos. Seu desenvolvimento se assemelha a um filme de tribunal, criando um arco completo, mais parecido com um conto. O cineasta aposta novamente na construção antinaturalista, desta vez menos exagerada.

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O que Aconteceu com o Brasil
(Carlos Eduardo Pereira Carvalho, 2019)

Curta O Que Aconteceu com o Brasil

O que Aconteceu com o Brasil“, de Carlos Eduardo Pereira Carvalho traz uma perspectiva interessante, daquela que talvez melhor conheça a sociedade brasileira: a mesa de bar. Mais do que a polarização, o cineasta se preocupa em resgatar aqueles velhos dogmas preconceituosos, que reputam à colonização portuguesa e à mistura de raça nossos males. É triste ver que essas frases feitas, conceitos mal engendrados e premissas falsas, seguiram se perpetuando ao longo das décadas e reencontrou representantes políticos que os fizessem voltar ao centro do poder. No meio da projeção, Carlos Eduardo nos presenteia com alguns segundos de diálogo mutado. O nosso alívio se transforma em desespero quando a defesa da família tradicional e os valores cristãos ganham espaço. É a materialização de nossos pesadelos, é quase como se arrepender de tanta saudade que estamos daquela cervejinha sem pretensão. Só resta lamentar quem ainda corre riscos de encontrar nas futuras mesas de bar essas papos atravessados.

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Quiméria
(Violeta Sutili e Livia Aprá, 2019)

Curta Quiméria

Quiméria” é uma construção das cineastas Lívia Aprá e Violeta Adelita, estrelada por Maria Eduarda Assis. O curta-metragem experimental, de menos de dois minutos, nos apresenta o descarrego de um corpo pulsante na praia de Florianópolis, habitat de bruxas através dos tempos. O corpo flana, se reencontra fora da praia e o conceito de de quimera, como figura monstruosa, é ressignificado.

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Os Retratos
(Amanda J. Campos, Juliana Naomi Eda e Vitor Duarte, 2020)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina Os Retratos

Os Retratos” surge como um exercício, entregue como trabalho de um projeto dos jovens Amanda J. Campos, Juliana Naomi Eda e Vitor Duarte. Usa um dos pequenos contos do portal Creepy Pasta – onde você tem uma grande quantidade de mini-histórias de terror, dessas que contamos em volta da fogueira em acampamentos na pré-adolescência. A execução é realmente impecável, não só pela qualidade da animação, pela ambientação e pelo uso da trilha. Muito positiva a inscrição feita no Festival Taguatinga. É provável que sua curta duração e o fato de serem pouco mais de vinte animações na lista de obras da mostra popular se reverta em um bom (e merecido) alcance de público para esse filme feito a partir de um experimento.

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Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Santa Catarina

Rubro
(Gringo Starr, 2019)

Mostra Seleção Popular Região Norte Santa Catarina Rubro

O quarto e último curta-metragem de Gringo Starr selecionada, “Rubro“, tem até uma premissa parecida com a animação “Os Retratos”. A produção mais complexa dentre as produções, usa os clássicos nomes de Greta e Hans (por muito tempo apenas João e Maria) para nos trazer a história de dois irmãos que encontram uma casa misteriosa e cheia de perigos no meio da floresta. Guarda uma relação com “Por Elas: Crime de Terrorismo” ao revezar sequências em locações externas com uma montagem teatral, que usa luz e sombra e poucos elementos cênicos para transparecer suas intenções. É a única obra de Starr que não se vale do antinaturalismo, mostrando um elenco mais preparado, além de montagem e maquiagens mais complexas.

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O Salame Vai à Feira
(Cassemiro Vitorino, 2019)

Curta O Salame vai à feira

Cassemiro Vitorino nos traz “O Salame Vai à Feira“, outro documentário tradicional, que registra a produção desse alimento nos arredores de Chapecó. A complexidade do processo, as mudanças causadas por uma necessidade de se adaptar à industrialização – comprometendo a maneira artesanal, porém ainda natural de se chegar à excelência do produto. As dificuldades de venda por conta da burocracia imposta pelo aumento não só da demanda, mas também da oferta. Um pouca do negócio familiar em face das complexidades da sociedade. Não consumo esse tipo de produto, mas já participei de visitas guiadas em propriedades de descendentes de imigrantes italianos na região metropolitana do Paraná – onde o foco é a produção de vinho, mas os salames eram comercializados com muito sucesso. Um acesso à cultura local sempre interessante, independente dos hábitos do estrangeiro que ali participa dessa interação.

