Sinopse: Metade de toda a vida marinha foi perdida nos últimos 40 anos. Em 2050, haverá mais plástico do que peixes nos mares. Diferente do que imaginamos nos últimos séculos, o oceano não é um lugar de recursos ilimitados, imune à mudança e ao declínio. Através de entrevistas com apaixonados ativistas, “Triste Oceano” desvela a história das mudanças em nosso oceano para defender a necessidade de preservá-lo.
Direção: Karina Holden
Título Original: Blue (2017)
Gênero: Documentário
Duração: 1h 16min
País: Austrália
Mal que Perdura
“Triste Oceano” é daquelas obras que traz a um público mais atraído por documentários sobre a Natureza do que questões sócio-políticos boa parte dos debates sobre algumas questões ambientais trazidas durante a 9ª Mostra Ecofalante de Cinema. A diretora Karina Holden acompanha um pesquisador marinho e uma fotógrafa (além de um surfista, com maior brevidade) na missão de traçar os caminhos do plástico nos oceanos, potencializados pelo consumo desenfreado deste produto que leva em média quatrocentos anos para se decompor.
É desesperador imaginar, tal como é verbalizado em um trecho do longa-metragem, que qualquer peça de plástico produzida pela Humanidade ainda circula no planeta. Descoberto após um processo de vulcanização da borracha pelo norte-americano Charles Goodyear (sim, isso mesmo que você está pensando), só passou a ser um produto em meados do século XIX. Ou seja, a primeiro peça de plástico produzia pelo Charlão dos Pneus, caso seguisse o fluxo natural de descarte pela Natureza, estaria na metade do processo de decomposição. Agora, imagina todo o plástico que você já consumiu ao longo da sua vida. Multiplique por oito bilhões. Você terá uma ideia do volume deste material que circulará durante a sua existência.
Isso faz com que o plástico seja encontrado nas zonas mais profundas dos oceanos e também nos organismos dos animais. No meio de uma montagem televisiva e um visual atraente, “Triste Oceano” traz um pouco desse sofrimento animal, descrito em narrações no melhor estilo Discovery Channel. Antes de ir a fundo no problema, ainda faz refletir sobre a maneira como a Humanidade vem exagerando na destruição da Terra e seus co-habitantes a troco de hábitos de consumo que precisam, com urgência, serem revistos. Na cena mais chocante do filme, o processo de extração das barbatanas dos tubarões prova como a busca pelo lucro máximo faz vítimas humanas e animais.
Isto porque, na Indonésia, esta parte do bicho é um produto de exportação. Todo o restante, a princípio, não tem serventia. O resultado é a devolução de centenas de tubarões mortos ao mar diariamente, em uma forte sequência do documentário. Com o agravante de, perto dali, comunidades de pescadores testemunharem o aumento da dificuldade em obter o alimento vindo dos mares por conta de uma atitude predatória e individualista, que não se digna sequer a perseguir algum benefício de terceiro com as mortes daqueles animais – que poderia ser comida a esse grupo. Ou seja, repensar apenas o consumo na ponta final ainda é muito pouco para avançarmos em questões ambientais.
Toda a trajetória de “Triste Oceano” é de troca: por vezes belas imagens do fundo do mar e toda a vida colorida ali envolvida, em outras chocantes momentos em que a otimização da captura dos bichos permite um sofrimento cada vez maior – e riscos de extinção direta ou pela quebra da cadeia alimentar. Uma forma de colocar todo o drama que o planeta passa, em uma área que corresponde a 70% de seu território e, via de regra, deveria ter a mínima intervenção da Humanidade. Faz isso com incríveis possibilidades visuais, bem trazidas por Karina Holden.
Confira aqui nossa cobertura completa da 9ª Mostra Ecofalante de Cinema.