A viagem pelos curtas-metragens de Santa Catarina termina aqui, já que as duas últimas obras selecionadas fizeram parte de outras coberturas. Por questões do destino alfabético, fomos, nas duas pontas, guiados por duas bonitas histórias de Chapecó. Uma baseada na solidão, no amor da alma gêmea que se foi. Laços que nunca se romperam e aparentemente jamais serão esquecidos. A outra é uma história da tradição da família, que mesmo agindo por motivações econômicas, reforçam diariamente seus laços.

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Taguatinga 2020 | Mostra Seleção Popular | Santa Catarina

O Silêncio Lá de Baixo
(Pamella Araújo, 2019)

O Silencio la embaixo

Em pinturas de nanquim, Pamella Araújo parece trazer os medos que nos assolam ao mesmo tempo em que podem nos conduzir a descobertas. Caminhando ao fundo, ao mais remoto de nós mesmos talvez encontremos sonhos e pesadelos que nos façam seguir adiante. (Texto originalmente escrito por Roberta Mathias na cobertura do FestCurtas Fundaj 2020)

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Sonhos da Isah: O Baú do Papai
(João Ricardo Costa, 2019)

Curta Sonhos da Isah

A ficha técnica de do 2º FESTCiMM | Mostra Animação categoriza “Sonhos da Isah: O Baú do Papai” como um filme do gênero educativo. Fica claro o objetivo do cineasta João Ricardo Costa de usar a relação dos brinquedos antigos do pai da protagonista para trazer esse vínculo afetivo tanto com o passado quanto com a relação familiar. Não é de propósito mencionar a Pixar de novo, mas a premissa da obra se vale, de certo modo, do universo criado por “Toy Story” (1995) e suas três sequências. Uma saga bem longa e que mesmo assim se mantém com qualidade justamente porque os caminhos que podemos seguir nessa abordagem são múltiplos e cada troca geracional traz consigo novas demandas

João Ricardo escolhe um caminho, de fato, educativo. Parte de objetos comuns dos anos 1940, como o peão e o rádio para, sutilmente, trazer informações sobre o Estatuto da Mulher Casada (como foi conhecida a Lei 4.121/62). Uma norma que sempre merece ser rediscutida pelos avanços e manutenções opressoras alcançadas. Ao mesmo tempo em que a mulher passou a ter mais liberdade (antes disso ela era legalmente quase incapaz para fazer coisas das mais comuns sem a autorização do marido), consolidou o entendimento de que a dupla jornada – acumulando a vida pública com o trabalho doméstico – é direcionado às mulheres.

“Sonhos da Isah: O Baú do Papai” é protagonizado por um pai porque sua força educativa se potencializa quando parte dele observações da sociedade machista que bem lhe cabem. O curta-metragem surpreende quando foca no vocábulo alienação (e por um momento achei que um senhor bem barbudo apareceria no ecrã). Só que a alienação aqui é a parental, aquela que muitos homens se fizeram valer para não cumprir sua missão como progenitores. Ao deixar aos poucos de lado a narrativa, João Ricardo se afasta um pouco de Isabelle Santos que vai para um caminho totalmente lúdico em sua obra multiplataforma “Vivi Lobo e o Quadro Mágico“. Trata-se de mais um curta-metragem que traz a opressão machista como mote para cuidar dos pequenos, que encontram uma filme educativo de muita qualidade. (Texto originalmente escrito na cobertura do 2º FestCiMM | Mostra Nacional).

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Ficha Técnica dos Filmes da Mostra Seleção Popular – Santa Catarina

Atracados (Tayvon Bet, 23′ – 2019)
Sinopse: Afetividade, amor e solidão. A produção relata os meandros que o amor curva após a perda de quem se ama. a reconstrução da vida, as reflexões do agora e a continuidade do amor. Quanto tempo leva para um barco se afastar do porto? O mar emocional é tempestuoso quando alguém é levado, quem fica, observa o barco de longe se indo e começa a despir-se da dor.
Baile (Cíntia Domit Bittar, 30′ – 2019)
Sinopse: Há dias que nos amadurecem mais. Andréa tem só dez anos e talvez ainda não perceba que seu dia foi assim.
Chapa (Thiago Dias, 9′ – 2019)
Sinopse: Moacir está desempregado e precisa enfrentar diariamente a incerteza para sobreviver na Grande Florianópolis. Quando o dia amanhece ele já está no ponto de chapa as margens da Rodovia BR101. O constante e barulhento movimento da rodovia torna tudo ainda mais confuso.
A Coroa (Gringo Starr, 19′ – 2019)
Sinopse: Um jornalista e um militar criam intimidade nos porões da ditadura.
De Onde Vim (Sérgio Azevedo, 21′ – 2019)
Sinopse: O documentário “De Onde Vim” acompanha o cotidiano de Hendy, um imigrante haitiano que vive em Brusque, trabalha, estuda e frequenta a igreja. Hendy aprendeu português nas aulas de Anelede, uma professora aposentada que se dedica a ensinar imigrantes. Hendy já está integrado à sociedade, diferentemente de imigrantes venezuelanos e cubanos que moram na cidade.
Faccia (Gringo Starr, 16′ – 2019)
Sinopse: Um pintor com bloqueio criativo encontra inspiração com a chegada de um novo aluno. suas obras transcendem o tempo.
Mud (Gabriel Guaraciaba, 7′ – 2019)
Sinopse: Mud nasce do caos. É expurgo do desespero de uma realidade Brasil, 19. A realidade é tóxica, como se o ar que respiramos de um momento a outro virasse veneno. Afundamos em lama a cada dia que passa. Nas estantes, frutas e verduras brilham cada vez mais. É tão claro, está tão exposto, que quase não se pode ver. É como uma foto.
Perda (Laís Teixeira, 17′ – 2019)
Sinopse: Luísa passa por um momento de luto pela mãe. Enquanto revive memórias organizando as coisas dela, recebe uma ligação misteriosa e sente que tem uma chance de ter a mãe novamente.
O Poeta de Cordel (Ilka Goldschmidt, 30′ – 2019)
Sinopse: O cordel ecoa na praça os versos que por décadas foram esquecidos. Em 1954, Vicente Morelatto denunciou em poesia de cordel a história do incêndio da igreja de Chapecó e o linchamento dos quatro presos. Um tempo que muitos querem esquecer, mas que o tempo não esquece.
Por Elas: Crime de Terrorismo (Gringo starr, 15′ – 2019)
Sinopse: Num mundo onde nasce um homem para cada 1000 mulheres 2 homens são julgados pelo crime de serem homossexuais.
O que Aconteceu com o Brasil (Carlos Eduardo Pereira Carvalho, 7′ – 2019)
Sinopse: Em uma conversa de bar, dois homens debatem a história e política do Brasil. O diálogo e a gestualidade das mãos, assumem uma estética enérgica e metafórica que revela nuances ideológicas dos personagens. O embate pela verdade reflete a polarização e as principais questões que assolam o Brasil. afinal ‘o que aconteceu com o Brasil’?
Quiméria (Violeta Sutili e Livia Aprá, 2′ – 2019)
Sinopse: Há águas que não matam a sede, e ainda assim vamos de encontro. após um dia de praia, ocorre a necessidade de descarregar, e com isso buscarmos o tormento bruxólico que há dentro de si. O filme “Quiméria” retrata a temática “bruxólica” inserida na região geográfica da ilha de Nossa Senhora do Desterro, ou Florianópolis, em Santa Catarina. A região é conhecida por seus contas e lendas de bruxas que vivam nas localidades.
Os Retratos (Amanda J. Campos, Juliana Naomi Eda e Vitor Duarte, 2′ – 2020)
Sinopse: Em um acampamento com os amigos, um jovem rapaz chamado Joe resolve fumar um último cigarro antes de ir dormir, porém ele acaba se perdendo na floresta e, com a chuva, se vê obrigado a buscar refúgio em uma cabana desconhecida.
Rubro (Gringo Starr, 15′ – 2019)
Sinopse: Dois irmãos procuram pela irmã desaparecida e acabam encontrando uma cabana misteriosa no meio da floresta.
O Salame Vai à Feira (Cassemiro Vitorino, 25′ – 2019)
Sinopse: O salame colonial, produzido pelos agricultores sem conservantes e aditivos químicos, não vai à feira. A produção do salame, um atributo de descendentes de italianos do interior do sul do brasil, é um saber fazer restrito aos encontros familiares. Neste filme, o alimento que sai da casa do agricultor vai para as mãos do chefe de cozinha e chega à mesa para uma partilha regada a afeto e memória.
O Silêncio Lá de Baixo (Pamella Araújo, 3′ – 2019)
Sinopse: Demi nada pela tela deixando rastros de azul e nanquim de formas inesperadas.
Sonhos da Isah: O Baú do Papai (João Ricardo Costa, 9′ – 2019)
Sinopse: Preparados para uma viagem no tempo? Embarque nesse baú de aventuras junto com Isah e seu pai! Além dos seus brinquedos favoritos: a dinossaura Dinorah e o robô Robobo, seja testemunha de acontecimentos que irão estimular o debate sobre as regras familiares desde a década de 40.

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Jorge Cruz Jr. é crítico de cinema associado à Abraccine e editor-chefe da plataforma Apostila de Cinema.

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